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"Engolimos de uma vez a mentira que nos adula e bebemos gota a gota a verdade que nos amarga." Denis Diderot

sábado, 27 de fevereiro de 2010

O som do vale

Meu mestre, minha vida


“Eu corri pro violão, um lamento,
e a manhã nasceu azul.
Como é bom poder tocar um instrumento.”
(Tigresa – Caetano Veloso)

Raimundinho

Da maneira como venho conduzindo esse blog, contando histórias que me envolvem, um leitor desavisado ou menos atento poderá pensar que estou querendo aparecer. Mas não é isso. Juro que não. É que eu não sei muito fantasiar as coisas, e primo pela originalidade, então prefiro falar de fatos corriqueiros que eu vivi. Se prestarem bastante atenção verão que o foco das matérias é quase sempre alguém próximo a mim, e não necessariamente a minha pessoa. Pessoas que a vida me deu o privilégio de participar de algum momento de suas vidas. Então eu vejo que algumas dessas figuras são completamente esquecidas. Aí eu me boto a falar sobre elas. Raimundinho, por exemplo, foi um excelente violonista; tocou pra tanta gente. E tem alguma coisa escrita sobre ele? Nunca vi. Gostaria de, a exemplo do que já fiz com outros músicos, me aprofundar um pouco mais sobre a sua história, mas já não sei onde encontrar seus familiares. Mesmo assim eu quero falar um pouco sobre esse baixinho. Ele foi o meu professor de violão. Lá pelos anos de 1978/1979, recebi as primeira lições. Naquele seu método antigo: Primeira de Dó, Segunda de Dó, era por aí... Mais tarde, de posse de algumas revistas Violão & Guitarra, fui descobrindo os novos acordes: A, B, C., D, E, F, G... e aqueles seus complicados derivados.
Vieram os acordes dissonantes, diminutos, etc. Mas aquelas primeiras notas foram marcantes para mim. A descoberta dos sons, a construção dos acordes, o dedilhado no violão. Raimundinho me ensinou a tocar muitas músicas naquele meu início de carreira de músico. Devo ter passado um ano e meio sob a sua batuta. O mestre era um batalhador. Trabalhador informal, fazia de tudo. Por vezes eu o encontrava na batalha do tranco, quando eu passava pra Natal de carro, lá ia ele subindo a ladeira das “cacimbas” com um burrinho carregado de lenha. À noite era a vez de percorrer as residências dos seus alunos para ministrar as suas aulas. De vez em quando eu o surpreendia “pescando”. Era o cansaço do dia a dia, e o baixinho as vezes não resistia, e enquanto o aluno “passava a lição”, ele cochilava. Raimundinho se foi. Se foi como tantos outros músicos daqui: Misael, Zé Gago, Taumaturgo, Amarildo... Já foram tantos! E quem haverá de lembrar também desses heróis? Eu não sei. Estou fazendo a minha parte. Lembro que no sepultamento do violonista poucas pessoas se fizeram presentes. Apenas os familiares e alguns amigos unidos pela música. Será assim com todos! Uma voz que se cala, um instrumento que silencia.

Foto: Fotógrafo não identificado

2 comentários:

Anônimo disse...

0i Eliel ! Parabens pela materia, o caminho é esse. Falar sobre esses musicos,poetas e artistas de nossa ceará mirim faz bem.É muito bom relembrar que temos nomes fantasticos não reconhecido por muitos. Hoje vivemos um momento onde se abre a mala prá ouvir a "bicicletinha" "reboleicho" realmente precisamos de um pouco de cultura. Um abraço do amigo; Rossine Cruz

Unknown disse...

Amigo Eliel, parabéns pela lembrança desse grande violinista que foi Raimudinho.bem como você, Raimundinho também me deu algumas aulas de violão, três vezes por semana ele ia lá em casa à noite para me dar aulas de violão. Muitas vezes cansado,porém não faltava. Pois é amigo que bom que você está fazendo esse trabalho maravilhoso. PParabéns por valorizar pessoas humildes , esquecidas pelo tempo mas de grande valor. Um grande abraçop.