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"Engolimos de uma vez a mentira que nos adula e bebemos gota a gota a verdade que nos amarga." Denis Diderot

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Ao meu pai


“Todos os dias é um vai-e-vem
A vida se repete na estação
Tem gente que chega pra ficar
Tem gente que vai pra nunca mais
Tem gente que vem e quer voltar
Tem gente que vai e quer ficar
Tem gente que veio só olhar
Tem gente a sorrir e a chorar...”
(Encontros e Despedidas –
 Milton Nascimento / Fernando Brant)


 "Seu" Daniel

O homem da estação

Quem haverá de decifrar os segredos e mistérios daqueles trilhos?! Trilhos que formavam trilhas para tanta gente. Quantas pessoas por ali passaram, acomodadas num vagão de trem, na ânsia de chegar a destinos tão diversos. E aquele homem incansável, correto em sua missão, todo santo dia estava ali, com sol, com chuva, no sereno, cumprindo a sua obrigação. Sua função? Guarda Chaves. Mas que chaves esse homem guardava mesmo? As chaves de acesso aquele trem, carregado de tantas vidas. Quantos encontros e quantas despedidas naquela estação aquele homem presenciou. Quanta correria na lida do dia a dia.
Até parece uma ficção muito bem escrita, mas é uma história real. O tempo e o progresso, se é que se pode chamar essas mudanças de progresso, se encarregaram de virar a página. E o capítulo seguinte parece desolador. A estrada de ferro, a estação, aquele homem... Fica difícil hoje encarar tanta ruína. Mas o que fazer, se a vida tem dessas coisas?!
Estação Ferroviária de Taipu, 
onde meu pai trabalhou por muitos anos

Agora resta a “seu” Daniel, do alto dos seus 91 anos de idade, completados nesse dia 22 de novembro de 2012, encarar os desvios dessa estrada e esperar o sinal do Mestre maior que o guiará ao destino. Só que hoje a sua lucidez nos faz muita falta. Mas, há que se entender, há que se aceitar, pois se a locomotiva daquele tempo, com ferro e aço em sua composição, já não tem força de prosseguir a jornada, imagine você, meu caro Daniel, com esse seu coração de porcelana e alma de um cristal tão delicado. É chegada a hora de estacionar. E com isso vão-se as lembranças do passado, vai-se o vigor de uma juventude tão distante. Imagens de toda uma vida se misturam em sua mente formando um emaranhado de coisas hoje indecifráveis. É o sinal do tempo em você. Sempre que vejo o nosso lar ameaçado, penso na sua sabedoria muito simples que sempre dava um jeito nas coisas.
Grande “profeta” Daniel, parabéns pelos seus 91 anos de idade, grande parte deles dedicada a sua gente. E obrigado por tudo que aprendi com você.
A vida é mesmo assim. Ela é uma grande estação. Lugar de encontros e despedidas. 
Texto e Fotos: Eliel Silva

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