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"Engolimos de uma vez a mentira que nos adula e bebemos gota a gota a verdade que nos amarga." Denis Diderot

segunda-feira, 31 de maio de 2010

À boquinha da noite



Viva, viva, viva a sociedade alternativa.” Menos, Raul, menos! A gente sabe, e você sabia muito bem que isso é uma utopia. Seria como a democracia conquistada ao longo de tantos anos. Uma vez que se consegue, é preciso saber administrar. Há poucos dias eu estava comentando com um amigo meu do que seria da nossa gente, da nossa cultura, não fossem esses eventos alternativos que fazemos de vez em quando aqui em nossa cidade. “Na marra”. Como se diz no popular. Nesse perfil se encaixa o projeto Boca da Noite, idealizado por Múcio Vicente e sua turma. O que aconteceu nesse domingo, 30 de maio, foi a 7ª edição. E para mim foi a primeira que prestigiei, sou réu confesso. E Múcio sabe disso. E te digo, cara, não pretendo perder mais nenhum.
Múcio Vicente fazendo a abertura do encontro

Pelo título bem sugestivo, imaginei que fielmente aconteceria na “boquinha da noite” e por isso mesmo às 17h30 eu já estava lá. Encontrei a turma em fase de arrumação da estrutura. Como eu estava bastante cansado, vindo de uma maratona de festas nesse final de semana: 3º Encontro nos Embalos da Jovem Guarda, na sexta-feira, e III Tributo a Bob Marley, no sábado, eventos que fiz questão de comparecer a todos, então resolvi voltar pra casa e dar um tempo, só então retornar ao local. Às 18h30, sou meio detalhista, e as vezes “britânico” também, eu já estava de volta a praça das Cinco Bocas. Mas ainda não havia começado. Sobre isso brinquei com Múcio depois. Mas eu entendo muito bem o que é se preparar um evento. O corre-corre, os imprevistos... Pouco depois chega o “chefão”, não numa limusine, mas em sua bicicleta, e aí a coisa engrena.
Grupo de Teatro do bairro Nova Descoberta
A abertura do evento ficou a cargo de um grupo de teatro do bairro de Nova Descoberta, que executou alguns números de dança com coreografia ao som de sucessos do momento, inclusive o “rebolation” (por que me persegues?!).

Misael Neto
Na seqüência Misael Neto, músico que vem se destacando nesse cenário em nossa cidade, deu um show de interpretação dos mais variados estilos musicais. Do pop rock a MPB, e nas canções românticas o cara mandou muito bem, mostrando muita segurança. Seguiu-se a maratona musical com a apresentação do também eclético Fabiano

Fabiano

As apresentações eram sempre intercaladas com sorteio de brindes para as mães alí presentes.
Entrega dos brindes
Para coroar a festa, a estrela da nossa canção, Didé Rodrigues, cantora cearamirinense que já tem um CD gravado com clássicos da MPB, chegou e de cara já mostrou a belíssima balada “Onde Deus Possa Me Ouvir”, do músico mineiro Vander Lee (que agora em junho estará em Natal, no TAM, para o Projeto Seis e Meia).

Didé Rodrigues
Pois é. “Onde Deus Possa Me Ouvir”, mesmo não sendo intencional, pareceu um recado, ou quem sabe um apelo. No alto da praça das Cinco Bocas, sentindo o “cheiro do povo”, coisa tão necessária para a classe artística e outros segmentos da sociedade (a política, por exemplo), sentindo-se talvez bem mais perto de Deus, é muito mais provável que Ele possa ouvir a mensagem.
Músicos que acompanham a cantora

Didé, com seus fiéis escudeiros, ainda cantou muitas outras pérolas da MPB, sempre de modo brilhante e intimista, fazendo o povo “chegar junto” e cantar com ela.
Temas de novelas não há como não despertar no público a veia de cantor de cada um, mesmo que seja em momentos muito especiais como aquele.

Palhaço Tito

E para alegria de todos, principalmente das crianças que, sem sombra de dúvida tinha mais de quinhentas alí, aquele que (embora combinado) foi anunciado que havia se retirado do local, aparece no meio da platéia com as suas travessuras, contagiando a todos e pondo mais alegria na festa. O palhaço Tito em carne, osso e muita... muita simpatia.

Vovô, sempre em ação
Para encerrar, uma boa batucada dos alunos do professor “Vovô”, mostrando a magia da percussão.
Artistas da terra "mostrando serviço"
Pois é, meu camarada. Sou uma pessoa comum, porém amante da arte e dessas manifestações populares. Motivo pelo qual tenho feito o possível para participar, ou pelo menos prestigiar todos esses eventos que envolvam arte e cultura. Faço isso de coração e por paixão. Há quem precise fazer o mesmo, até por uma questão de, aí sim, obrigação. Tudo passa muito depressa e pode não haver mais tempo de se fazer algo por essa gente. É preciso comparecer para “aparecer”.
Mas ainda resta uma esperança quando a gente vê, como a Didé comentou, “o artista se manifestando e buscando a ajuda de outros artistas para ver a coisa acontecer."
E como diz a letra da canção daqueles mineiros do Clube da Esquina: “os sonhos não envelhecem.” Ainda bem que os sonhos não tem prazo de validade, porém os discursos sim, esses com o tempo passam não mais a surtir efeito. Pode não parecer, mas cultura é coisa muito séria. Não é, palhaço Tito? Até a próxima!

Crédito das fotografias: Eliel Silva

sábado, 29 de maio de 2010

Reggae no fim de tarde

"Não tocamos para agradar os críticos.
Tocamos o que queremos, quando queremos
e o quanto quisermos. E temos motivos para tocar."
 (Bob Marley)

III Tributo a Bob Marley - Ceará-Mirim/RN

Mais um encontro de admiradores da música do Bob Marley, nesse final de tarde desse sábado, 29 de maio de 2010. Abaixo alguns registros fotográficos dessa festa que cresce a cada ano, em todos os aspéctos.

Acervo do professor Carlos Henrique

Abertura da festa com a banda NaturalMente

O músico cearamirinense Alexandre Lacerda, que no ano passado também teve uma participação no evento, entre um tributo e outro passou por problemas de saúde, felizmente contornado, esse ano também se fez presente e dessa vez se apresentando com o seu filho Felipe - ao que o blogueiro João André comentou: "Foi o melhor momento da tarde!" Valeu, Alexandre! Saúde e paz...
Pai e filho

Dia especial para João André: aniversário do blogueiro. E ele aproveitou a magia da festa para expandir a sua mente para as mais variadas culturas. Aqui, ao lado dos amigos Eliel Silva e Edvaldo Morais.

Presença em todos os tributos ao mestre do reggae, Marlon Onassis, o pequeno Bob Marley mais uma vez encantou a todos os presentes.

Fãs de Bob Marley e do movimento, levantando a bandeira, literalmente.

Aos cuidados do professor Carlos Eduardo, o acervo do Goto Seco. Esse movimento que teima (no bom sentido) em redescobrir conceitos e derrubar preconceitos.

Monte Sião Sistema de Som (Radiola Reggae)

Banda Soul Reggae

Público que se amplia a cada ano

As pessoas simplesmente viajam
sob os ensinamentos do mestre.

Crédito das fotografias: Eliel Silva e Bel Silva

Foi bonita a festa, pá


"Foi bonita a festa, pá
fiquei contente
'inda guardo renitente, um velho cravo para mim.”
(Tanto Mar – Chico Buarque)

 
3º Encontro Nos Embalos da Jovem Guarda
 
"Ah, que bom seria se voltassem os tempos antigos
Dias tão felizes que passei há dez anos atrás
Em meu quarto eu passava a vida
Mergulhado em notas coloridas
Eu era feliz e não sabia
Ouvindo os Beatles a cantar..."
(Como há dez anos atrás - Renato e Seus Blue Caps)

Os embalos daquela sexta-feira à noite...
Felipe, da banda The Black Cats (de Ceará-Mirim)

Participação de Erivan Lima (organizador do evento)

Banda MobyDick (de Natal/RN)

Participação de Giancarlo Vieira (da banda Os Grogs)

Vitoriano Roberto (outra participação)

Amantes da Jovem Guarda

Público fiel

Crédito das fotografias: Eliel Silva e Bel Silva

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Quincas Berro d'Água


Quincas é o rei da boemia


André Dib

Da literatura para o cinema, Quincas Berro d'Água, que estreou nos cinemas de todo o país na semana passada, inaugura uma nova fase na carreira de seu diretor, Sérgio Machado (Cidade alta). É a primeira vez que ele lida com uma produção tão cara, união de forças entre Petrobas, Globo Filmes, Miravista e Videofilmes, com tantos atores em cena e sequências complexas. É também sua estreia no cinema de fantasia, que apresenta a realidade social com um pé no pastelão e outro nas farsas italianas, de personagens que, apesar de tratados com carinho, beiram o ridículo.
Apesar da novidade estética, Quincas se apresenta coerente com os interesses pessoais do diretor, que desdobra com propriedade temas como o amor, a amizade e a vida dura, suja e invisível de habitantes do underground soteropolitano. Desta vez, em contraste com o da classe média em busca de ascensão, representada pela família do recém-falecido protagonista, interpretado por Paulo José, grande estrela do longa. No que deve ter sido um dos maiores desafios paraum portador do mal de Parkinson, José utiliza de sutilezas para interpretar o morto. Expressões sutis à parte, ele não move um músculo sequer durante o filme.
A ação se dá em menos de 24 horas, do momento em que a família recebe a notícia de que Quincas falecera, até morrer pela segunda vez, no mar. Em vida, Quincas foi funcionário público exemplar e levava monótona vida de pai de família, até que decidiu chutar o balde e cair na gandaia. Agora morto, parentes esperam não só restituir a imagem do patriarca, como ganhar dividendos sociais com o episódio. Para a sociedade baiana, Quincas era comendador na Itália, não o notório bebum pendurado em bordéis.

Fonte: Diário de Natal - Muito
Edição de quinta-feira, 27 de maio de 2010
Foto: Christian Cravo / Getty Images

terça-feira, 25 de maio de 2010

Domingo feliz


Os apresentadores do Jovem Guarda Especial:
Edvaldo Morais e Eliel Silva. Nossos amigos:
 o comunicador Etevaldo Alves e o promotor
de eventos Erinho Seixas

Ao longo desses 150 programas (na verdade já são 153), nós que fazemos o Jovem Guarda Especial, que é levado ao ar aos domingos a partir das 8 da matina, pela 87 FM, sempre procuramos primar pela qualidade do conteúdo oferecido aos nossos ouvintes. São canções inesquecíveis, que foram sucessos, ou não, mas que de certa forma estão guardadas nos corações mais apurados e apaixonados. E isso tem arrebanhado um número bem expressivo de pessoas, de todas as idades, para a nossa legião de fãs da boa música. Vez em quando, no momento oportuno fazemos divulgação de eventos realizados em nossa cidade que na verdade só enriquecem a cultura local. Domingo passado o estúdio da 87 FM ficou pequeno para tantos visitantes ilustres: Erivan Lima (Erinho Seixas), Etevaldo Alves, Carlos Henrique, Francisco Navegante, “Feijão Branco”, Paulo Costa e Nenêm. Alguns passaram por ali apenas para nos fazer uma visita, outros para divulgar os seus eventos.

Etevaldo Alves, com seu estilo "falando francamente",
e matando saudades na 87 FM

Foi o caso do Erinho Seixas que na oportunidade fez a divulgação do III Encontro Nos Tempos da Jovem Guarda, a realizar-se na próxima sexta-feira, 28 de maio, às 21h, no Centro Esportivo e Cultural. Para animar a festa lá estarão as bandas The Black Cats, de Ceará-Mirim, e Mobydick, de Natal. No repertório, claro, muita jovem guarda e outras pérolas da música internacional da década de 60.

Professor Carlos Henrique, encurtando
a distância Jamaica/Ceará-Mirim

No dia seguinte, sábado, dia 29, no mesmo local, acontecerá o III Tributo a Bob Marley em Ceará-Mirim, a partir das 16h, com as bandas Naturalmente e Soul Reggae, tendo ainda as participações de Radiola Reggae (Monte Sião Sistema de Som) e Marlon Onassis (o pequeno Bob). Um dos organizadores do evento, o professor Carlos Henrique também na oportunidade falou sobre esse encontro anual de fãs do músico e deu uma verdadeira aula de história, esclarecendo alguns detalhes da cultura jamaicana. E esse ano o tributo terá uma novidade: um ônibus fará a linha Natal/Ceará-Mirim/Natal, conduzindo os participantes da festa. Para maiores informações é só acessar o blog do Goto Seco: http://www.gotoseco.blogspot.com/. Vamos conferir!
Brothers in arms
Como forma de incentivo, nosso amigo ainda disponibilizou um ingresso para sorteio que, não sendo possível fazer naquele momento devido a um problema na rede telefônica da emissora, agora a gente faz através do blog Retratos & Canções. Portanto ganhará o ingresso quem primeiro nos passar um e-mail, ou mesmo através do espaço “comentários” e em poucas palavras falar da importância desses eventos alternativos que são realizados em Ceará-Mirim que para muitos já é considerada como a cidade dos tributos. Aguardo a sua participação caro leitor e cara leitora. E desde já, obrigado pelos 5.000 acessos ao nosso blog "velho de guerra".
Nosso amigo Francisco Navegantes

Crédito das fotografias: Carlos Henrique, Francisco Navegantes, Edvaldo Morais, Etevaldo Alves e Eliel Silva

sábado, 22 de maio de 2010

A MONTANHA

"Na linha do horizonte
Do alto da montanha
Por onde quer que eu ande
Esse amor me acompanha
A luz que vem do alto
Aponta o meu caminho
É forte no meu peito
Eu não ando sozinho..."
"Fé" (Roberto e Erasmo Carlos)

Uma das prioridades da ação evangelizadora na Arquidiocese de Natal é difundir os santuários católicos existentes no Rio Grande do Norte como lugares de evangelização. Um deles é a gigantesca estátua de Santa Rita de Cássia dos Impossíveis, que está em fase de conclusão no Monte Carmelo na cidade de Santa Cruz/RN, distante 120 kilômetros da capital. Quando estiver pronta medirá 42 metros de altura, tornando-se a maior de toda a América Latina. (O Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, mede 38 metros).
Tivemos a oportunidade de estar no local neste sábado, 22/05, dia em que a principal cidade da região do Trairí celebra sua padroeira Santa Rita. A cinco quilômetros da cidade já avistamos o monumento. Romarias e peregrinações de várias partes do RN, e até de estados vizinhos, chegavam a todo instante. A cidade ficou pequena pra tanta gente que foi participar do encerramento dos festejos, inclusive caravana de Ceará-Mirim. Presença de muitos religiosos (dois bispos e diversos padres), autoridades civis (leia-se políticos), romeiros e peregrinos que acompanharam missa, procissão, quermesse (com leilão de garrotes, carneiros e galinhas ao meio dia em ponto), barraquinhas, parque de diversões, festival de prêmios e outros atrativos característicos nas festas de padroeiras.
 A estrada que leva ao Monte Carmelo ainda está em fase de pavimentação e a estrutura a ser inaugurada não foi concluída, motivo pelo qual a programação foi toda cumprida no entorno da Matriz de Santa Rita. Após a procissão, o Governador do Estado, Sr. Iberê Ferreira de Souza, que é de Santa Cruz, em pronunciamento, anunciou autorização para a conclusão do calçamento que dá acesso ao monte, já definindo a data de inauguração.: 27 de junho próximo. Driblando os pequenos obstáculos de uma estrada de barro, paralela as obras, conseguimos chegar na “baratinha branca” no topo do Monte, “aos pés” da estátua de Santa Rita, onde a visão da cidade e parte da região do Trairí é fantástica. Podemos concluir que, quando estiver funcionando todo o complexo turístico-religioso, que inclui restaurantes, lanchonetes, lojinhas, altar para celebrações e outros equipamentos, o Monte Carmelo em Santa Cruz tem tudo para ser um dos grandes centros de peregrinação em nosso Estado, como acontece no Juazeiro do Norte e Canindé (CE) e em outros santuários espalhados pelo Brasil.
Edvaldo Morais (Colaborador do Blog)
Edvaldo Morais no topo do Monte Carmelo
Centro de SANTA CRUZ/RN, ao fundo Igreja Matriz de Santa Rita de Cássia
Fotos.: Francisca Lopes

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Meu pequeno amigo


"Um dos traços mais lamentáveis
da minha personalidade
é a facilidade com que esqueço
tudo o que leio.
Mas tenho uma atenuante: é próprio
dos poetas só guardar
na memória o que os comove."
(Ferreira Gullar, em Resmungos)

Ainda hoje tenho um cachorrinho de borracha que eu ganhei de uma amiga da família, quando eu completei um ano de idade. E olha que isso faz tempo! Como Lulu (esse é o seu nome, favor não confundir com o apelido de algum conhecido!) atravessou esses anos quase que intacto, e porque só ele em meio a tantos outros brinquedos escapou da ação do tempo e das travessuras do seu dono, confesso que para mim isso também é um mistério. Se eu pudesse hoje faria uma regressão para acompanhar a nossa relação de amizade para saber o porque desse apego. Freud explica? Talvez. O fato é que ao longo da minha vida fui “colecionando” cachorros de verdade.
A primeira aquisição foi uma cadela chamada Dogueza, que teve vários filhotes e um deles a gente resolveu criar também: o Dog. Esse um dia foi atropelado por uma camionete dirigida por um malvado que nem sequer tentou livrar o pobre cão. Na minha ânsia de socorrê-lo, ao segurá-lo, fui mordido por ele que, na sua dor já não sabia mais distinguir carinho de agressão. O homem que matou meu cachorro hoje vive “gagá”, numa completa solidão. Dogueza, a mãe de Dog morreu velhinha, de morte natural. De lá para cá foram muitos cães, todos amigos de verdade. Veludo, uns outros Dogs, Russo e hoje o Bono. É certo que nenhum deles chegou a ser um Rin-Tin-Tin ou uma Lassie, mas para mim foram muito importantes.


Mas voltando àquele primeiro, o inanimado. Certa vez um tio meu, que costumava levar vida cigana, estava morando no sertão e veio nos visitar. Ele me pediu uns brinquedos que eu não quisesse mais para levar pros seus filhos. Fiz uma triagem nas minhas tralhas e lhe dei uma porção de brinquedos. Ficou um saco (coisa de sertanejo) cheio deles. No dia dele pegar o trem de volta pra casa, me bateu uma vontade de espiar o conteúdo do saco. E para minha surpresa lá estava Lulu, meu cachorrinho de borracha. Como ele foi parar no meio daqueles trecos eu não sei, mas com certeza não fui eu quem autorizou. Disfarçadamente retirei o cachorrinho do saco e escondi. E assim Lulu “sobreviveu” àquela viagem sem volta rumo ao sertão potiguar. Hoje, mesmo velhinho, com o rabinho roído, coisa de um Dom Ratão ou de uma Dona Ratazana, bichos que as vezes aparecem também para nós, em forma de gente, para nos atanazar a vida. Com sua estrutura desbotada pelo tempo, Lulu ainda está comigo. Esse amigo calado acompanhou a minha trajetória de vida: conquistas, derrotas e algumas frustrações ao longo de quase um século. Talvez o leitor ao término desse relato ache tudo isso uma bobagem, com tanta coisa atual pra se comentar. E eu concordo. Mas por isso mesmo, num tempo em que os amigos estão ficando cada vez mais escassos, eu precisava um dia falar sobre esse meu companheiro de infância. Como diria Ban Ban, do BBB: "faz parte!"

Fotos: Arquivo do autor

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Canecão

O show não pode parar

Governo e artistas procuram uma saída para que a casa de shows Canecão volte a funcionar

Caio Barretto Briso e Wilson Aquino

O mais famoso palco da música do Brasil silenciou. O Canecão, casa de shows onde Roberto Carlos fez sua primeira apresentação solo, onde os Doces Bárbaros marcaram época, onde Chico Buarque não abre mão de cantar em todas as suas turnês, localizado em Botafogo, no Rio de Janeiro, foi lacrado na segunda-feira 10. O imóvel onde o espaço funcionou durante 43 anos é público, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que lutou na Justiça durante 39 anos para retomá-lo porque jamais recebeu pagamento de aluguel do seu fundador, o empresário Mário Priolli. Não se questiona o direito da UFRJ em retomar o local. Mas transformar o espaço em um centro cultural, como pretende a universidade, é pôr fim a um ícone da expressão musical brasileira. E é este o foco central: como manter o Canecão funcionando e respeitar, ao mesmo tempo, a gestão do legítimo proprietário, a UFRJ?
A classe artística está inconformada e vai pressionar a UFRJ para que o lugar mantenha sua ligação com a música. “Fechar o Canecão equivale a fechar o Olympia, em Paris”, diz Martinho da Vila, o primeiro sambista a tocar na casa, em 1972. Para Ricardo Cravo Albin, um dos maiores pesquisadores da MPB, a importância do Canecão ultrapassa a função de simples casa de shows. “É um ponto de afeto e referência da cidade. Precisa ser preservado”, resumiu. A cantora Miúcha, que gravou lá, em 1977, um disco histórico com Vinicius de Morais, Tom Jobim e Toquinho, afirma que “o Rio morre um pouco sem o Canecão”.
Roberto Carlos, em show realizado no Canecão (1970)

Fonte da matéria: revista ISTOÉ, 19MAI/2010 - Nº 2114