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"Engolimos de uma vez a mentira que nos adula e bebemos gota a gota a verdade que nos amarga." Denis Diderot

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Eureka!


E eu...
e eu que guardo cada pedacinho de mim,
pra mim mesmo
rindo, louco...
louco... mas louco, louco de euforia...”
(“Coração Noturno” –
Raul Seixas/Kika Seixas/Raul Varella Seixas)


RÉQUIEM PARA UMA ESTRELA

...e que Deus te perdoe, Raulzito
nessa “metamorfose” final.
Você se foi como um “ouro de tolo”
numa manhã tão vazia
e nós que aqui ficamos
não vimos “a hora do trem passar”.
Só depois percebemos
que o teu espírito pairava
no último vagão desse trem.

...e que Deus te perdoe, Raulzito
pela tua “maluquez”.
Ele chamou à sua presença o “maluco”
mas deixou a tua “beleza” entre nós.
Que Deus te perdoe, Raulzito
pelas nuvens de fumaça que sopraste,
e pelo ácido que por vezes experimentaste,
e pelo álcool que o tiveste como amigo.

Hoje tu és realmente
uma estrela no abismo do espaço”.
Quando em vida terrena
tomaste sempre “o vinagre e o vinho”,
mas agora bebeste na fonte
da “água viva” do Filho de Deus.
A tua presença está viva entre nós.
O teu grito maior fugiu do final
de uma das tuas canções
e se ecoa pelo espaço:
Tente outra vez!”

Mas, que Deus te perdoe mesmo, Raulzito.
Por teres preferido ser um “cowboy fora da lei”.
E só agora, nessa viagem sem volta,
é que encontraste finalmente
a pedra do gênesis”.
O dia da tua morte foi para nós,
como em sonho, uma vez foi pra você,
o dia em que a terra parou”.
Nos deixaste a tua obra:
um diamante nas mãos de mendigos”.

E “por quem os sinos dobram”, Raulzito?
Ninguém vem nos dizer agora.
Se eu soubesse que estavas tão sozinho
naquela madrugada fria,
teria chamado teus admiradores fiéis,
e, num “acorde sustenido”,
faríamos uma canção
que afastasse de você todo vazio.
Mas “how could I know”?
Sim, como poderia eu saber?

Teu anseio de vida está retratado
no Bhagavad “Gita”
e a sua posição diante dessa vida enigmática
sempre se manteve intacta como uma “mata virgem”.
Foi “conservando o seu medo”
que perdeste o “medo da chuva”.
E tudo isso te levou para a glória.

Chegaram os “anos 80”
e disseste: “abre-te sésamo!”
Mais uma porta se abriu diante de ti
para acolher o seu som.
Prenúncio de um estúpido fim,
pois, no final desta década a tua voz se calou.

...e que Deus te perdoe, Raulzito.
Nunca mais farás o papel idiota
de uma “mosca na sopa”,
nem mais sonharás com a tua
sociedade alternativa”,
pois no lugar em que te encontras agora,
tenho certeza,
vives em total “liberdade”.
Enquanto que nós que aqui ficamos,
reunidos nesse “banquete de lixo”,
aguardamos um reencontro
no “juízo final”.

Ficarás eternizado no rock
que deixaste para nós,
e guiarás nossos passos
por tempos sem fim...
Porque, “carpinteiro do universo”,
darás um outro brilho às estrelas no céu.

Eliel Silva – Novembro de 1989

* Poema publicado em livreto sobre o cantor por ocasião do 3º Tributo a Raul Seixas, realizado no Centro Esportivo e Cultural de Ceará-Mirim, no dia 22 de agosto de 1992. Por muito tempo imaginei ter perdido esse trabalho, mas felizmente me foi resgatado graças a dedicação da professora Ana Célia que, bem mais que eu, costuma guardar tantas relíquias de tempos idos. Obrigado, amiga!
Imagem: Internet 

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