"O que será o futuro que hoje se faz:
a natureza, as crianças e os animais?!"
(O Ano Passado - Roberto e Erasmo)
Nas
trilhas de uma consciência ecológica
Sábado. 16 de
Junho. Cinco e quarenta e cinco da manhã.
Acordei ainda
bem sonolento com o barulho irritante e estridente do despertador. Tive vontade
de jogar aquela coisa na parede. Lembrei-me que despertador e celular eram
unos. Não dava pra quebrar o despertador sem que não quebrasse também o
celular. Desisti da idéia e, como que um ébrio, levantei-me da cama. Odeio
acordar cedo demais. Amo andar de bicicleta. A segunda proposição é mais forte.
Então, mesmo sonolento, acabo me levantando cedo quando tenho que pedalar.
Na noite
anterior havia combinado com um amigo de irmos pedalar juntos.
_
Nos encontramos às seis e meia no Parque Taquaral e de lá a gente vê que
caminho faz.
--
Combinado. – Disse eu.
Fazia
bastante frio aquela manhã. Mesmo assim me dirigi ao local combinado. Esperei.
Esperei. Deram sete horas e o amigo não aparecia.
_
E agora? Volto pra casa? Perguntei-me. Não de jeito nenhum. Depois do esforço
para acordar cedo agora vou pedalar sozinho mesmo.
Botei
a bicicleta na estrada e o corpo pra esquentar. Segui pela rodovia
Campinas/Mogi-Mirim. Já havia pedalado cerca de 6 km quando entrei à direita na
rodovia e segui ladeando o Alphaville – um condomínio de “bacanas” – saindo em
seguida numa estrada de terra – as tão desejadas trilhas para quem curte
Mountain-Bike.
É
como se num passe de mágica o indivíduo saísse da agitação da cidade e do
movimento intenso das rodovias e caísse no ambiente campesino. A essa altura já
estava completamente desperto e o frio já diminuíra bastante. Adoro pedalar por
aquelas trilhas. É um dos meus passatempos favoritos. Gosto da sensação de
liberdade que aquelas paragens me trazem. Uma alegria invade meu peito enquanto
meus olhos se perdem nos verdes tapetes que a natureza tão caprichosamente
desenhou. Um vento brando vem de encontro ao meu corpo suado e me presenteia
com um pouco de refrigério.
Freqüentemente
dou uma esticada até Joaquim-Egídio e/ou Pedreira. Nesses lugares é possível
encontrar trilhas ainda mais bonitas. Em certos trechos, o ciclista percorre
quilômetros e quilômetros sem encontrar quem quer que seja. Em alguns trechos
do percurso, principalmente quando se vai beirando o rio é possível ouvir o
doce murmurar das águas doces. È um canto tão agradável que, às vezes, paro,
desço da bicicleta e fico só curtindo aquele momento especial... Em outros
momentos me sinto voltar no tempo quando me deparo com as pedras colossais que
se incorporam à paisagem. Várias! Muitas delas! Alguém poderia perguntar: “Há
alguma beleza nas pedras?” Ao que eu responderia: “Amigo, naquelas há algo de
mágico, de imponente, de exuberante.” Nessas trilhas a beleza da paisagem e o
prazer de pedalar não saem de graça: paga-se o preço submeter o corpo a um
esforço extenuante devido à própria distância que se leva para fazer o percurso
e também devido as constantes e longas subidas.
O
percurso que havia escolhido para a manhã de sábado em questão era mais leve, porém
não menos agradável. La ia eu, sozinho, cruzando rios de águas tranqüilas e serenas,
atravessando fazendas naquele ambiente bucólico quando, de repente, um pequeno
cartaz, pregado ao tronco de uma árvore, feito de papelão e envolto em plástico
me chamou atenção. Nele estava escrito: ESTRADA NÃO É LIXEIRA.
Desci
da bicicleta e, enquanto me deliciava com uns goles d’água, fiquei a meditar na
frase pregada no tronco daquela árvore. Tão simples e tão importante. Pensei:
“Quem pôs esse aviso aqui deveria estar participando da Rio + 20.*
Naquele
momento meu pensamento voltou à cidade de Campinas. Certa feita andava eu
tranquilamente pelas ruas da cidade quando passa um sujeito num carrão bonito.
Tomava uma lata de refrigerante ou de cerveja, não lembro ao certo. Só que
quando o tal sujeito sorveu o último gole da bebida estendeu o braço pela
janela e jogou a lata na rua. Engraçado que naquela hora pensei a mesma coisa,
AS RUAS DE NOSSAS CIDADES NÃO SÃO LIXEIRAS! Fiquei a matutar no motivo de se
jogar a lata na rua quando se poderia simplesmente colocá-la num cantinho do
carro e depois jogá-la em algum lugar apropriado. Cheguei a uma conclusão
óbvia: sujeito sem educação! Noutra
ocasião voltava eu para casa quando vi um grupo de adolescente com uniformes
escolares, certamente haviam saído de uma escola nas proximidades, atirar uma
bomba dessas do tipo dos festejos juninos, dentro de uma lixeira que ficava à
beira de uma movimentada avenida. Resultado: fumaça pelos ares e uma lixeira
destruída. Mas uma vez fiquei a matutar: pra que essa vontade de destruir um
objeto que estava ali para deixar a cidade mais asseada, mais bem apresentável.
Que noções de cidadania tinham aqueles garotos? Acabados de sair de um banco
escolar será que haviam assimilado o conceito de educação? Com certeza não
compreendiam que são nossos pequenos gestos que tornam o viver em sociedade
mais harmonioso.
O
progresso corre veloz. Avança como um foguete. A mentalidade do homem é que, ao
que parece, caminha a passos de tartaruga. Os países ricos que são os que mais
poluem são também quem mais relutam em desenvolver alternativas que promovam o
desenvolvimento sustentável. Só agora, ao que parece, depois de muito tempo de
alerta dos cientistas e da própria natureza é que sentimos que o mundo pode
desabar em nossas cabeças. Mas, como diz o ditado popular: antes tarde do que
nunca.
Enfim,
depois destas reflexões e de uns quarenta e tantos quilômetros pedalados cheguei
em casa. Enquanto tomava aquele banho relaxante pensava: “Se eu pudesse subiria
ao topo do mundo e colocaria lá um outdoor com os seguintes dizeres: NOSSO AR É
PRECIOSO, NOSSAS MATAS SÃO SANTUÁRIOS ECOLOGICOS, NOSSOS RIOS SÃO DIAMANTES
CRISTALINOS. NOSSO PLANETA NÃO É LIXO!
* A
Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, foi
realizada de 13 a 22 de junho de 2012, na cidade do Rio de Janeiro.
José Flávio
(zeflavio36@hotmail.com)
Fotos: Flávio
Do blog: Flávio é um velho amigo meu, aqui de Ceará-Mirim (mais precisamente de Capela) que hoje reside em Campinas/SP e vem sempre colaborando com o Retratos e Canções. A você, Flávio, o meu agradecimento e o meu abraço. (Eliel Silva)
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