Se um veleiro repousasse, na palma de minha mão, sopraria com sentimento e deixaria seguir sempre rumo ao meu coração. Meu coração, acalma de um mar, que guarda tamanhos segredos de versos naufragados e sem tempo. Rimas de ventos e velas, Vida que vem e que vai, a solidão que fica e entra me arremessando contra o cais.
Porto Solidão - (Zeca Bahia/Ginko)
Quando a era dos festivais parecia voltar, no início dos anos 80, através da Rede Globo, procurei acompanhar de perto (pela tv) aquelas emoções que quando criança, nos anos 60 não foi possível. Vibrava a cada programa do Festival MPB Shell/1980, especialmente quando chegou a etapa final. Grandes nomes de nossa música estavam sendo revelados. Um me chamava a atenção pelo potencial de sua voz: Jessé. Dava como certa sua vitória, com a interpretação da música “Porto Solidão” (de Zeca Bahia e Ginko). Porém, o resultado apontou em primeiro lugar “Agonia” (de Mongol), com Oswaldo Montenegro. Jessé receberia o prêmio de melhor intérprete.
O fluminense, de Niterói, Jessé Florentino Santos, ou simplesmente Jessé, que já havia gravado músicas internacionais com o nome de Tony Stevens, após o festival da Globo, começava a fixar seu nome no mural da fama. Chegou a gravar doze discos, com destaque para o álbum duplo “O sorriso ao pé da escada” e fazer shows por todo o país.
Certa vez eu estava na recepção de uma maternidade em Mossoró/RN, aguardando o nascimento de meu primogênito (Abrahão). Enquanto esperava fiquei lendo um mural que havia no local e lá tinha um cartaz anunciando show de Jessé na cidade, mais precisamente no ginásio da ACDP. Foi lá o único dele que assisti. Lembro de alguns detalhes: no início, todas as luzes se apagaram e nas potentes caixas de som ouviu-se sua voz ímpar entoar: “Concerto para uma só voz”. Logo depois, a pequena platéia que ocupava as arquibancadas foi convidada pelo próprio cantor para ocupar as cadeiras, praticamente vazias, que estavam em frente ao palco. Mesmo com o diminuto público, o artista deu tudo de si e realizou um grande espetáculo musical de quase duas horas.
Em 29 de março de 1993 perdemos Jessé. Ele foi vítima fatal de um acidente automobilístico na cidade de Ourinhos (SP) quando se dirigia para um show no Paraná. Nos deixou sem conseguir os louros da crítica especializada, porém com uma obra musical que estará sempre na lembrança dos que apreciam a boa música.
Quando eu residia na “Rua São João”, em Ceará-Mirim, já no final dos anos 80, costumeiramente aos sábados, para consumir duas ou três “cuba libres” colocava na vitrola, com volume máximo, os long plays de Jessé que eram apreciados também pela saudosa vizinha Dona “Bibina”, a matriarca da família Néri, que confessava ser sua fã. Pra sempre, Jessé!
Edvaldo Morais - Março/2010.
Fotos: Internet
Montagem: Edvaldo Morais