Ano de 1967. Na tranqüilidade da sala de uma
mansão em Memphis, Tennessee, as mãos de um homem executam ao piano acordes
divinos. Sua voz suave, firme e potente entoa hinos de louvor a Deus. Canta tão
docemente que é fácil imaginar anjos sentados aos pés do piano bebendo daquela
fonte de canções maravilhosas. Aos 32 anos, já é um astro de fama
internacional, acostumado aos holofotes, ao assédio da mídia e muita badalação.
Talvez se deva a isso o fato de poucas pessoas conhecerem esse seu lado
místico. O nome desse homem: Elvis Presley. Fascinado ouço a interpretação da
música gospel We Call On Him(Nós Clamamos por Ele), é o cantar com a alma, com o sentimento. Logo em seguida é a vez de How
Great Thou Art(Quão Grande És Tú). Enquanto essa canção é magistralmente
executada ao piano, minha mente voa nas asas da melodia e vai parar nas matas
exuberantes da pátria que se cobre de verde, amarelo, azul e branco.
Quão grande és tu
Ergo meus olhos para a copa das árvores
centenárias que dão vida a imensa floresta. Elas se erguem imponentes e
majestosas em direção ao infinito. Seus galhos se agitam ao sabor do vento como
braços que, em desespero, clamam misericórdia aos céus. Enquanto folhas e
galhos se agitam e se debatem em doce lamento, o tronco que os sustenta permanece
firme e inabalável. Embaixo de todo esse espetáculo, humilde e silenciosa, está
a raiz indo terra adentro em busca do alimento que nutre, fortifica e verdeja a
árvore irmã.
Acima do verde intenso desenha-se um céu azul de
suave esplendor, mesclado de nuvens que ora desenham figuras de anjos, ora
desenham figuras de leões e, assim, vão brincando como se fossem crianças que
não se cansam de criar formas.
Suavemente meus olhos descem do céu a terra.
Sinto a quietude que me envolve. Ouço, não muito distante, uma orquestra de
colibris, pintassilgos e sabiás. Fecho os olhos e deixo o canto doce e sonoro
dessas maravilhosas criaturas invadir minha alma. De repente, ouve-se o som de
uma flauta em plena floresta: é o canto mavioso do uirapuru. A passarada silencia
enquanto o rei da passarada faz o seu solo de acordes longos e melodiosos.
Ainda ouço embevecido o cantar daquela ave
quando uma brisa leve traz até minhas narinas um cheiro gostoso de terra e
mato. Um pequeno mimo para o meu olfato.
Minhas mãos deslizam pelas folhas da calendula,
planta das flores cor-de-sol (flores amarelo-alaranjada, de perfume inigualável
e de folhas aveludadas). A pedra angular, na qual estão firmados meus pés, me
transmite segurança. À minha frente e um pouco mais adiante contemplo o
esplendor de uma cachoeira que desce forte e graciosa pelas encostas da
montanha. Ouço o suave murmurar das águas e isso me inebria. Sorvo em grandes
goles do vinho da felicidade que a natureza derrama em minha taça.
Entre as pedras ao pé da cachoeira forma-se uma
piscina natural de porte médio. Sinto o apelo irresistível da águas, enquanto
minhas roupas, debruçadas num galho qualquer, assistem meu corpo nu mergulhar
nas águas cálidas. Permito que a serenidade das águas me inunde. Uma emoção me
invade e me sinto voltar ao início de tudo quando era apenas um pequenino feto
envolto em liquido no útero de minha mãe. Pequenino ser a necessitar de
cuidados.
Imerso nessa estonteante beleza que me envolve e
fascina, ergo meus olhos para o alto e, dessa vez, minha pequenez se vê diante
da grandeza do Deus Altíssimo. Minha alma canta acompanhada do coro dos anjos
celestiais: “Quão grande és tu, maravilhoso Deus!”
Quão miserável é o homem que, envolto em véus de
tristeza, angústia e decepção, não abre os olhos para as infindáveis belezas da
criação. Infeliz de quem não olha a vida senão através do olhar da esperança. A
vida acontece ao nosso redor, a todo instante, seja na criança que nasce, seja
na flor que desabrocha, seja na luz de um radiante amanhecer. Basta abrir os
olhos e o coração.
Por que, pois, ó criaturas, não agradeceis e
dais louvores ao vosso Criador a cada instante de vossas vidas? Por que clamais
por Ele somente naqueles momentos em que pesadas nuvens cobrem o vosso céu? Por
que elevais a Ele o vosso clamor apenas quando todas as esperanças parecem
perdidas e tua taça de vinho se transforma numa taça de fel?
Nesses instantes vos lembrais que és um nada...
E Deus te quer tanto bem. Tu que nem acreditavas... E ele acreditava em ti o
tempo todo... Tu que nem o amavas... E ele te amava todo o tempo.
Levanta a cabeça, abre os olhos, aquieta e
sossega a tua alma, ainda que alguns instantes por dia e entra comigo na
floresta. Eleva teu espírito além das preocupações cotidianas. Lembra-te do que
disse o Mestre Jesus no Sermão da Montanha: bastam a cada dia as próprias
preocupações. Juntos façamos reverência ao Deus Criador, o nosso Rei e
Senhor... E deixemos que nossa alma cante junto com os anjos: Quão grande és
tu! Quão grande és tu!”
José Flávio
(Texto
inspirado nas músicas We Call on Him
e How Great Thow Art, gospels
interpretados por Elvis Presley)
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