BIRINHA, até um dia, até talvez, até quem sabe...
“Senti que alguma coisa ia me dizer/ No tempo que restava antes de partir/ Mas seu silêncio me dizia muito mais/ Que todas as palavras que eu pudesse ouvir/ No olhar uma tristeza disfarçava/ No peito uma saudade antecipava...”. Esse trecho da música “A Estação” do rei Roberto Carlos retrata com fidelidade o meu último contato com Birinha. No final do jogo entre o Alecrim FC e o Santa Cruz de Recife no Estádio Almeidão em João Pessoa, no último 17 de julho. Nos minutos finais dessa partida, ele desceu as arquibancadas, tocou no meu ombro e com um sorriso sincero e triste se despediu como quem previa que aquele seria o nosso último encontro.
O doutor Ubirajara de Holanda Cavalcanti Júnior, para nós alecrinenses era apenas Birinha, aquele menino sobrinho de Chico, que frequentava os jogos do Verdão Maravilha e se tornaria mais tarde um torcedor apaixonado, sendo depois conselheiro e advogado do clube esmeraldino, tendo este ano salvado a nossa agremiação de descer para a segunda divisão estadual, quando conseguiu diminuir a pena de suspensão de nossa zaga titular de quatro jogos para apenas uma partida.
Garoto brilhante partiu com apenas 25 anos deixando um vazio imenso, uma saudade enorme e uma pergunta que não quer calar: Por quê? Só os desígnios de Deus podem nos responder, mas eu na minha ignorância religiosa não consigo entender. Só sei que é mais uma provação para essa torcida tão sofrida, que nos últimos anos tem perdido de forma trágica torcedores e dirigentes jovens como foram os casos dos saudosos ex presidentes Edmar Viana e Reginaldo Bezerra, e a torcedora Mínéa Franco Dantas. Birinha era nossa maior esperança de ver um Alecrim forte e campeão, portanto essa foi uma perda irreparável. Sendo ele uma pessoa extremamente justa não admitia as injustiças e as discriminações que eram cometidas contra nosso clube, por isso o defendeu tão bem tendo sido talvez o advogado mais jovem de um clube de futebol com um detalhe de ser também componente de sua torcida organizada a FERA – Fieis Esmeraldinos Radicais. Com o seu dinamismo, era um dos organizadores da festa do ex aluno do IFRN onde formou-se em Gestão Ambiental, isto é, sempre ligado ao verde. As lembranças são inevitáveis e inesquecíveis. Citarei quatro que marcaram muito: no dia do acesso do Alecrim à série C, quando ele, Chico e eu fomos comemorar numa pizzaria da Roberto Freire e ele nos falava do sonho em presidir o Alecrim FC, a promessa de ir a Fátima, em Portugal e trazer uma imagem de Nossa Senhora de Fátima. Sonho que Chico realizou com ele em 2008; uma comovente era quando faltava alguém na charanga ele vinha nos ajudar tocando o bombo sem muito ritmo. A última pra mim é a mais marcante: no dia 10 de abril desse ano, no jogo Alecrim e América quando eu tive um problema de saúde e precisei deixar o estádio Machadão em uma ambulância, no meio de dezenas de torcedores alecrinenses ele fez questão de me acompanhar até o hospital.
É por essa e outras que considerava Birinha o filho homem que eu não tive.” Hoje lembro de tudo como era antes, sem despedidas e vidas tão distantes”. Agora entendo essa mensagem da música “O Divã” do rei Roberto Carlos quando canta:” Essas recordações me matam ...”. Por isso Birinha, obrigado por tudo, que Deus esteja com você. Por isso eu canto como a saudosa Maysa: “Até um dia, até talvez, até quem sabe...”
José Normando Bezerra
Natal/RN
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