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"Engolimos de uma vez a mentira que nos adula e bebemos gota a gota a verdade que nos amarga." Denis Diderot

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Velhas lembranças


“Hei! Senhor Tocador de Tamborim, toque uma canção para mim,
Não estou com sono e não há lugar onde eu possa ir.
Hei! Senhor Tocador de Tamborim, toque uma canção para mim,
Na aguda manhã desafinada eu o seguirei.”
(Mr. Tambourine Man – Bob Dylan)


Poema para David

O ano de 2006 começou pondo fim
a uma história de amizade e alegria
Crueldade do destino
Fatalidade, talvez...
Seja como for a sentença foi dura demais

(...)

Você tocava para crentes e ateus
E sabe Deus,
Sem precisar ser bacharelado em música
Com a emoção à flor da pele
Encantava corações

Não é porque você se foi
Mas sempre achei o amigo mais sincero
Incompreendido tantas vezes
Chegava a ficar de fora de algumas festividades
Engolia a dor, ou melhor, a fazia de tira-gosto
E no dia seguinte tudo seguia seu curso normal

Hey, David
Aqui está tudo chato demais
Pega esse instrumento e vem pra cá
Vamos cair na estrada
E fazer o que temos de melhor
Nas ondas da Jovem Guarda
Sob as luzes de um disco voador
“Vamos tirar um som”
Vamos curtir o momento
Que a vida é curta demais...

Eliel Silva

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Aos 20 e poucos anos

“Quando eu te amei pela primeira vez
Tudo era poesia
A juventude andava em nossos corpos
Em nossa fantasia
E eu te amei como um menino pode amar
E me perdi em sonhos.”
(Mais Uma Vez – Mauricio Duboc / Carlos Colla)
Tudo de Nós Dois
(Aconteceu num sábado)

Minha “amada amante”,
enfim nós dois...
Como a gente tanto queria
aconteceu
Eu e você
naquele fim de tarde
(um outro fim de tarde)
e dessa vez de uma forma tão intensa
que até hoje não consigo descrever
Te desejei por todos esses anos
mas de uma forma tão simples
tão humana e tão serena
Um encontro de mentes
um encontro de amantes
que se buscam para uma vida melhor
E aconteceu de uma forma tão forte
corpos e mentes
o nu de nós dois
tudo exposto
nenhuma dúvida
amor intenso...

As janelas abertas
naquele segundo andar,
naquele ambiente tão simples,
dando a visão de duas igrejas
E nós ficávamos como um ponto,
um ponto de referência
de um futuro talvez.

Eliel Silva – janeiro/1985
Imagem: Internet

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Ao meu pai


“Todos os dias é um vai-e-vem
A vida se repete na estação
Tem gente que chega pra ficar
Tem gente que vai pra nunca mais
Tem gente que vem e quer voltar
Tem gente que vai e quer ficar
Tem gente que veio só olhar
Tem gente a sorrir e a chorar...”
(Encontros e Despedidas –
 Milton Nascimento / Fernando Brant)


 "Seu" Daniel

O homem da estação

Quem haverá de decifrar os segredos e mistérios daqueles trilhos?! Trilhos que formavam trilhas para tanta gente. Quantas pessoas por ali passaram, acomodadas num vagão de trem, na ânsia de chegar a destinos tão diversos. E aquele homem incansável, correto em sua missão, todo santo dia estava ali, com sol, com chuva, no sereno, cumprindo a sua obrigação. Sua função? Guarda Chaves. Mas que chaves esse homem guardava mesmo? As chaves de acesso aquele trem, carregado de tantas vidas. Quantos encontros e quantas despedidas naquela estação aquele homem presenciou. Quanta correria na lida do dia a dia.
Até parece uma ficção muito bem escrita, mas é uma história real. O tempo e o progresso, se é que se pode chamar essas mudanças de progresso, se encarregaram de virar a página. E o capítulo seguinte parece desolador. A estrada de ferro, a estação, aquele homem... Fica difícil hoje encarar tanta ruína. Mas o que fazer, se a vida tem dessas coisas?!
Estação Ferroviária de Taipu, 
onde meu pai trabalhou por muitos anos

Agora resta a “seu” Daniel, do alto dos seus 91 anos de idade, completados nesse dia 22 de novembro de 2012, encarar os desvios dessa estrada e esperar o sinal do Mestre maior que o guiará ao destino. Só que hoje a sua lucidez nos faz muita falta. Mas, há que se entender, há que se aceitar, pois se a locomotiva daquele tempo, com ferro e aço em sua composição, já não tem força de prosseguir a jornada, imagine você, meu caro Daniel, com esse seu coração de porcelana e alma de um cristal tão delicado. É chegada a hora de estacionar. E com isso vão-se as lembranças do passado, vai-se o vigor de uma juventude tão distante. Imagens de toda uma vida se misturam em sua mente formando um emaranhado de coisas hoje indecifráveis. É o sinal do tempo em você. Sempre que vejo o nosso lar ameaçado, penso na sua sabedoria muito simples que sempre dava um jeito nas coisas.
Grande “profeta” Daniel, parabéns pelos seus 91 anos de idade, grande parte deles dedicada a sua gente. E obrigado por tudo que aprendi com você.
A vida é mesmo assim. Ela é uma grande estação. Lugar de encontros e despedidas. 
Texto e Fotos: Eliel Silva