-

"Engolimos de uma vez a mentira que nos adula e bebemos gota a gota a verdade que nos amarga." Denis Diderot

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Só na China

"Quantas estradas precisará um homem andar
Antes que possam chamá-lo de um homem?
(...)
Sim, e quantas mortes ele causará até ele saber
Que muitas pessoas morreram?
A resposta, meu amigo, está soprando no vento."
(Blowin' In The Wind - Bob Dylan)



Bob Dylan estreia na China aos 69 anos e sem músicas de protesto


Antonio Broto
De Pequim

Foi preciso esperar 50 anos de carreira, mas nesta quarta-feira Bob Dylan pôde finalmente se apresentar na China comunista, embora sem cantar seus hinos políticos mais famosos, "The Times They Are A-changin'" e "Blowin' In The Wind". O público de Pequim, no entanto, pareceu não se importar, vibrou emocionado e respondeu com aplausos, especialmente quando Dylan tocou outra de suas músicas mais populares, "Like A Rolling Stone". Cerca de 10 mil pessoas, aproximadamente 90% da capacidade máxima, assistiram ao histórico show no Ginásio dos Trabalhadores de Pequim, que não via tanta animação desde quando acolheu as disputas de boxe nas Olimpíadas de 2008. O público, formado em sua maioria por jovens e estrangeiros, também se entusiasmou com outro de seus clássicos, "A Hard Rain's A-Gonna Fall", embora tenha se mostrado um pouco frio no início do show, quando Dylan tocou alguns de seus trabalhos mais recentes.
O artista, que no dia 11 de abril comemorará 50 anos de carreira, preferiu em boa parte da apresentação desviar o centro das atenções para seus companheiros de banda, tocando quase sempre o teclado em uma das laterais do palco, embora em algumas ocasiões tenha prendido o violão no pescoço e lançado mão de sua inseparável gaita, que quando soou obteve as mais entusiasmadas palmas do público. Tudo isso em um cenário austero, no qual a longa sombra do cantor e seu chapéu foram na maior parte do tempo a única decoração. Dylan quase não falou com o público entre as músicas, mas compensou dando o máximo de sua rouca voz em cada canção e pondo a plateia de pé no final da apresentação, algo raro em um país onde todos os shows são sentados. No fim do espetáculo, ao contrário de sua performance anterior - em Taipé, a capital da ilha de Taiwan -, Dylan não recitou sua ode contra a guerra, "Blowin' In The Wind", e optou por uma canção sem conotações políticas na qual se declarou disposto a continuar na estrada por muitos anos: "Forever Young". A ausência de canções como "The Times They Are A-changin'", que nos anos 1960 alimentou os sonhos revolucionários ocidentais, faz pensar se a censura chinesa, como ocorreu há meia década com os Rolling Stones, não teria enviado aos organizadores uma lista de canções "não permitidas", embora a pergunta a esta dúvida, como diria Dylan, está pairando no vento. Contudo, a apresentação do antigo "rebelde", que será repetida dentro de dois dias em Xangai, é um detalhe, embora simbólico, da abertura do país ao exterior, em um momento especialmente difícil para as liberdades no gigante asiático, devido à perseguição à dissidência elevada com a prisão do mais famoso artista nacional, Ai Weiwei.
O show desta terça-feira, unido ao apresentado recentemente em Pequim por outros artistas veteranos como The Eagles, levanta a hipótese de que as autoridades culturais chinesas abandonaram o receio sobre as estrelas de rock estrangeiras que se iniciou em 2008, quando a islandesa Björk pediu a independência do Tibete em Xangai. Dylan, por sua vez, tem nos próximos dias outro evento de grande importância simbólica para sua carreira: um show marcado para o próximo dia 10 de abril em Ho Chi Minh, a antiga Saigon. Será sua primeira atuação no Vietnã, um país cuja guerra foi condenada pela juventude americana enquanto ouvia as canções deste pai do rock alternativo.

Fonte: uol Música
http://musica.uol.com.br/ultnot/efe/2011/04/06/bob-dylan-estreia-na-china-aos-69-anos-e-sem-musicas-de-protesto.jhtm

Nenhum comentário: