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"Engolimos de uma vez a mentira que nos adula e bebemos gota a gota a verdade que nos amarga." Denis Diderot

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Do Face XXXI

A mulher de vestes escuras

Ela não era, apesar da aparência,
nenhuma viúva saída do nada
Uma graúna, ou dama da morte,
serpente ou felina.
Mas era em sua beleza, tão de rapina
Eu a tentei decifrá-la, mas fui devorado
Me vi por instantes como se estivesse
na Capela Sistina
contemplando aqueles afrescos
em que ela não estava
Pois beleza cósmica igual a dela
eu não encontrava
Oh dama da noite, tenha compaixão de mim:
me anistie desse seu halloween
Me tire desse encanto, desse seu quebranto,
e deixa que eu escolha o meu próprio fim. 
(Eliel Silva – novembro/2014)

Do Face XXX


Fevereiro
(E seus "F"s)

Você pode achar que eu estou fora do contexto
Mas de uma coisa fique certa: de tudo eu já provei
E hoje o que faço é ficar o mais distante de mim mesmo
Nessa tela que você pinta não cabe o meu contraste

Janeiro já se foi e vou rever velhas figuras
Cada pessoa com o seu bronzeado de mercúrio
Mas os confetes vão lhes restituir a face natural
Que será purificada nas cinzas da quarta-feira

Deus sabe que de nada me arrependo
E nem vou angariar perdão algum
Só quero a oportunidade de uma contramão
Seguir adiante, sempre, seja como for
Mas não me obrigue a uma genuflexão

A sua juventude um dia vai empatar com a minha
E esse placar não apontará vencedor
Não queira rabiscar na minha lápide
O que os seus papiros não puderam guardar

No mais... é fogo, é ferro, é foda!

(Eliel Silva-Fev./2015)

Do Face XXIX



Eu sei que muitas vezes a sua opção preferencial foi pelos “de fora”. Pessoas pelas quais nutria uma enorme e doentia simpatia. Corria mundos e fundos só para agradá-las. E mesmo eu me sentindo fora do seu ninho, “na hora do meu desespero” era a ela que eu recorria. Pois, era de praxe, não media esforços para tentar resolver qualquer situação que abatesse a sua cria. Falava com quem quer que fosse, só para me proteger (também). Do delegado ao presidente. Do político ao sacerdote. Mas o tempo andou machucando nossas almas. Estamos quase que na mesma situação. Velhos e cansados. Se brincar, eu ainda mais velho que ela. Mesmo assim, por força desse destino, acontece o inverso, e sou eu agora um dos que lhe dão a mão. E então me pergunto, meu Deus, quando eu precisar de alguém que interceda por mim, a quem eu irei? Vou ter que me virar sozinho? E nessas horas o medo parece se apoderar de mim. E é por isso que vez por outra me pego cantando: “tenho as vezes vontade de ser novamente um menino, e na hora do meu desespero gritar por você...” (Eliel Silva)