Mais um delírio...

"Por esse pão pra comer, por esse chão prá dormir
A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir,
Deus lhe pague."

(Deus Lhe Pague - Chico Buarque)

 

Segunda-feira das almas

Acordar na segunda feira com uma voz lá fora da sua casa, num tom que misturava piedade com encenação é algo assustador para se começar a semana. Ainda bem que não era primeiro do mês, nem dia treze. Ligo o rádio e ouço Chico cantando em dueto sua famosa Construção. Não identifiquei seu parceiro de canto porque naquela emissora, apesar de tanto propagar ser a melhor, seus locutores nunca dizem os nomes dos intérpretes e dos autores das canções. E eu insisto em lutar. Vou trabalhar... a pé mesmo. Graças a Deus não me é preciso pegar duas ou três conduções pra chegar ao destino. Acomodação?! Sorte, talvez! Então entro no delírio da realidade. Nem posso sonhar, somente seguir em frente e viver. Diz o ditado que “a formiga só trabalha porque não sabe cantar”. Esse dom eu não tenho. Talvez me saia um pouco melhor noutras tarefas, e assim vou à luta. Melhor produzir pouco que não produzir nada. Melhor praticar o bem que ficar denegrindo a imagem das pessoas, escondido num anonimato covarde e escrevendo ruim para disfarçar. Uma alma doente é coisa muito triste. Incomoda. Destrói pessoas. Não existe construção perfeita para ela.

Texto: Eliel Silva

Imagem: Internet