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"Engolimos de uma vez a mentira que nos adula e bebemos gota a gota a verdade que nos amarga." Denis Diderot

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Eu e o caixa eletrônico
(1 x 0 para mim)


A crônica que vou escrever agora não tem nada de extraordinário. E na verdade, eu nem pensei em escrevê-la. Mas a minha filha pediu, e a um pedido de filho eu me rendo.
Mais uma vez lá eu estava, numa daquelas enormes filas, numa agência bancária daqui da cidade. E, apesar da pouca perspectiva dela caminhar mais rapidamente, eu estava sereno. É que eu já havia explodido hoje, o que me fez muito mal, e a outras pessoas também. Então pensei: a minha cota de vexame por hoje já atingiu o seu limite máximo. Tratei de ficar calmo. Faltavam umas cinco pessoas para chegar a minha vez, e de repente: puf! O caixa eletrônico apagou. O rapaz que o estava usando no momento, ficou desapontado. Os demais alí daquela fila, todos xingando o “sistema”, se dispersaram, procurando outros caixas, sendo que para isso, claro, tiveram que enfrentar outras filas. Não sei o que me deu, fiquei ali, parado, sem ação, e na esperança que algum funcionário capacitado fosse lá resolver a situação daquela máquina. Nem precisou. O caixa voltou a funcionar sozinho, e dessa vez eu ali, diante dele. Não pensei duas vezes. Inseri o cartão e solicitei uma certa quantia em dinheiro. Peguei a grana, nem conferi, bati de volta pra casa. Quando cheguei, fui dar destino ao dinheiro, e foi aí que percebi que tinha um valor superior ao solicitado. Pensei no ocorrido, naquela pane da máquina, e me lembrei do rapaz que a estava usando naquele exato momento, e que não pode concluir a sua operação. “Esse dinheiro não é meu”. Foi o primeiro pensamento que me veio. E logo tirei de volta para o banco para fazer a devolução. Procurei o gerente, expliquei o ocorrido, e ele cuidou em fazer a verificação no sistema, tirando um relatório da movimentação daquele caixa. Estava lá, tudo gravado. Pedi que me fornecesse um recibo, constando que eu havia devolvido aquele valor ao banco, o que foi feito, e saí dali aliviado. O gerente me agradeceu pela minha atitude e honestidade, um guarda que também presenciou a ação também veio apertar a minha mão. Eu, sinceramente, pelo que sei de mim, achei o que fiz muito natural. Não quero nada que não seja meu de verdade. Meus filhos sabem muito bem disso, e é o que tenho passado para eles. E sei que se orgulham de mim nesse sentido. Isso pra mim é tudo. A tecnologia falhou e quase prejudica um trabalhador, que foi em busca do seu salário. A máquina teve o seu direito de errar, mesmo com as suas engrenagens, os seus controles e seus chips programados. Eu até teria. Mas ao invés de chip, funcionou a minha consciência. (Eliel Silva - 04.12.2015)

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