“Toda
segunda-feira tem feitiço na ladeira,
toda segunda feira tem feitiço na ladeira...
As velas queimando no asfalto,
chorando alto, chorando alto.
Mendigo sentado no asfalto,
cheirando álcool, cheirando álcool.”
("Segunda-feira das Almas" - Ruy Maurity)
Lembranças da segunda-feira
De vez em quando, na segunda-feira, me vem a lembrança dessa canção do Ruy
Maurity, muito executada nas rádios na segunda metade dos anos 70. E com ela
também me lembro de uma prática hoje quase em desuso, que era o chamado feitiço
que vinha através do famoso despacho. Uma pessoa que queria fazer o mal a
outra, muitas vezes recorria a esse expediente. Eu, sinceramente, morria de
medo quando me deparava com troço desses. E os mais velhos sempre alertavam pra
gente não tocar, sair de perto. Mas sempre tinha um mais corajoso, que se dizia
“de corpo fechado”, que simplesmente ignorava o perigo, espatifava o que estivesse
ali na encruzilhada e ainda lucrava com a garrafa de cachaça, se fosse o caso
de alguma aguardente fazer parte do kit da bruxaria. Mas as coisas mudaram.
Hoje isso parece estar ultrapassado. Se antes, pessoas mal intencionadas
careciam de uma aprovação não sei de qual entidade para ofender alguém,
dependendo, talvez, da fraqueza ou da crença do suposto inimigo, hoje a maldade
vem nua e crua, desmascarada, instantânea. As ofensas da modernidade são tão
cruéis, tão mortíferas, que faz a gente sentir saudade daquele medo bobo de
feitiçaria.
(Eliel Silva, fevereiro/2014)
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