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"Engolimos de uma vez a mentira que nos adula e bebemos gota a gota a verdade que nos amarga." Denis Diderot

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Naquele tempo

“Toda segunda-feira tem feitiço na ladeira,
toda segunda feira tem feitiço na ladeira...
As velas queimando no asfalto, 
chorando alto, chorando alto.
Mendigo sentado no asfalto, 
cheirando álcool, cheirando álcool.”
("Segunda-feira das Almas" - Ruy Maurity)


Lembranças da segunda-feira


De vez em quando, na segunda-feira, me vem a lembrança dessa canção do Ruy Maurity, muito executada nas rádios na segunda metade dos anos 70. E com ela também me lembro de uma prática hoje quase em desuso, que era o chamado feitiço que vinha através do famoso despacho. Uma pessoa que queria fazer o mal a outra, muitas vezes recorria a esse expediente. Eu, sinceramente, morria de medo quando me deparava com troço desses. E os mais velhos sempre alertavam pra gente não tocar, sair de perto. Mas sempre tinha um mais corajoso, que se dizia “de corpo fechado”, que simplesmente ignorava o perigo, espatifava o que estivesse ali na encruzilhada e ainda lucrava com a garrafa de cachaça, se fosse o caso de alguma aguardente fazer parte do kit da bruxaria. Mas as coisas mudaram. Hoje isso parece estar ultrapassado. Se antes, pessoas mal intencionadas careciam de uma aprovação não sei de qual entidade para ofender alguém, dependendo, talvez, da fraqueza ou da crença do suposto inimigo, hoje a maldade vem nua e crua, desmascarada, instantânea. As ofensas da modernidade são tão cruéis, tão mortíferas, que faz a gente sentir saudade daquele medo bobo de feitiçaria.
(Eliel Silva, fevereiro/2014)



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