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"Engolimos de uma vez a mentira que nos adula e bebemos gota a gota a verdade que nos amarga." Denis Diderot

quinta-feira, 30 de maio de 2019


VIAGEM

Por aqui, decerto, quase ninguém me vê. Mas os carros passam, as pessoas passam. Eu observo a cena. Fico quieto agora, mas tinha acabado de fazer uma queixa às autoridades. Não gosto de ver o que foi feito para o benefício do povo, sendo destruído por esse mesmo povo. Gente delinquente juvenil. O clima está gostoso e a tarde segue serena. Há livros por todas as estantes. Capas coloridas me mostram um cavalo encantado, um urso preguiçoso, e as pessoas não param de correr. De repente, uma sirene soa forte, apitos e um carro da polícia segue em velocidade. Aqui no meu mundo a vida não parece ter pressa. E é assim que eu gosto. Leio a introdução do livro On The Road - Pé na Estrada, e é uma viagem prazerosa. O carro da polícia insiste na sua missão. Há um reboliço lá fora. Aqui dentro é tudo um sonho. Se um ônibus para em frente e me mostra um número, me bate a vontade de jogar no bicho. Vai que eu acerte a milhar e ganhe uma boa grana para sair do aperto!... Lápis coloridos me convidam à fantasia. Feito um arco-íris, eu me estenderia de uma parte a outra da cidade, e mesmo sem um pote de ouro no final da estrada colorida, daria um jeito de levar todo o meu amor. Um bar e uma cerveja aparecem na minha frente e são como um ponto. Pronto! Mudo de ideia. Vou cair na farra. Mas os tempos mudaram, e a saúde já não está tão boa. Melhor me aquietar. A chuva se recolhe lá fora, ficou apenas aquele friozinho. Não vou dizer o que seria bom fazer num dia assim. Eu já fiz de tudo nessa vida. Pra que rebobinar a fita? O tempo é um barco dentro de mim. Eu sou um oceano em extinção. Vou secar e os meus peixes criarão asas e partirão. Um dia existirá apenas a poeira. O vento forte irá me açoitar. Vou para um outro lugar. Mas haverá sempre um pouco de mim noutras vidas. Já é fim de mês. Maio acabou. (Eliel Silva - 30 de maio de 2017)

terça-feira, 14 de maio de 2019




Calvário Agora

Jesus havia encerrado seu expediente
Caminhava lentamente para a casa dos seus pais
De repente, numa esquina aparecem dois caras
Armas na mão, anunciam o assalto

O rapaz, calmamente, tenta argumentar que mais tarde
Eles podem se encontrar, os três, numa cruz
Mas "os mano" nada quiserem ouvir


Nesse momento, soa a sirene de um camburão
Os bandidos se mandam, apavorados
Jesus ficou sozinho, dessa vez, já preocupado
Os homens da lei o interrogam
Achando ele meio suspeito, de pele escura...


Três dias já se passaram
E até aqui não se ouviu falar em ressurreição. 😔
(Eliel Silva - maio de 2019)