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"Engolimos de uma vez a mentira que nos adula e bebemos gota a gota a verdade que nos amarga." Denis Diderot

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Coisas sobre os Carlos


O soberano vai ao cinema

LUIZ CARLOS MERTEN E JOTABÊ MEDEIROS 



Quais músicas de Roberto Carlos você escolheria para a trilha do seu filme? A pergunta certa não é bem esta - "Quais músicas o Rei deixaria você usar"? Após um ano tentando, o diretor Breno Silveira, de À Beira do Caminho (filme que estreia nacionalmente em 10 de agosto), chegou ao cantor com uma lista de umas 12 canções e saiu com apenas quatro autorizações. Ainda assim, Silveira (que fez 5,3 milhões de espectadores com 2 Filhos de Francisco) ergue as mãos para os céus e agradece - as quatro canções que Roberto autorizou pessoalmente foram o substrato do seu filme. "Tem músicas que eu não cedo, é uma questão pessoal", justificou o cantor. E Breno, por outro lado - "Ele praticamente me deu as músicas. Cobrou muito barato, um preço simbólico, de quem não queria inviabilizar o filme.


A relação entre pai e filho está no centro do cinema de Breno Silveira. 2 Filhos de Francisco, a cinebiografia de Zezé Di Camargo e Luciano, é sobre o sonho de um pai para transformar os filhos em cantores de sucesso. À Beira do Caminho é sobre um caminhoneiro que não tem quem o espere em casa - o inverso de uma canção de Roberto - e que se liga a um menino, na estrada. Outra vez a estrada, agora uma estrada brasileira, não a que pavimentou a utopia beat de Walter Salles em On the Road. E há de novo pai e filho em Gonzaga, que trata da relação entre Gonzaguinha e Gonzagão, o sanfoneiro do Brasil - filme que Silveira finaliza para o centenário do artista, em novembro.
Cinema e música, música e emoção. É o tripé sobre o qual se assenta a estética do ex-fotógrafo Breno Silveira. Falando em emoção, quem mais poderia fornecer a trilha de seus filmes? O Rei. O cinema é fascinado pelo repertório de Roberto Carlos. Quando se pensa nele, em termos de cinema, a relação imediata é com os três filmes que o próprio Roberto interpretou para Roberto Farias, há mais de 40 anos. Roberto Carlos em Ritmo de Aventura, em 1968, foi o primeiro. Seguiram-se Roberto Carlos e o Diamante Cor de Rosa, em 1970, e Roberto Carlos a 300 Km por Hora, em 1971. À parte o apuro técnico e sonoro - para realçar as canções; cada filme pode ser ouvido como um CD, na época era um long-play, desde Como É Grande o Meu Amor por Você às Curvas da Estrada de Santos e De Tanto Amor -, não há muito mais para destacar e há críticos que não perdoam o diretor (de obras-primas do cinema brasileiro) por haver feito aquelas comédias alienantes enquanto o pau comia sob a ditadura, situação que o próprio Farias mostrou depois em Pra Frente, Brasil.

Só que a relação do Rei com o cinema não se esgota aí. Várias de suas composições parecem roteiros prontos de curta e você consegue ver as imagens enquanto ele canta - Detalhes, Eu Voltei e A Varanda. Esse fica ainda melhor, como roteiro, na versão cool de Nara Leão. Em 2003, quase uma década antes de Breno Silveira, Vicente Amorim também foi a Roberto Carlos pedindo autorização para que suas canções embalassem a odisseia de Romão, um brasileiro - interpretado por Wagner Moura na fase anterior ao Capitão Nascimento. Com a mulher e os cinco filhos, ele atravessa meio Brasil de bicicleta para realizar o sonho de reconstruir a vida no Rio Maravilha. De fundo, as canções do Rei. O Caminho foi produzido por Bruno Barreto. Coincidentemente, um verso de Roberto, da música Pra Ser Só, foi o que deu a origem a Amor Bandido, de Bruno, em 1978.
E há o Roberto internacional. Canzone per Te, em parceria com Sergio Endrigo, ganhou o Festival de San Remo (em 1968) e foi integrada à trilha de Roberto Carlos em Ritmo de Aventura, naquele mesmo ano. Isso contribuiu para popularizar o Rei na Itália, a ponto de Luchino Visconti o integrar à trilha de Violência e Paixão, de 1974. O filme é sobre um velho professor (Burt Lancaster) que vive isolado. Entra em sua vida uma família que vai desestabilizá-lo. Numa cena chave, uma orgia, todo mundo nu, o sexo é embalado pelo Rei - Testarda/La Mia Solitudine, cantada por Iva Zannichi. A cena é excepcional e a trilha inusitada, considerando-se que Roberto baniu E Que Tudo o Mais Vá para o Inferno de seu repertório.
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"Garota ir ao cinema é uma coisa normal,
mas é que eu tenho que manter
a minha fama de mau."
(Minha Fama de Mau - Erasmo e Roberto)

ERASMO CARLOS VAI GANHAR CINEBIOGRAFIA

Produção será baseada no livro 'Minha Fama de Mau' e terá direção do cineasta Lui Farias.
Erasmo Carlos e Bruno De Lucca (Foto: Divulgação)

Aos 70 anos o cantor Erasmo Carlos vai ganhar uma cinebiografia. O Tremendão, que tem 50 anos de carreira, falou ao jornal "Diário de S. Paulo" que torce para que um ator bonito fique com o seu papel. "Tem de ser lindão, né?", disse ele. A produção será baseada no livro "Minha Fama de Mau" (2009) e terá direção do cineasta Lui Farias, marido de Paula Toller. O filme está em fase de captação.


Fonte: JORNAL DIÁRIO DE SÃO PAULO - 17/7/2012 
 
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ROBERTO CARLOS AUTORIZA CD COM CLÁSSICOS RECRIADOS POR DJS  
O GLOBO - 23/7/2012

'Reimixed' foi idealizado há dez anos pelo produtor artístico Felipe Venâncio. 'Reimixed' desembarca nas lojas em setembro.

RIO - E chegou a hora de o Rei botar todo mundo para dançar - de novo. Em setembro, desembarca nas lojas "Reimixed", álbum com recriações eletrônicas de 14 músicas de Roberto Carlos. O lançamento oficial será em São Paulo, em data a ser anunciada, na "Festa de arromba - Emoções na pista", celebração em que os DJs apresentarão seus remixes, entre desfiles de moda, projeções de VJs e uma exposição de artistas plásticos que irão "remixar" a memorabilia do Rei.
Segundo o produtor artístico de "Reimixed" (e DJ com 27 anos de experiência), Felipe Venâncio, a ideia do disco de remixes surgiu há mais de uma década, época em que "existia um certo deslumbre com o poder subversivo da música eletrônica". Daquele projeto inicial, apenas duas faixas foram lançadas, como bônus do disco de Roberto Carlos de 2002: o "super club mix 2002" do DJ Memê para "Se você pensa" e o remix do DJ de drum n'bass Xerxes para "O calhambeque".

RC 'à frente do seu tempo'
Entre os remixes que não chegaram ao disco, estava um de Felipe para "O portão", que ele começou a tocar na noite. O sucesso inesperado da faixa acabou ajudando a estreitar as relações entre o DJ e a DC Set Produções, de Dody Sirena, empresário de Roberto Carlos. Há alguns meses, lá estava Felipe Venâncio discotecando no cruzeiro "Emoções em alto mar", quando foi apresentado por Dody ao Rei como "o DJ que fez o remix de 'O portão'". Ali, (re)nascia "Reimixed".
- Tenho percebido nos últimos anos como essas músicas vêm fazendo sucesso nas pistas - conta Dody Sirena. - E Roberto Carlos cada vez demonstra mais que está à frente do seu tempo. Por isso, entrou com entusiasmo nas ideias e nos projetos que vamos desenvolvendo juntos.
Há cerca de dois meses, depois que Roberto deu a permissão para "Reimixed", Felipe fez uma lista de pouco mais de 20 músicas, da qual o cantor cortou algumas poucas. E aí foi atrás de DJs "com visões mais musicais", divididos entre os criadores fundamentais, os pioneiros dos seus estilos e a nova geração, todos dispostos a respeitar as gravações "na força que elas têm".
- Não dá para pegar "Jesus Cristo", com todo aquele seu peso natural, e redesenhá-la à moda de Ibiza - exemplifica Felipe. - A ideia é vestir a voz dele com uma roupa nova, e não usá-la como instrumento de efeito. O Roberto está em primeiro lugar.
Alguns DJs já estão confirmados no "Reimixed". Saudado na Inglaterra como uma lenda do drum n'bass, o paulistano Marky escolheu remixar "Além do horizonte".
- Gosto bastante da fase 1970 do Roberto, que é bem soul, bem funk, com arranjos fantásticos - diz Marky, já planejando o remix. - Com certeza, vai ser drum n'bass, com uma pitada jazzística.
O carioca Memê volta a trabalhar com uma música de Roberto, desta vez "Fera ferida".
- Fiz o primeiro remix dele, em 1992 ("Se você pensa") - conta. - Há muito tempo eu queria remixar "Fera ferida". Ela tem uma letra dramática e um refrão que é totalmente mãos-para-cima.
Conhecido por remixes para Vanessa da Mata e Seu Jorge, o paulistano Fernando Deeplick ficou com "Eu te amo".
- Quero algo bem moderno e dançante, mas bem brasileiro, bom de ouvir - adianta.
Referência histórica do funk carioca, o DJ Marlboro vai de "Todos estão surdos".
- É uma faixa que funcionou muito melhor na pista do que no rádio - diz. - Quero fazer algo bem soul, com uma parte mais pesada de R&B. Talvez depois faça uma versão funk-favela.
Um catálogo poderoso

DJ do Bossacucanova, o carioca Marcelinho da Lua resolveu encarar "Cama e mesa".
- Ela tem um órgão num desenho jamaicano e um groove que pretendo fermentar na mixagem. Vou chegar a um jungle-canção rasteiro, para todo mundo cantar - promete.
Felipe Venâncio, claro, não vai ficar de fora de "Reimixed". Ele entra com "O portão", talvez em uma versão 2012. Além dos DJs, Felipe está convidando músicos para fazer remixes - Kassin é o único nome confirmado até agora. Um ou dois grandes DJs internacionais também devem participar.
Feliz por enfim estar concretizando esse projeto de mais de uma década ("As coisas com o Roberto se desenvolvem dessa maneira", observa), o presidente da Sony Music do Brasil, Alexandre Schiavo, acha que o "Reimixed" chega em um bom momento.
- É um projeto que vem para aproximar as diferentes parcelas que hoje compõem o público do Roberto - diz, acrescentando que, ao longo dos últimos anos, os projetos de catálogo envolvendo o cantor foram responsáveis pela venda de cerca de 5,5 milhões de discos.

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