O show não pode parar
Governo e artistas procuram uma saída para que a casa de shows Canecão volte a funcionar
Caio Barretto Briso e Wilson Aquino
O mais famoso palco da música do Brasil silenciou. O Canecão, casa de shows onde Roberto Carlos fez sua primeira apresentação solo, onde os Doces Bárbaros marcaram época, onde Chico Buarque não abre mão de cantar em todas as suas turnês, localizado em Botafogo, no Rio de Janeiro, foi lacrado na segunda-feira 10. O imóvel onde o espaço funcionou durante 43 anos é público, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que lutou na Justiça durante 39 anos para retomá-lo porque jamais recebeu pagamento de aluguel do seu fundador, o empresário Mário Priolli. Não se questiona o direito da UFRJ em retomar o local. Mas transformar o espaço em um centro cultural, como pretende a universidade, é pôr fim a um ícone da expressão musical brasileira. E é este o foco central: como manter o Canecão funcionando e respeitar, ao mesmo tempo, a gestão do legítimo proprietário, a UFRJ?
A classe artística está inconformada e vai pressionar a UFRJ para que o lugar mantenha sua ligação com a música. “Fechar o Canecão equivale a fechar o Olympia, em Paris”, diz Martinho da Vila, o primeiro sambista a tocar na casa, em 1972. Para Ricardo Cravo Albin, um dos maiores pesquisadores da MPB, a importância do Canecão ultrapassa a função de simples casa de shows. “É um ponto de afeto e referência da cidade. Precisa ser preservado”, resumiu. A cantora Miúcha, que gravou lá, em 1977, um disco histórico com Vinicius de Morais, Tom Jobim e Toquinho, afirma que “o Rio morre um pouco sem o Canecão”.
Roberto Carlos, em show realizado no Canecão (1970)
Fonte da matéria: revista ISTOÉ, 19MAI/2010 - Nº 2114
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