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"Engolimos de uma vez a mentira que nos adula e bebemos gota a gota a verdade que nos amarga." Denis Diderot

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Agruras de um mês de agosto e um oásis




"Esperando a condução, meu pensamento divagou... comprei bilhete para o céu, mas outro rumo ela tomou. A condução é minha vida... Conduzi-me Senhor, à estação do teu amor..." Começo esta postagem, nesse momento triste, citando esse trecho de uma canção do Pe. Zezinho, uma das preferidas da minha mãe. E é com muita dor e tristeza que comunico aos amigos e parentes o seu falecimento, ocorrido hoje (22/08/2016), às 14h50, no Hospital Walfredo Gurgel. O seu corpo frágil não resistiu a tantas complicações causadas pela pneumonia que lá ela contraiu quando foi para tratar de uma fratura do fêmur. É triste, mas é verdade. O seu corpo está sendo velado em sua residência, na Rua Rio Água Azul, nº 23 - próximo a Praça da Intendência -, e amanhã haverá missa de corpo presente às 16h e logo em seguida o sepultamento no cemitério Santa Águeda. Quero agradecer a todos pela força, carinho e atenção. "Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé." (2 Timóteo 4:7) – Eliel Silva 22/08/2016


Algumas vezes, quando nos falta o chão, pode ser porque algo em nós está atingindo as alturas em busca do céu. Tenho sentido isso nesses últimos dias. Aos amigos que procuram por notícias da minha mãe, eu quero dizer que o quadro dela no momento é muito grave. Àquela senhora que, apesar da idade e dos atropelos da vida, aparentava certa disposição, e muitos são testemunhas das suas caminhadas pelas ruas da cidade, seja comigo, com a minha irmã, ou com a cuidadora, pois bem, hoje incorporou uma paciente em estado crítico, num leito de hospital, onde contraiu uma pneumonia que, segundo os médicos, foi se agravando para outros órgãos. Nós, familiares, estamos com a consciência tranquila no que diz respeito aos cuidados e procedimentos que sempre dispensamos a ela, claro que, dentro das possibilidades de cada um de nós. Após sofrer uma queda, dentro de casa, a levamos para o hospital, como muitos já sabem, e como o problema (as dores e sem poder andar) permaneceu, como o próprio médico recomendou, lá retornamos, onde foi feita uma avaliação mais precisa e constatada fratura do fêmur. Daí o encaminhamento para o hospital Walfredo Gurgel, onde ela permaneceu por cinco dias no corredor, sendo transferida para um anexo do hospital João Machado, onde se constatou uma pneumonia. Diante do agravamento do problema, transferiram mais uma vez a minha mãe para o Walfredo, onde há especialistas nessa área. Acabei de visitá-la, onde pude chegar bem perto dela cochichar no seu ouvido palavras de conforto e lhe pedir para ficar em paz (se é que isso é possível) e que fosse feita a vontade de Deus. Bem sabemos como anda a situação do atendimento nesses hospitais públicos, mas não vamos procurar culpados num momento desses, isso é um assunto delicado, prefiro chorar a nossa dor e pedir a Deus alento para as nossas vidas e misericórdia para com essa sua serva, mulher franciscana e que sempre foi tão igrejeira. Perdoem-me os mais patriotas, posso estar sendo egoísta, pensando apenas em mim, mas agora eu já nem mais lamento as medalhas que o povo brasileiro vem deixando de conquistar nas olimpíadas, lamento a perda da nossa dignidade de seres humanos, isso sim, é puro ouro. Agradecemos a todos pela força e pedimos orações. (Eliel Silva – 19/08/2016)


"Agora eu sei
O que é uma flor desesperada..."

("Paisagem da Flor Desesperada" - Ismael Semente / Gravação: Zé Ramalho)
Eu sentia uma angústia danada toda vez que por ali passava e via aquilo tudo num desespero silencioso. E me admirava da resistência daquela e de outras plantas daquele jardim. Foi uma das últimas que plantei, antes das portas se fecharem de vez. Símbolo de resistência, como tudo ali naquele lugar, ela se deixou levar pelo tempo. Finalmente com a casa restaurada, muito bela por sinal, chega o grande dia, melhor dizendo, a grande noite. E noite de festa. O momento é nobre, a razão é justa. Revejo velhos e bons amigos. Adentro o seu espaço e contemplo o seu moderno jardim, que já não lembra tanto aquele de tempos atrás, sob os cuidados de seu Francisco (de saudosa memória). Aliás, depois dele, um outro Francisco por ali passou, e fez o que pode, mas não demorou, foi para outra casa. Então eu decidi, aos poucos, e do meu jeito, contando com os poucos recursos que dispunha ali, dar seguimento aos cuidados daquele místico jardim. Mas a noite foi mesmo de festa. Teve música e poesia (se faltou o pão, este nos veio em forma de contentamento pela volta daquele espaço). Teve pronunciamentos (o que é de praxe), apresentações e exposição. Num canto da casa, calado feito pedra, eu observava tudo. E não me cansava de admirar a beleza daquele lugar. Realmente ficou muito linda a nossa casa do saber. Deixei que a solenidade se encerrasse e então ao sair fui até aquela plantinha, teimosa, querendo brilhar também naquela noite em meio a tantas estrelas, e em tom de brincadeira cantei baixinho pra ela: “Boa noite, rainha, como vai?!” Mais sério indaguei: me diga, o que você fez para resistir tanto tempo sem os meus cuidados? Eu que por esses dias me desesperei, gritei, esbravejei, escrevi cartas para autoridades que nunca foram postadas, quase morri de tanta dor... Simples assim, ela me respondeu: em silêncio, fiquei aqui a ti esperar! (Eliel Silva - 12.08.2016)


Boa tarde amigos e amigas! Gostaria de agradecer, em meu nome, em nome da minha irmã, do meu irmão e de toda a família o apoio que a gente vem recebendo de todos vocês, desde aquela minha última postagem relatando o ocorrido com a minha mãe. Quero tranquilizar a todos e dizer que, apesar dela ainda se encontrar no corredor do hospital, está sendo cuidada, na medida do possível, e aguardando uma vaga na enfermaria que acreditamos ser resolvido esse problema até amanhã. Vocês não imaginam a força que nos deram com toda aquela manifestação a partir do meu relato: mensagens, telefonemas, curtidas... solidarizando-se e/ou indignando-se com a situação. Lamento, infelizmente, o silêncio, a frieza e a insensibilidade de alguns que, por razões que desconheço, ainda insistem em ser nosso "amigo" de face. Quanto ao quadro da minha mãe, sabemos a quantas anda a saúde do povo brasileiro, e, como se diz no popular: "não se pode descobrir um santo pra cobrir outro". Nesse caso, só nos resta mesmo aguardar e ter fé em Deus. Dona Suzana é forte. Ela vai superar mais essa provação. Aproveitando o clima de olimpíadas, gostaria de dizer a vocês que se dependesse de mim, todo ouro ficaria com esse povo do nosso Brasil, não necessariamente os atletas, mas essa gente batalhadora que luta pela sobrevivência e ainda consegue ser solidária. Obrigado mesmo. Viva Jesus! (Eliel Silva - 11/08/2016)

***
Agosto, eu estava certo. Você me mete medo, me atormenta e me apavora. O sufoco que temos passado, desde o seu primeiro dia, quando a minha mãe sofreu uma queda e de lá pra cá tem sido um sofrimento para ela e para nós não estava marcado no calendário. Hoje, finalmente o diagnóstico: fratura no fêmur. E então começa a nossa via crucis. Encaminhada para o Walfredo Gurgel, após os primeiros procedimentos, a constatação de que a minha mãe, do alto dos seus 84 anos de idade, ficará internada e aguardará uma cirurgia. Pior, sem leitos disponíveis, ficará no corredor. Pior ainda: não havia maca. E lá estava a minha pobre mãe, sendo levada por mim para um lado e para o outro numa cadeira de rodas. Indaguei de um profissional como ficaria a situação dela, com fratura no fêmur, ter que ficar no corredor numa cadeira de rodas. A resposta que ele deu me soou tão desconfortável que me doeu como uma fratura na alma. Ele disse: é o que temos! E começou a por a culpa vocês sabem muito bem em quem. Sinceramente, não sei como existe gente que se aproveita da culpa de outros para tratar as pessoas com tanta frieza, achando talvez que agindo assim fica isento de pecado. E aí o cara me entrega a papelada e diz simplesmente: pronto, pode ir pro corredor! Falei: vamos lá, mamãe, vamos pra manjedoura. Deus está vendo. Nisso me encontro com um maqueiro, moreno, alto, que em nada me pareceu um anjo, exceto o seu silêncio, mesmo assim resolvi arriscar: amigo, a minha mãe está com fratura no fêmur e não vai suportar ficar numa cadeira de rodas por muito tempo. Veja se o senhor consegue uma maca para ela. Com poucas palavras ele me disse: vou ver se consigo. Não deu dez minutos e lá vem um anjo, alto, moreno, calado, com uma maca. Foi a nossa sorte. Agradeci imensamente e ainda prometi a ele: quando for a Ceará-Mirim, me procure pra gente comer uma rapadura. Talvez inconscientemente naquele momento eu quis adoçar o amargor daquela situação. Me esqueci que nem mesmo rapadura temos mais por aqui. Deus dê força a minha mãe, para segurar mais essa barra. Abençoe minha filha que está lá com ela, e a todas as pessoas envolvidas nessa luta. "Por tudo demos graças a Deus!" Amém. (Eliel Silva – 08/08/2016)