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"Engolimos de uma vez a mentira que nos adula e bebemos gota a gota a verdade que nos amarga." Denis Diderot

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Quincas Berro d'Água


Quincas é o rei da boemia


André Dib

Da literatura para o cinema, Quincas Berro d'Água, que estreou nos cinemas de todo o país na semana passada, inaugura uma nova fase na carreira de seu diretor, Sérgio Machado (Cidade alta). É a primeira vez que ele lida com uma produção tão cara, união de forças entre Petrobas, Globo Filmes, Miravista e Videofilmes, com tantos atores em cena e sequências complexas. É também sua estreia no cinema de fantasia, que apresenta a realidade social com um pé no pastelão e outro nas farsas italianas, de personagens que, apesar de tratados com carinho, beiram o ridículo.
Apesar da novidade estética, Quincas se apresenta coerente com os interesses pessoais do diretor, que desdobra com propriedade temas como o amor, a amizade e a vida dura, suja e invisível de habitantes do underground soteropolitano. Desta vez, em contraste com o da classe média em busca de ascensão, representada pela família do recém-falecido protagonista, interpretado por Paulo José, grande estrela do longa. No que deve ter sido um dos maiores desafios paraum portador do mal de Parkinson, José utiliza de sutilezas para interpretar o morto. Expressões sutis à parte, ele não move um músculo sequer durante o filme.
A ação se dá em menos de 24 horas, do momento em que a família recebe a notícia de que Quincas falecera, até morrer pela segunda vez, no mar. Em vida, Quincas foi funcionário público exemplar e levava monótona vida de pai de família, até que decidiu chutar o balde e cair na gandaia. Agora morto, parentes esperam não só restituir a imagem do patriarca, como ganhar dividendos sociais com o episódio. Para a sociedade baiana, Quincas era comendador na Itália, não o notório bebum pendurado em bordéis.

Fonte: Diário de Natal - Muito
Edição de quinta-feira, 27 de maio de 2010
Foto: Christian Cravo / Getty Images

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