“Abençoai as hienas
Principalmente as morenas
Tricampeãs mundiais
Pois desse lado do muro
O jogo é tão duro, meu pai
Que só ter piedade de nós não vale a pena.”
Principalmente as morenas
Tricampeãs mundiais
Pois desse lado do muro
O jogo é tão duro, meu pai
Que só ter piedade de nós não vale a pena.”
Accioly Neto
Conversa de esquina
Foi
minha amiga, a Zi, quem me falou que para se mudar um destino é preciso ousar.
Ela não tem essa coragem, disse, mas está convencida de que tem que ser assim. Zi
é uma grande defensora do proletariado e eu sou seu fã por isso. Mas sei
também, Zi, que com esse sistema a gente não vai tão longe. A gente não chega a
Che.
E
sabe que mais ela falou? Que nunca se casou por achar casamento coisa muito
séria. Que não se acha capaz o suficiente para honrar tal compromisso. Poxa,
Zi, me desculpe, mas nisso eu passei de você. Ta 2 X 0. Mas a conversa surgiu
depois que eu cruzei na rua com um amigo de infância, que teve bastante sorte.
É o tipo do cara todo certinho, que só anda na linha e tudo o mais. Mas a Zi
diz que tem que ser ousado. Tá bom, Zi, eu concordo com você, mas até pra isso
é preciso sorte. Digo isso porque nas vezes em que eu tentei ousar um pouco
mais, sair dos trilhos, me estrepei. A Zi também ficou admirada com o monte de
carros estacionados em volta daquele banco, naquela hora da noite. Ela que
escolheu justamente aquela horinha para pagar as suas contas, pensando que a
agência estava sem ninguém. De pirraça, ela ironizou, dizendo que os
proprietários daqueles veículos estavam todos vendo um jeito de pagar as suas
prestações. Ah, Zi, mas isso não importa. Para eles vale mesmo é ter um carrão.
Desfilar com suas máquinas pelas ruas da cidade, cheios de si, se possível, com
um cachorrinho à espreita dos transeuntes como nós. Latindo, estirando a
língua, zombando da gente. Fazer o quê? Nós, que andamos muito a pé, - e não é
por recomendação médica, não, - que não ousamos tanto e que a sorte nos falta,
estamos é com dor de cotovelo. Deixa a vida acontecer para os afortunados.
Domingo tem missa pra gente ir. Há uma (velha) promessa de vida nova. Vamos
acreditar. O calvário é bem aqui. Coragem, mulher! Agarra a tua cruz, Zi! Com
um pouco de ousadia e sorte, talvez a minha me seja mais leve de ladeira
abaixo.
Eliel
Silva/agosto.2013
Imagem:
Internet
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