A DAMA DO LOTAÇÃO
Paulo Roberto Gomes de França
Lúcio Som, o dono da voz em nosso vale. Mas aqui vou destacar uma mágoa (que já confessei ao próprio) e uma dívida que o mesmo tem comigo. Eram os tempos do Cine Paroquial. Lúcio passara a semana anunciando o novo filme com Sônia Braga, musa da minha geração. Eu, transpirando testosterona e com o rosto repleto de espinhas já juntara a grana para comprar o ingresso e vê-la nua mais uma vez. Diziam que neste filme ela saia dando pra todo mundo e isto vinha fantasiando o banho de toda garotada da época. Eu, inclusive. Chegou o grande dia e junto com alguns amigos fomos ao cinema do padre (até hoje não entendo como era que Padre Rui deixava exibir aquele tipo de filme). Em fila fomos entrando, ou melhor, os outros entraram, porque eu fui barrado por Lúcio som na frente da borboleta. O “algoz” alegou que eu era pequeno, de menor, problemas com os comissários, etc. logo eu. Perdi o ingresso, voltei desolado, sem direito a confirmar na telona “cinemascop” o que minha mente já sabia de cor. Sônia Braga era o máximo. Meus amigos, muitos da minha idade, naquele momento estavam loucos com ela “cantando” tudo que era homem dentro de um vestido vermelho e de um ônibus. Eu estava condenado, privado daquela maravilha. Não sei o que esse “pô” tem contra mim. Repetia sozinho. Só podia ser marcação. Mas por que? De que? Depois vieram outros filmes, outras idades, outros ideais. Só a Sônia Braga da década de 70 continua a mesma na imaginação de toda uma galera, hoje acima dos quarenta anos. Odiei Lúcio por muitos anos. Boicotei o seu cinema por muito tempo. O trauma foi tão grande que outras vezes tive a oportunidade de ver aquele filme, mas inexplicavelmente não o vi até hoje. Atualmente somos amigos, apesar do pouco contato. Quando lhe narrei esta minha desilusão cinematográfica, rimos bastante. Quanto a dívida que mencionei no início... até hoje espero um dvd daquele filme que me foi prometido como prova de redenção. Talvez “venha logo mais às 20 horas na tela do Cine Paroquial...” “Velhos tempos, belos dias,” como diria o rei.
* Publicado originalmente em março de 2007, no Blog CHAMINÉ.
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