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"Engolimos de uma vez a mentira que nos adula e bebemos gota a gota a verdade que nos amarga." Denis Diderot

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Uma verdadeira festa de arromba

"Canções usavam formas simples
pra falar de amor,
carrões e gente numa festa
de sorriso e cor..."
(Jovens, Tardes de Domingo
 - Roberto e Erasmo)
JOVEM GUARDA – 2ª PARTE
(O Movimento Musical)

Toda essa onda que arrebentou no programa Jovem Guarda, invadindo as praias da mocidade dos anos 60, começou a ser formada bem antes, em meados da década anterior.
Deve ser difícil para alguém de outra nacionalidade falar de samba sem que não se reporte ao seu berço: O Brasil. Assim como é difícil para um brasileiro falar das bases do rock sem que não se remeta ao seu berço: a América. Foi de lá que, na década de 50, surgiu uma cultura juvenil. Antes os jovens viviam à sombra de seus pais. O rock teve grande influência nisso. Ele trouxe em seu pacote de novidades: um ritmo, uma moda, um jeito jovem de viver. Essa reação desencadeada naquele país se espalhou pelo mundo inteiro.
No Brasil não foi diferente. Em outubro de 1955 chegava às telas de cinema o filme Sementes da Violência (Blacboard Jungle). A música tema do filme “Rock Around the Clock”, de Bill Haley and His Comets chegava com força e enlouquecia os jovens. A trilha sonora do filme fez tanto sucesso que, a partir dela, foi lançado o filme Rock Around the Clock(no Brasil recebeu o nome de Ao Balanço das Horas), um musical que apresentava ao mundo artistas que tocavam o novo ritmo, dentre eles Bill Halley e The Platters.
O primeiro canto de rock a ecoar em solo brasileiro veio, quem diria, de uma famosa cantora de samba-canções. Na Rádio Nacional do Rio de Janeiro, no Programa Cesar de Alencar, Nora Ney, uma das poucas cantoras brasileiras a dominar o inglês à época, soltou a bela voz na interpretação de Rock Around the Clock. A música foi interpretada no original sem grandes variações.
Em 1957, aconteceu a primeira gravação de um rock com letra em português na voz de Cauby Peixoto, Rock’n Roll em Copacabana, música composta pelo carioca Miguel Gustavo.
Os primeiros astros do pop brasileiro entraram em cena em 1959: Os irmãos Tonny e Celly Campello. Foi o ano do lançamento do LP Estúpido Cúpido. A faixa que dava título ao LP é uma versão bem sucedida de Stupid Cupid, de Neil Sedaka e Howard Greenfield.
Curiosa essa estrada do pop, não? Uma mulher foi a primeira a gravar um rock no Brasil: Nora Ney e outra foi o primeiro ídolo pop: Cellly Campello. Celly chegou a ser eleita, em 1961, Rainha do Rock, em um concurso elaborado pela Revista do Rock. Aí já começava um ritmo com cara e jeito de Jovem Guarda. Porém o sucesso de Celly foi igual aos das estrelas cadentes: no auge do fulgor ela se retirou da música para casa com José Eduardo Chacon. Tonny continuou no cenário musical e chegou a produzir alguns discos da galera da Jovem Guarda.
E Roberto e Erasmo Carlos, dois ícones desse movimento? A primeira música feita por eles nada tinha a ver com rock. Era um samba chamado Maria e o Samba que nunca chegou a ser gravado, mas foi apresentado por Roberto em um de seus shows na Boate Plaza, no Rio de Janeiro, em 1959. Assim encontramos Roberto Carlos no início de sua carreira: indefinido musicalmente, cantando sambas e Bossa Nova. A carreira do astro só ganhou a direção do rock quando Sérgio Murilo brigou com a CBS e foi para a RCA. A direção da CBS não podia ficar sem um ídolo jovem e, praticamente, empurrou Roberto para o rock.
The Clevers(Os Íncríveis), Golden Boys, Renato e Seus Blue Caps, The Jet Blacks e toda essa turma que se apresentou no Jovem Guarda já vinha fazendo sucesso há algum tempo. Tiveram influência de astros do rock como Elvis Presley, Bill Halley, Litllte Richard, Bealtes, Rolling Stones e românticos: Paul Anka, Neil Sedaka, The Platers. Musicalmente, a Jovem Guarda fez uma grande salada à brasileira. Juntou num prato só música romântica, rock, música americana, francesa, italiana. Salada esta que resultou num prato perfeito. Simples nas suas letras, nos acordes, mas muito gostoso e popular.

Nesse período, grande parte das letras eram versões de músicas estrangeiras. A grande sacada da dupla Erasmo e Roberto Carlos foi perceber que era preciso criar letras em português. Tarefa na qual foram bem sucedidos.
Não poderia deixar de falar aqui da briga estética e ideológica entre Jovem Guarda e Bossa Nova. Ah, como a guitarra elétrica e demais instrumentos da Jovem Guarda incomodaram o banquinho e o violão da Bossa Nova. Essa última com ideais nacionalistas e a primeira cheia de estrangeirismos. Vale lembra que era um tempo em que a cortina de ferro da ditadura descia forte sobre o país. A turma da Bossa, fazia música de protesto, se engajava na luta política. A Jovem Guarda?! Queria mais era fazer rock e curtir a vida numa boa. As críticas vieram pesadas. Foram chamados, dentre outras coisas, de “alienados”, “debilóides”, “submúsicos”. Assentada a poeira, acho que essas críticas tinham muito de ciumeira e dor de cotovelo por causa do sucesso que vinham fazendo os meninos e meninas da Jovem Guarda.
Enquanto Movimento Musical, a Jovem Guarda trouxe parcela de contribuição à música brasileira. Colocou em evidência os instrumentos elétricos. Inaugurou uma cultura roqueira no país através do vestuário, das gírias. Expressões como “bicho” “cara” “broto”, hoje “mina”. Algumas até ultrapassadas, mas que se atualizadas ganham seu espaço entre a juventude de hoje como é o caso de “é uma brasa, mora?” que toma hoje a forma de “pô, que da hora!”
A Jovem Guarda acabou? Não de jeito nenhum. Ela vive por aí inspirando as novas gerações. Vive nos programas de rádios apresentados Brasil afora, nas entrevistas e especiais de TV que, vez em quando, trazem o tema à tona. Para finalizar, aplausos para aqueles rapazes e moças que em meio às trevas da repressão acenderam as luzes da alegria e nos legou uma música tão vibrante e gostosa. Viva a Jovem Guarda!
Créditos:
Texto: José Flávio (colaborador)
Fotos: internet

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