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"Engolimos de uma vez a mentira que nos adula e bebemos gota a gota a verdade que nos amarga." Denis Diderot

sábado, 1 de dezembro de 2012

In the beginning



“Eu paguei minhas dividas
Pouco a pouco
Eu completei minha sentença
Mas não cometi nenhum crime
(...)
Eu tenho feito minhas reverências
E atendido as chamadas do palco
(...)
Nós somos os campeões - meus amigos
E nós continuaremos lutando
Até o fim.”
(We Are The Champions – Queen)


 
 Washington Pereira

We Are The Champions

“Você não precisa de um meteorologista para saber de que lado está soprando o vento”. Esse verso de Subterranean Homesick Blues, canção sessentista de Bob Dylan, lembra o momento da descoberta do Rock And Roll pela turma do rock aqui em Ceará-Mirim. E o responsável por tudo isso foi o tremendão Washington Pereira dos Santos. Nascido em Ceará-Mirim, aos 10 de março de 1962, ele foi para Natal em 1968. Voltou à terra dos verdes canaviais em 1982, então cheio de experiências e influências musicais. Foi nessa época que o conheci. Entre teatro e música selamos uma amizade que vem atravessando esses vinte e tantos anos – sempre regada a muito som, farra e respeito às nossas individualidades. Washington tem esse dom. Na bagagem do parceiro vieram inúmeros LPs de bandas de rock: Queen (sua banda predileta), Kiss, Deep Purple, Led Zeppelin, Black Sabbath, Nazareth, Rolling Stones (a preferida do saudoso Barnabé) e tantas outras bandas ou mesmo astros e estrelas do gênero rock. Por esse tempo eu já gostava muito do Bob Dylan pelo que lia sobre ele e porque já conhecia um pouco do seu trabalho através de versões de algumas de suas músicas. Mas ainda não tinha ouvido o poeta do protesto. E foi Washington quem me emprestou um famoso “Greatest Hits” do Bob que só me fez comprovar que estava no caminho certo. 

 Carteirinha do Rock's Club (verso)

Nesse clima de curtição, em 1985 formamos o Rock’s Club onde o presidente (à época, Líder) era ele, o cara responsável por essa febre que ardia em nós e que se chamava rock and roll. Ainda hoje guardo como lembrança a carteirinha do Rock’s Club. Entre os sócios estavam Ionaldo, Barnabé, João Palhano, Júnio Horácio e outros amigos. Vez em quando fazíamos uma festinha na casa de algum dos componentes da turma. Éramos um pouquinho diferentes dos demais – o nosso som contribuía para isso. E foi por isso que sofremos discriminação por bastante tempo. No primeiro Rock In Rio nós estávamos lá, não na cidade do rock, no Rio de Janeiro, entenda, mas aqui, na Praça das Cinco Bocas, acompanhando tudo pela televisão, sob protesto de algumas pessoas presentes. Mas a gente também sabia lutar pelos nossos direitos. Ainda mais depois de reforçar nossa coragem antes da transmissão começar, tomando numa mercearia próxima vinho de Jurubeba com mortadela. Um dia faltou mortadela e o tira-gosto foi ovo. Temos muitas histórias pra contar sobre as nossas investidas por aí, só pra curtir um roquezinho. Já no final dos anos 90 nosso amigo criou, junto ao Juscelino, o programa Clube do Rock, apresentado no final da tarde das sextas-feiras, na 91 FM – Rádio Comunitária - de propriedade do senhor Johnny Som. Por esse programa passaram vários amigos, dando aquela “força” a esse gênero musical, apresentando especiais com artistas nacionais e internacionais. Lá estiveram: Erivan Seixas, Ruy Lima, João Palhano, Giancarlo e Janaína. Todos falando em particular do seu artista preferido, e fazendo rolar aquele som. Eis mais uma contribuição desse cara fantástico. 
Encontro da turma do Rock's Club

Se o tio Washington ainda mantém um certo saudosismo e insiste em curtir artistas das décadas de 60 e 70, não é por falta de informação, pois ninguém mais que ele para ser um descobridor de novos sons, mas é porque com certeza em seu coração ainda pulsa a batida daquela época tão importante para a história do rock em nossa cidade. Por isso, se um dia você o vir curtindo aquele som progressivo dos anos 70, não se espante, cante! Esse meu amigo pode até não ser um grande vocalista (House of The Rising Sun ainda prefiro com ele – e olha que conheço essa música na interpretação de The Animals, Bob Dylan, Joan Baez e outros mais...). Pode também não ser um grande músico ou coisa assim, mas quem estiver envolvido nessa coisa de rock aqui em Ceará-Mirim, deve lhe tirar o chapéu. Essa parte da nossa história musical começou com ele. E se hoje existem eventos desse gênero na cidade, deve-se agradecer ao professor Washington – ele é o pai do nosso rock. O incrível é que, nesse mundo cão, onde algumas figuras para conquistar o seu espaço muitas vezes tem que apelar para o sórdido e o grotesco, mafiando até mesmo os próprios colegas de turma, nosso professor sempre foi um exemplo de lealdade e sinceridade. E se chegamos até aqui salvos das ameaças sonoras que nos tentam fazer engolir constantemente, e fiéis ao bom e velho rock and roll, considerando que nessa batalha nosso amigo foi para a linha de frente, então “nós somos os campeões”. Rock’n’roll nas veias, e viva Washington Pereira! (Eliel Silva)
 Imagens: Arquivo do blog

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