A cidade

Diamante

Carro de boi, açúcar, rapadura,

fazem lembrar o engenho DIAMANTE;

hoje a saudade dentro em mim perdura,

da minha infância que já vai distante!

Nunca existiu em mim dor, amargura,

quando eu era criança – e, bem galante,

ia correndo cheia de ventura,

pelo capim macio e verdejante.

Na Casa-Grande, em cada canto, eu via

um rosto amado cheio de ternura,

a me fitar com ridos de alegria.

Já vai bem longe aquele tempo amigo!

Só me resta, de tudo, a noite escura

desta saudade que ficou comigo!

Anete Varela

* Homenagem do blog à mulher e à terra.

Na estrada com Raulzito Seixas (parte 3)

"Ói,  já é vem,

fumegando, apitando, chamando

os que sabem do trem..."

Raul Seixas

 Estação de Ceará-Mirim(RN)

“Oi, oi o trem”

Parece ser “o trem da alegria”, “o trem da esperança” (só que em outro contexto). Mas é o trem do rock and roll, aquele trem que traz toda aquela gente para o tradicional Tributo a Raul Seixas na cidade de Ceará-Mirim (RN). Sempre no terceiro sábado do mês de agosto. - Mas que coisa mais estranha!? Poderia se perguntar um passageiro desavisado. E não adianta tanto aviso de que “É proibido fumar”. Fumaça nessa “viagem” é o que não vai faltar. E quem foi que disse que é da locomotiva? Todo mundo sabe que roqueiro gosta de fumar. Não adianta aquelas campanhas de que o cigarro causa isso, causa aquilo. Aquelas imagens no verso da carteira servem de gracinha para essa gente. Deixa os meninos se divertirem. Garanto que não haverá bagunça, não haverá xingamento, depredação, nada disso. Essa turma é da paz. É uma nova geração “paz e amor”. Essa viagem já virou tradição. Há quem prefira o desconforto daqueles vagões. O preço do ticket e a curtição do passeio compensam tudo o mais. E ver aquela gente, feito uma nuvem negra, desembarcando, é coisa pra cinema. Aliás, isso bem que merecia entrar num documentário sobre o maluco beleza. Alguém um dia vai atentar para isso e registrar. É preciso mostrar ao mundo essa paixão de uma tribo roqueira por um cara que se foi, mas deixou a sua marca.

Eliel Silva/julho.2013

Foto: Eliel Silva

Sentimento bom

"Eu cheguei em frente ao portão

meu cachorro me sorriu latindo

minhas malas coloquei no chão

eu voltei..."

RC & EC

Professor Ilton e seu cachorro Taison

Sobre a saudade de um cachorro

A gente sempre sente falta de algo, de alguém, mas isso não pode nos tornar menos felizes. Eu sinto saudade de coisas e pessoas do passado ou que estão distantes, mas não sou triste por isso. Por exemplo: sinto uma saudade enorme deste cachorro da foto. Seu nome é Taison e ele mora com minha mãe, a quase 300 km de distância de mim, mas eu tenho fotos dele no meu computador e às vezes minha mãe coloca o telefone no ouvido dele para que possa ouvir minha voz. Sempre o vejo ao menos uma vez por mês quando vou passar fins de semana com minha mãe. É uma saudade alegre. Taison é tipo o cachorro Marley daquele filme: teimoso e adorável.

Sabe aquela frase que diz que na vida temos que escrever um livro, ter um filho e plantar uma árvore? Acho que o autor esqueceu-se de dizer que também temos que ter um cachorro, eles tornam os seres humanos pessoas melhores. Tenho saudade de outras pessoas também, mas não vou falar sobre isso aqui. Este é um texto sobre saudade alegre.

Taison meu bom amigo, nos reencontraremos em breve.

Ilton Soares

Fruto permitido

 “Pode ser que ninguém me compreenda
Quando digo que sou visionário
Pode a bíblia ser um dicionário
Pode tudo ser uma refazenda...”

Zé Ramalho

Dois anjos

E era tudo tão tosco, tudo tão pobre. Mas a força da paixão, essa coisa que move o sol e outras estrelas, nos reerguia sempre. E era eu e ela. Era ela e eu. Foi duro, por tantas vezes ver os nossos sonhos aos pedaços pelo caminho. Juntar os cacos do nosso cristal vez em quando. E prosseguimos assim pela vida. Tantos erros. Tantos recomeços. As raras conquistas eram celebradas à exaustão. Queríamos sentir o prazer, por muito tempo, de um novo tempo em nossa casa. Sem que houvesse anunciação, e sem anjos precedentes, dois anjos vieram se juntar a nós. Um chegou primeiro, o outro veio tempos depois. Nos trouxeram o que de melhor existia na vida. E o tempo seguiu... Anjos não crescem, não mudam, mas os nossos sim. E só mesmo eles para nos trazer aquela força que ficou pra trás, e que nos motivou a prosseguir na caminhada. Nos perdemos no percurso, mas os nossos anjos continuam a nos guiar.

Eliel Silva/julho.2013

Imagem: Internet

Cobras e lagartos

"Só por hoje eu não quero mais chorar
Só por hoje eu espero conseguir
Aceitar o que passou o que virá
Só por hoje vou me lembrar que sou feliz."

Legião Urbana

 Uma coisa de cada vez

Jesus falou, e Ele estava certo, pra ninguém se preocupar demais com o dia de amanhã. “Basta a cada dia o seu mal”, disse o Mestre. Mas Senhor, como é que eu posso, se alguém vem me falar, e de uma só vez, sobre os infortúnios que terei de enfrentar por tempos que eu nem sei o fim?! Hoje mesmo me deram duas notícias que não me agradaram em nada. Notícia ruim corre rapidinho. Não. Não era notícia de morte. Ainda bem. Bom, pelo menos não aquela morte imediata. Mas uma morte lenta. Sim, porque tem coisas que vão matando aos poucos. O veneno de hoje eu já provei. P* que p*. Será que a gente veio aqui só para ser experimento? Saco de pancada? Será preciso mesmo chorar um rio de lágrimas pra só então descansar no “paraíso”? Pelo amor de Deus, me poupem desse vexame! Quantos caminhos teremos mesmo que trilhar até encontrar a sombra de uma árvore? Em quantas casas eu terei que tentar (sobre)viver? As vezes sinto inveja dos passarinhos. Eles que tem os seus ninhos. E as raposas com as suas tocas (nem levo em conta as galinhas!). Por que será que o homem, esse animal racional, perambula sem destino certo? Quantas tentativas, quantos sonhos, quantos desencantos.  Onde é mesmo que eu aperto a campainha dessa condução? Por favor, me deixe na próxima parada. Uma pinga agora vai me cair muito bem.

Eliel Silva/julho.2013

Imagem: Internet