“Todos os
dias é um vai-e-vem
A vida se repete na estação
Tem gente que chega pra ficar
Tem gente que vai pra nunca mais
Tem gente que vem e quer voltar
Tem gente que vai e quer ficar
Tem gente que veio só olhar
Tem gente a sorrir e a chorar...”
A vida se repete na estação
Tem gente que chega pra ficar
Tem gente que vai pra nunca mais
Tem gente que vem e quer voltar
Tem gente que vai e quer ficar
Tem gente que veio só olhar
Tem gente a sorrir e a chorar...”
(Encontros
e Despedidas –
Milton Nascimento /
Fernando Brant)
"Seu" Daniel
Quem
haverá de decifrar os segredos e mistérios daqueles trilhos?! Trilhos que
formavam trilhas para tanta gente. Quantas pessoas por ali passaram, acomodadas
num vagão de trem, na ânsia de chegar a destinos tão diversos. E aquele homem
incansável, correto em sua missão, todo santo dia estava ali, com sol, com
chuva, no sereno, cumprindo a sua obrigação. Sua função? Guarda Chaves. Mas que
chaves esse homem guardava mesmo? As chaves de acesso aquele trem, carregado de
tantas vidas. Quantos encontros e quantas despedidas naquela estação aquele
homem presenciou. Quanta correria na lida do dia a dia.
Até
parece uma ficção muito bem escrita, mas é uma história real. O tempo e o
progresso, se é que se pode chamar essas mudanças de progresso, se encarregaram
de virar a página. E o capítulo seguinte parece desolador. A estrada de ferro,
a estação, aquele homem... Fica difícil hoje encarar tanta ruína. Mas o que
fazer, se a vida tem dessas coisas?!
Estação Ferroviária de Taipu,
onde meu pai trabalhou por muitos anos
onde meu pai trabalhou por muitos anos
Agora
resta a “seu” Daniel, do alto dos seus 91 anos de idade, completados nesse dia
22 de novembro de 2012, encarar os desvios dessa estrada e esperar o sinal do Mestre
maior que o guiará ao destino. Só que hoje a sua lucidez nos faz muita falta.
Mas, há que se entender, há que se aceitar, pois se a locomotiva daquele tempo,
com ferro e aço em sua composição, já não tem força de prosseguir a jornada,
imagine você, meu caro Daniel, com esse seu coração de porcelana e alma de um
cristal tão delicado. É chegada a hora de estacionar. E com isso vão-se as lembranças
do passado, vai-se o vigor de uma juventude tão distante. Imagens de toda uma
vida se misturam em sua mente formando um emaranhado de coisas hoje
indecifráveis. É o sinal do tempo em você. Sempre que vejo o nosso lar ameaçado, penso na sua sabedoria muito
simples que sempre dava um jeito nas coisas.
Grande
“profeta” Daniel, parabéns pelos seus 91 anos de idade, grande parte deles
dedicada a sua gente. E obrigado por tudo que aprendi com você.
A vida
é mesmo assim. Ela é uma grande estação. Lugar de encontros e despedidas.
Texto e Fotos: Eliel Silva
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