“Eu paguei minhas dividas
Pouco a pouco
Eu completei minha sentença
Mas não cometi nenhum crime
(...)
Eu tenho feito minhas reverências
E atendido as chamadas do palco
(...)
Nós somos os campeões - meus amigos
E nós continuaremos lutando
Até
o fim.”
(We
Are The Champions – Queen)
Washington Pereira
We Are The Champions
“Você não precisa de um meteorologista para
saber de que lado está soprando o vento”. Esse verso de Subterranean Homesick Blues, canção sessentista de Bob Dylan,
lembra o momento da descoberta do Rock And Roll pela turma do rock aqui em Ceará-Mirim. E o
responsável por tudo isso foi o tremendão
Washington Pereira dos Santos. Nascido em Ceará-Mirim, aos 10 de março de 1962,
ele foi para Natal em 1968. Voltou à terra dos verdes canaviais em 1982, então
cheio de experiências e influências musicais. Foi nessa época que o conheci.
Entre teatro e música selamos uma amizade que vem atravessando esses vinte e
tantos anos – sempre regada a muito som, farra e respeito às nossas
individualidades. Washington tem esse dom. Na bagagem do parceiro vieram
inúmeros LPs de bandas de rock: Queen (sua banda predileta), Kiss, Deep Purple,
Led Zeppelin, Black Sabbath, Nazareth, Rolling Stones (a preferida do saudoso
Barnabé) e tantas outras bandas ou mesmo astros e estrelas do gênero rock. Por
esse tempo eu já gostava muito do Bob Dylan pelo que lia sobre ele e porque já
conhecia um pouco do seu trabalho através de versões de algumas de suas
músicas. Mas ainda não tinha ouvido o poeta do protesto. E foi Washington quem
me emprestou um famoso “Greatest Hits” do Bob que só me fez comprovar que
estava no caminho certo.
Carteirinha do Rock's Club (verso)
Nesse
clima de curtição, em 1985 formamos o Rock’s Club onde o presidente (à época,
Líder) era ele, o cara responsável por essa febre que ardia em nós e que se
chamava rock and roll. Ainda hoje guardo como lembrança a carteirinha do Rock’s
Club. Entre os sócios estavam Ionaldo, Barnabé, João Palhano, Júnio Horácio e
outros amigos. Vez em quando fazíamos uma festinha na casa de algum dos
componentes da turma. Éramos um pouquinho diferentes dos demais – o nosso som
contribuía para isso. E foi por isso que sofremos discriminação por bastante
tempo. No primeiro Rock In Rio nós estávamos lá, não na cidade do rock, no Rio
de Janeiro, entenda, mas aqui, na Praça das Cinco Bocas, acompanhando tudo pela
televisão, sob protesto de algumas pessoas presentes. Mas a gente também sabia
lutar pelos nossos direitos. Ainda mais depois de reforçar nossa coragem antes
da transmissão começar, tomando numa mercearia próxima vinho de Jurubeba com
mortadela. Um dia faltou mortadela e o tira-gosto foi ovo. Temos muitas
histórias pra contar sobre as nossas investidas por aí, só pra curtir um
roquezinho. Já no final dos anos 90 nosso amigo criou, junto ao Juscelino, o
programa Clube do Rock, apresentado
no final da tarde das sextas-feiras, na 91 FM – Rádio Comunitária - de
propriedade do senhor Johnny Som. Por esse programa passaram vários amigos,
dando aquela “força” a esse gênero musical, apresentando especiais com artistas
nacionais e internacionais. Lá estiveram: Erivan Seixas, Ruy Lima, João
Palhano, Giancarlo e Janaína. Todos falando em particular do seu artista
preferido, e fazendo rolar aquele som. Eis mais uma contribuição desse cara
fantástico.
Encontro da turma do Rock's Club
Se o tio Washington ainda mantém um certo
saudosismo e insiste em curtir artistas das décadas de 60 e 70, não é por falta
de informação, pois ninguém mais que ele para ser um descobridor de novos sons,
mas é porque com certeza em seu coração ainda pulsa a batida daquela época tão
importante para a história do rock em nossa cidade. Por isso, se um dia você o
vir curtindo aquele som progressivo dos anos 70, não se espante, cante! Esse
meu amigo pode até não ser um grande vocalista (House of The Rising Sun ainda prefiro com ele – e olha que conheço
essa música na interpretação de The Animals, Bob Dylan, Joan Baez e outros
mais...). Pode também não ser um grande músico ou coisa assim, mas quem estiver
envolvido nessa coisa de rock aqui em Ceará-Mirim, deve lhe tirar o chapéu.
Essa parte da nossa história musical começou com ele. E se hoje existem eventos
desse gênero na cidade, deve-se agradecer ao professor Washington – ele é o pai
do nosso rock. O incrível é que, nesse mundo cão, onde algumas figuras para
conquistar o seu espaço muitas vezes tem que apelar para o sórdido e o grotesco,
mafiando até mesmo os próprios colegas de turma, nosso professor sempre foi um
exemplo de lealdade e sinceridade. E se chegamos até aqui salvos das ameaças
sonoras que nos tentam fazer engolir constantemente, e fiéis ao bom e velho
rock and roll, considerando que nessa batalha nosso amigo foi para a linha de
frente, então “nós somos os campeões”. Rock’n’roll nas veias, e viva Washington
Pereira! (Eliel Silva)
Imagens: Arquivo do blog
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