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"Engolimos de uma vez a mentira que nos adula e bebemos gota a gota a verdade que nos amarga." Denis Diderot

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

 

 


Por favor, se alguém souber de um trem direto para o infinito, me avise! Ficarei satisfeito. Preciso de um tempo pra pensar, e sei que bem (ou mesmo mal) acomodado num vagão, que pode mesmo até ser de segunda classe, não importa, eu terei espaço para refazer as minhas ideias. Esse caos urbano está me deixando atordoado. Ninguém quer mais ouvir ninguém. Apenas jogar palavras soltas e desconexas para todos os lados, e ainda se achar no direito de ser ouvido. Quero olhar da janela e ver estrelas. Sentir o deslizar das rodas sobre os trilhos, fazendo um som característico daquelas conduções que transportam corações solitários. E quando o bilheteiro vier me cobrar a passagem, vai perceber que o meu destino é a estação final. Então irei até o fim da linha. A minha pequena mala, na verdade, uma valise, bem acomodada no bagageiro do trem, vai me garantir na viagem a consulta de um velho caderno de rabiscos. Quase toda a minha vida está ali. Exceto alguns momentos que eu fiz questão de não registrar. É que já me basta a tortura de algumas lembranças. Então, se a mente me castiga, pra que sentenciar num papel? Deixa o trem correr, estrada de ferro afora! Tudo que for passando, ficando para trás, eu vou querer esquecer, na ânsia de chegar ao lugar que eu propus. Só tomara que o condutor seja daquele tipo que se concentra na viagem e embarca nela, esquecendo até de apitar quando nas curvas fechadas, alertando pessoas e bichos desatentos ao tempo. Assim eu não vou desviar dos meus mergulhos da mente. E essa viagem vai ser um voltar às origens. Um mergulho nas fontes da minha existência. (Eliel Silva, 11.02.2022) 🚉

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