Com a vista já irritada de tanto me debruçar sobre uns
livros para fazer um trabalho de catalogação, resolvi dar um tempo, e então fui
à janela para espairecer um pouco. Sabe como é: vez em quando vemos algo (ou
alguém) que é como “um colírio para limpar a vista”. rsrs Pois bem! Vi, logo de
cara, passando à minha frente, uma jovem senhora, em seu carro de passeio,
levando no banco da frente, bem exposto à janela, o seu cãozinho de estimação.
Uma gracinha. Com aquela carinha de “só quem pode”, ele olhava para as pessoas
na rua, que caminhavam a pé. O vento batia no seu pelo, e isso o deixava ainda
mais fofo. Juro por Deus, não deu dois minutos, e lá vem outro carro. Desta vez,
um caminhão, com uma “carrada” de arei. Em cima dele, três trabalhadores, com
as suas pás, suas roupas surradas e suas esperanças talvez. Enfrentando aquele
sol das duas e meia da tarde, expostos aos olhares de todos e até de uma câmera
de tv, se fosse o caso. Aquilo mexeu comigo. Que mundos diferentes naquele
instante, o de bicho e o de gente! Perdi o gosto de ficar na janela, voltei ao
trabalho, sem concentração, sem estímulo, sem vontade de fazer mais nada.
Queria quebrar o silêncio, mas na minha angústia não sabia se eu chorava ou se eu
latia. (Eliel Silva - 26/10/2017)
quinta-feira, 26 de outubro de 2017
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