“Os meus olhos têm a fome
Do horizonte
Sua face é um espelho
Sem promessa
Por dezembros atravesso
Oceanos e desertos.”
Do horizonte
Sua face é um espelho
Sem promessa
Por dezembros atravesso
Oceanos e desertos.”
(Dezembros – Fagner/Zeca Baleiro)
DEZEMBRO
Paulo Roberto França
A minha empatia com dezembro vem de muito longe. Dezembro é um mês que tem gosto de caju, cheiro de coisa nova, cor azul. Na reta final de cada ano, eis que ele chega anunciando a nossa festa da Conceição, o Natal, os abraços,o verão , as férias, o resumo do que fomos e os planos mirabolantes para o próximo ano . Eu não me esqueço dos dezembros da meninice. Os presépios me marcaram muito, principalmente o da nossa vizinha, D. Maria Correia. Todo dia passava para visitar aquele presépio tão bem armado e zelado por ela, que me deixava entrar e parar no tempo olhando aquela cena parada que me dizia muito. Ainda agora me vem o cheiro gostoso que exalava do ambiente. Um cheiro de flores do campo que me embriagava sem que conseguisse saber de onde vinha. Tinha também o presépio da Igreja, onde o sacristão me suspendia para que alcançasse colocar moeda na santinha que sempre balançava a cabeça num gesto de agradecimento. Marcaram-me também os jantares de minha avó após a Missa do Galo. Sempre tinha bolo e guaraná champanhe; coisas raras lá em casa nos outros dias. Tinha também os passeios nas calçadas puxando os carrinhos no cordão, exibindo assim o presente de Papai Noel para os outros amigos e, ainda o tradicional passeio à Barra de Maxaranguape, para tomar banho de mar e lavar as maledicências do ano findo. Coisas de dezembro.
Os dezembros da Festa da Padroeira foram demais. A roda gigante do Parque São Luis e a onda marinha de Seu Quinô levavam parte do nosso pouco dinheiro. Quem de nós, hoje quarentões, não tomou cerveja nos botequins ouvindo o Lp novo de Roberto Carlos? Quem não vestiu roupa nova para festa do dia 8, no Centro Esportivo, onde ao som dos “Terríveis” se amassava as primeiras namoradas? Quem não curtiu o sol de Jacumã ?Coisas de dezembro. Só de dezembro.
Agora, vivo dezembros diferentes já sem aqueles belos e simples presépios, apenas tenho um em miniatura que fica na sala quase imperceptível, talvez escondendo minhas saudades; sem os carrinhos na calçada, pois meus filhos não crêem em Papai Noel e já me pediram um brinquedo eletrônico que nem sei pronunciar o nome, enquanto faço cálculos prá vê se posso comprar e nos seus boletins escolares prá vê se passarão por média . Até acho legal andar pelos shoppings. É tudo bonito, mas superficial, sem falar nas mudanças da festa da padroeira. Pode até ser mais organizada, mas cheia de gente estranhas em busca de bandas de muito mal gosto. O sol continua na praia, porém causando mais males na pele conforme dizem os especialistas. Apesar de tudo continuo amando dezembro, porque ele ainda me traz gosto de caju, aguça meu olfato com coisas novas e continua infinitamente azul; basta “mirar” a procissão da Imaculada na ladeira do Patu, para sentir o tom celestial que cobre Ceará Mirim. Coisas de dezembro. Só de dezembro. Inesquecíveis dezembros.
Um comentário:
Parabéns Dr. Paulo Roberto pelo ótimo texto que me fez lembrar os dezembros de minha infância mossoroense. Em um deles ganhei de "Papai Noel" uma locomotiva plástica, de cor preta que, ao ser apertada, emitia o apito do trem, cujo som trago até hoje nas lembranças.
Edvaldo Morais
Ceará-Mirim/RN
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