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"Engolimos de uma vez a mentira que nos adula e bebemos gota a gota a verdade que nos amarga." Denis Diderot

domingo, 12 de dezembro de 2010

Melancolia do adeus

- Um dia eu vi o sol se pôr quarenta e três vezes!
E um pouco mais tarde acrescentaste:
- Quando a gente está triste demais, gosta do pôr-do-sol...
- Estavas tão triste assim no dia dos quarenta e três?
Mas o principezinho não respondeu.
(Antoine de Saint-Exupéry)



A Tempestade ou O Livro dos Dias

Por Isabel Silva

Quem é fã do grupo Legião Urbana, ao ouvir o último CD da banda, se perguntou o motivo da mudança de estilo em que eles se transformaram quando gravaram o CD. Nada, nem letras nem melodias dos CD’s anteriores chegam aos pés desse. Renato Russo (cantor e compositor, líder da banda) colocou todos os seus sentimentos no álbum “A tempestade ou O Livro dos Dias”, que foi lançado apressadamente em 20 de Setembro de 1996, depois do intervalo mais longo entre um CD e outro.
A polêmica do último CD lançado da banda com o líder ainda em vida começou na escolha do nome. O Renato (vocalista) preferia o nome “A Tempestade”, enquanto o Marcelo Bonfá preferia “O Livro Dos Dias”. O álbum acabou sendo lançado com os dois nomes, porém, em sua capa, só aparece “A Tempestade”.
Sou muito fã da banda, desde criancinha, porém é preciso deixar minha paixão de lado para falar dos pontos baixos do CD. Mas não se esquecendo dos pontos altos.
Portador do vírus HIV, Renato Russo compôs e gravou as faixas do álbum enquanto lutava contra a doença, deixando o CD belo e muito melancólico. Com letras relativamente grandes, com a maioria das melodias lentas e introduções compridas, o CD passa uma sintonia fora do normal para o ouvinte, o que pode tornar-se cansativo. Os temas do álbum são: solidão, AIDS, homossexualismo, amor, passado e injustiças. As imagens do álbum foram inéditas, exceto as do Renato que se recusou a tirar fotos para o álbum durante a doença. Eles deixaram de seguir um costume que virou marca para os fãs: enquanto todos os álbuns vinham com as frases "Urbana Legio Omnia Vincit" e "Ouça no Volume Máximo", esse veio com uma frase do escritor modernista brasileiro Oswald de Andrade: "O Brasil é uma república federativa cheia de árvores e gente dizendo adeus", o que nos faz pensar mais uma vez que o álbum é uma despedida. O álbum traz rock clássico, lirismo e classicismo.
Isso tudo não quer dizer que o disco não possui músicas alegres. Há espaço para músicas com letras mais cotidianas, mais dançantes e até para storyboard.
Não é preciso falar, mas estão aí os fãs que não me deixam mentir, “A Tempestade” é um dos melhores discos do Legião, isso se não for o melhor. Se você é do tipo de pessoas que só gosta de músicas agitadas, sem letras ou melodia alguma, só batida, por favor, não ouça! Mas se não, vá à primeira loja e procure o álbum. Pra mim, é o álbum mais bem pensado da banda e é meu preferido e não hesite em ouvir, sim, no volume máximo a despedida do Renato quando ele canta “e quando eu for embora, não, não chores por mim”.
Já vimos de tudo nas letras do Legião Urbana: drogas, sexo, suicídios, amores e solidão, e, infelizmente, não virá mais nada depois “da tempestade”.

Créditos:
Texto: Isabel Silva
Fotos: scanner do CD
 
Nota do blog: Para mim esse é um dos melhores, ou senão o melhor disco da Legião. E o ouço tão pouco, ante a sua carga de melancolia, o que me dá medo. Mas talvez por isso mesmo seja tudo tão sincero ali. Encontrei também em uma das canções desse disco a frase Oscar: "Digam o que disserem o mal do século é a solidão, cada um de nós imerso em sua própria arrogância esperando por um pouco de afeição". Levando em consideração que depois desse disco eu não encontrei mais alento, já nem sei se devo acreditar na velha máxima de que "depois da tempestade vem a bonança". O sol ainda não voltou.

6 comentários:

Edvaldo Morais Lopes disse...

Belzinha, estou orgulhoso de ler este texto, principalmente porque foi escrito por você, bendito fruto de Eliel & Dora.
Bj do Tio Ed.

Pedro Torres da Rocha disse...

Muito bom o texto. Leitura fácil e interessante, como todos que vejo postados no "Retrato e canções". Parabéns!!!
Um abraço para toda família.

ELIEL SILVA disse...

Quero agradecer em nome de toda família aos amigos Edvaldo Morais, Pedro Torres, Dr. Paulo Roberto (que me enviou um e-mail) e a todos que apreciaram o texto da Belzinha. Ela herdou do pai essa paixão pela música e essa ousadia de escrever de vez em quando. É por isso que eu não paro de "lamber a cria". Deus seja louvado!

adrianoisrael disse...

Ainda a respeito da Legião: conheci o trabalho deles muito após o falecimento do Renato, quando eu era aluno do CEFET/ETFRN. E como dizem por aí, mesmo com a morte de seu líder continua viva nos corações dos seus fãs que ainda sentem nas suas letras algo bem além de seu tempo, quer dizer, que não se foi com o compositor, mas que fica atualizando-se permanentemente. "E nossa história não estará pelo avesso assim, sem um final feliz, teremos coisas bonitas pra contar!"(RRusso)

Anônimo disse...

Pô Cara, esse album do Legião é ótimo Eliel, relembrou alguns anos atras, o que acontece com todo "rockeiro", sua época de melancolia... outro som que complementava este album foi o lado B de Cazuza, que por coincidencia tambem foi surpreendido pelo mesmo mal que levou Renato.
Valeu - Eduardo

Euds Martineri disse...

Amigo Eliel, parabéns pela filha inteligente que tens, quem é Pai como somos, palpita logo o coração ao ver ou ao ler algo que a filha Desenhou ou escreveu. Tenho 2 filhas a Eyla Thuanny e a Elen Thaianny... minhas pedras preciosas... a Eyla de 10 anos já me surpreende de vez em quando com algum "rabisco" e no interesse espontâneo sempre que faço alguma "arte"... rsrs.. isso é fantástico. Mais uma vez parabéns, a você e a Ela também pelo exelente texto. Grande abraço amigo!!!
Ps.: Dê uma olhadinha aí no meu Blog a mais recente postagem é uma Caricatura que fiz, lembrei de você, acho que tu vai gostar.