“A solidão é fera, a solidão devora.
É amiga das horas prima irmã do tempo,
E faz nossos relógios caminharem lentos,
Causando um descompasso no meu coração.”
(Solidão – Alceu Valença)
É amiga das horas prima irmã do tempo,
E faz nossos relógios caminharem lentos,
Causando um descompasso no meu coração.”
(Solidão – Alceu Valença)
Brasil: país do samba, futebol e depressão
Pesquisa recente publicada pelo Instituto de Psiquiatria da USP mostra que de acordo com estudo realizado em 18 países, o Brasil é o que tem o maior percentual de pessoas com depressão. Este resultado me faz perguntar: onde está o país do samba, caipirinha e futebol, símbolos de um povo feliz? Cadê o país do carnaval, maior expressão da cultura popular e da alegria do povo brasileiro? De acordo com a pesquisa parece que não somos tão felizes assim.
Por que será que tantos brasileiros apresentam sintomas deste mal da alma? Não sou psiquiatra nem psicólogo, mas a minha formação em “psicologia de botequim”, um pouco de observação sociológica e algumas leituras sobre o assunto me permitem arriscar algumas respostas. Penso que estamos vivendo uma crise de valores: valores morais, éticos, sentimentais, sociais... Vivemos cada vez mais pressionados pelo trabalho, na busca pela satisfação pessoal, pelos padrões e modismos impostos pelo sádico sistema capitalista.
Na correria desenfreada pelo “eu”, acabamos esquecendo-se de nós mesmos e de viver em sociedade, esquecemos de pensar no próximo, no amigo, no parente e no vizinho. E isto leva a algo que parece cada vez maior na sociedade contemporânea: a solidão. Renato Russo disse em uma de suas canções que “... o mal do século é a solidão.” A minha “psicologia de botequim” me leva a crê que isto é uma das causas da depressão, assim como também os demais fatores citados acima.
E o que podemos fazer para mudar esta situação? Correr para o consultório psiquiátrico mais próximo? Talvez para muitos esta seja uma possível solução, mas se vivemos uma crise social de valores, precisamos de soluções estruturais e de alcance social generalizado. Precisamos rever nossos valores, crenças e prioridades. Devemos cultivar em nossa prática cotidiana pensamentos mais coletivos, sensos de solidariedade, bondade e gentileza. Revisitar a obra de pessoas como Mahatma Gandhi, Luther King, Madre Tereza de Calcutá, Betinho, dentre outros bons exemplos, talvez nos guie para um mundo melhor e com pessoas mais felizes.
Por fim, caro leitor, deixo para reflexão uma frase do Gandhi: “Seja a mudança que você quer ver no mundo.”
Ilton Soares
Geógrafo e professor universitário
Membro do Movimento Alternativo Goto Seco