“E eu...
e eu que guardo cada
pedacinho de mim,
pra mim mesmo
rindo, louco...
louco... mas louco,
louco de euforia...”
(“Coração
Noturno” –
Raul Seixas/Kika
Seixas/Raul Varella Seixas)
RÉQUIEM
PARA UMA ESTRELA
...e
que Deus te perdoe, Raulzito
nessa
“metamorfose” final.
Você
se foi como um “ouro de tolo”
numa
manhã tão vazia
e nós que aqui ficamos
não
vimos “a hora do trem passar”.
Só
depois percebemos
que
o teu espírito pairava
no
último vagão desse trem.
...e
que Deus te perdoe, Raulzito
pela
tua “maluquez”.
Ele
chamou à sua presença o “maluco”
mas
deixou a tua “beleza” entre nós.
Que
Deus te perdoe, Raulzito
pelas
nuvens de fumaça que sopraste,
e pelo ácido que por vezes experimentaste,
e pelo álcool que o tiveste como amigo.
Hoje
tu és realmente
“uma
estrela no abismo do espaço”.
Quando
em vida terrena
tomaste
sempre “o vinagre e o vinho”,
mas
agora bebeste na fonte
da
“água viva” do Filho de Deus.
A
tua presença está viva entre nós.
O
teu grito maior fugiu do final
de
uma das tuas canções
e
se ecoa pelo espaço:
“Tente
outra vez!”
Mas,
que Deus te perdoe mesmo, Raulzito.
Por
teres preferido ser um “cowboy fora da lei”.
E
só agora, nessa viagem sem volta,
é
que encontraste finalmente
“a
pedra do gênesis”.
O
dia da tua morte foi para nós,
como
em sonho, uma vez foi pra você,
“o
dia em que a terra parou”.
Nos
deixaste a tua obra:
“um
diamante nas mãos de mendigos”.
E
“por quem os sinos dobram”, Raulzito?
Ninguém
vem nos dizer agora.
Se
eu soubesse que estavas tão sozinho
naquela
madrugada fria,
teria
chamado teus admiradores fiéis,
e,
num “acorde sustenido”,
faríamos
uma canção
que
afastasse de você todo vazio.
Mas “how could I know”?
Sim,
como poderia eu saber?
Teu
anseio de vida está retratado
no
Bhagavad “Gita”
e
a sua posição diante dessa vida enigmática
sempre
se manteve intacta como uma “mata virgem”.
Foi
“conservando o seu medo”
que
perdeste o “medo da chuva”.
E
tudo isso te levou para a glória.
Chegaram
os “anos 80”
e
disseste: “abre-te sésamo!”
Mais
uma porta se abriu diante de ti
para
acolher o seu som.
Prenúncio
de um estúpido fim,
pois,
no final desta década a tua voz se calou.
...e
que Deus te perdoe, Raulzito.
Nunca
mais farás o papel idiota
de
uma “mosca na sopa”,
nem
mais sonharás com a tua
“sociedade
alternativa”,
pois
no lugar em que te encontras agora,
tenho
certeza,
vives
em total “liberdade”.
Enquanto
que nós que aqui ficamos,
reunidos
nesse “banquete de lixo”,
aguardamos
um reencontro
no
“juízo final”.
Ficarás
eternizado no rock
que
deixaste para nós,
e
guiarás nossos passos
por
tempos sem fim...
Porque,
“carpinteiro do universo”,
darás
um outro brilho às estrelas no céu.
Eliel
Silva – Novembro de 1989
* Poema publicado em livreto
sobre o cantor por ocasião do 3º Tributo a Raul Seixas,
realizado no Centro Esportivo e Cultural de Ceará-Mirim, no
dia 22 de agosto de 1992. Por muito tempo imaginei ter perdido esse
trabalho, mas felizmente me foi resgatado graças a dedicação
da professora Ana Célia que, bem mais que eu, costuma guardar tantas relíquias
de tempos idos. Obrigado, amiga!
Imagem: Internet
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