“No toca-fita do meu carro,
Uma canção me faz lembrar você,
Acendo mais um cigarro
E procuro lhe esquecer.”
(No Toca-Fitas do Meu Carro -
Bartô Galeno / Carlos André)
Fita cassete resiste como fetiche de colecionadores
THALES DE MENEZES
DE SÃO PAULO
A pesquisa foi difícil, mas o resultado impressiona: o site de compras Amazon.com oferece fitas cassete novas, ainda embaladas em plástico, de mais de 2.600 títulos de pop e rock.
Sim, as fitas cassete originais, com a capinha do disco, aquelas que muita gente considerava extintas.
Além dessas, novidades chegam ao mercado. Os próximos lançamentos de Pearl Jam e Foo Fighters também virão nesse formato.
Depois da "volta do vinil", surpreende ver que o pop pode ser ainda mais retrô. Os fãs desejam as fitas como se fossem camisetas ou qualquer item de colecionador.
A Amazon sabe disso, e seu departamento de estratégia coloca preços bem diferenciados para esses consumidores.
Assim, uma fita nova de Whitney Houston é vendida a menos de R$ 4, mas um exemplar ainda lacrado em plástico de "OK Computer" (1997), do badalado Radiohead, custa cerca de R$ 56.
O produto mais caro da loja em formato de fitas é o box "The Beatles", com todos os álbuns originais do quarteto e mais dois cassetes bônus. Custa cerca de R$ 1.600.
Dependendo da fita, mesmo usada ela pode valer muito. Há dois meses, um site americano de leilões vendeu um cassete do projeto USA for Africa, o "We Are the World", por cerca de R$ 330.
Paulo Sokol, proprietário da Engenharia do Vinil, exibe
fitas da banda Legião Urbanaem sua loja, em São Paulo
TAMBÉM NO BRASIL Essa valorização de raridades ainda não chegou com força ao Brasil, mas o mercado de fitas já ressuscita. Paulo Sokol, 38, abriu em 2008 a loja Engenharia do Vinil, no centro de São Paulo.
Apesar do nome, desde o início ele dedica espaço aos cassetes. Embora outras lojas de álbuns usados também exibam algumas fitas à venda, é nessa que elas ocupam toda uma parede.
Os preços variam de R$ 5 a R$ 25, um pouco mais por fitas bem raras. "Que loucura pagar mais de R$ 300 pelo 'We Are the World'. Vendi uma por R$ 5", lamenta. Paulo também é colecionador. Além das incontáveis fitas, tem sete toca-fitas, entre walkman, aparelhos de som e decks profissionais.
Segundo ele, o que mais vende é metal e rock dos anos 80, época da maior produção de fitas no Brasil e no mundo. Mas ícones pop, como Beatles, Madonna e Elvis Presley, sempre atraem. "Madonna é uma loucura, vende tudo. E outro dia um cara veio aqui e comprou todas que eu tinha de Elvis, umas 12 fitas."
Ezio Fernandes de Avilla, 49, comerciante e colecionador de fitas, frequenta a loja. "Guardo também vinil e CD, mas já tive umas 800 fitas."
Além de procurar clássicos que admira, como David Bowie e Roxy Music, Ezio está atento a novidades. "No ano passado, uma banda que eu gosto muito, Goldfrapp, lançou uma edição em cassete de seu álbum mais recente, 'Head First', mas o preço passou dos R$ 100, não deu para comprar." Ele costuma pagar até R$ 25 por uma fita.
Outro tipo de consumidor que ajuda a manter vivo o mercado de fitas é aquele que escuta música no carro. Segundo Fausto Batalha, dono de uma loja de som automotivo, ainda são fabricados no Brasil seis modelos de rádio para carro com toca-fitas.
Quem compra carros antigos quer fitas. "O rádio original é valioso num carro antigo. Nem precisa ser tão velho, os alemães até 2008, por exemplo, ainda têm toca-fitas", explica Batalha.
A volta do vinil foi bancada pelas gravadoras. Quanto ao cassete, nenhuma ainda se mexeu. Para os colecionadores, só aumenta o fetiche.
Fonte: Folha.com - Ilustrada http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/886249-fita-cassete-resiste-como-fetiche-de-colecionadores.shtml
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