VIAGEM
Por aqui, decerto, quase ninguém me vê. Mas os carros passam, as pessoas
passam. Eu observo a cena. Fico quieto agora, mas tinha acabado de fazer uma
queixa às autoridades. Não gosto de ver o que foi feito para o benefício do
povo, sendo destruído por esse mesmo povo. Gente delinquente juvenil. O clima
está gostoso e a tarde segue serena. Há livros por todas as estantes. Capas
coloridas me mostram um cavalo encantado, um urso preguiçoso, e as pessoas não
param de correr. De repente, uma sirene soa forte,
apitos e um carro da polícia segue em velocidade. Aqui no meu mundo a vida não
parece ter pressa. E é assim que eu gosto. Leio a introdução do livro On The
Road - Pé na Estrada, e é uma viagem prazerosa. O carro da polícia insiste na
sua missão. Há um reboliço lá fora. Aqui dentro é tudo um sonho. Se um ônibus
para em frente e me mostra um número, me bate a vontade de jogar no bicho. Vai
que eu acerte a milhar e ganhe uma boa grana para sair do aperto!... Lápis
coloridos me convidam à fantasia. Feito um arco-íris, eu me estenderia de uma
parte a outra da cidade, e mesmo sem um pote de ouro no final da estrada
colorida, daria um jeito de levar todo o meu amor. Um bar e uma cerveja aparecem
na minha frente e são como um ponto. Pronto! Mudo de ideia. Vou cair na farra.
Mas os tempos mudaram, e a saúde já não está tão boa. Melhor me aquietar. A
chuva se recolhe lá fora, ficou apenas aquele friozinho. Não vou dizer o que
seria bom fazer num dia assim. Eu já fiz de tudo nessa vida. Pra que rebobinar
a fita? O tempo é um barco dentro de mim. Eu sou um oceano em extinção. Vou
secar e os meus peixes criarão asas e partirão. Um dia existirá apenas a
poeira. O vento forte irá me açoitar. Vou para um outro lugar. Mas haverá
sempre um pouco de mim noutras vidas. Já é fim de mês. Maio acabou. (Eliel
Silva - 30 de maio de 2017)
Nenhum comentário:
Postar um comentário