Por
favor, se alguém souber de um trem direto para o infinito, me avise!
Ficarei satisfeito. Preciso de um tempo pra pensar, e sei que bem (ou
mesmo mal) acomodado num vagão, que pode mesmo até ser de segunda
classe, não importa, eu terei espaço para refazer as minhas ideias. Esse
caos urbano está me deixando atordoado. Ninguém quer mais ouvir
ninguém. Apenas jogar palavras soltas e desconexas para todos os lados, e
ainda se achar no direito de ser ouvido. Quero olhar da janela e ver
estrelas. Sentir o deslizar das rodas sobre os trilhos, fazendo um som
característico daquelas conduções que transportam corações solitários. E
quando o bilheteiro vier me cobrar a passagem, vai perceber que o meu
destino é a estação final. Então irei até o fim da linha. A minha
pequena mala, na verdade, uma valise, bem acomodada no bagageiro do
trem, vai me garantir na viagem a consulta de um velho caderno de
rabiscos. Quase toda a minha vida está ali. Exceto alguns momentos que
eu fiz questão de não registrar. É que já me basta a tortura de algumas
lembranças. Então, se a mente me castiga, pra que sentenciar num papel?
Deixa o trem correr, estrada de ferro afora! Tudo que for passando,
ficando para trás, eu vou querer esquecer, na ânsia de chegar ao lugar
que eu propus. Só tomara que o condutor seja daquele tipo que se
concentra na viagem e embarca nela, esquecendo até de apitar quando nas
curvas fechadas, alertando pessoas e bichos desatentos ao tempo. Assim
eu não vou desviar dos meus mergulhos da mente. E essa viagem vai ser um
voltar às origens. Um mergulho nas fontes da minha existência. (Eliel Silva, 11.02.2022)
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