NÓS SOMOS O MUNDO
Vinte e cinco anos já se passaram daquele encontro histórico, único, inimitável, onde 45 dos maiores nomes da música se reuniram num estúdio, na noite de 28 de janeiro de 1985 para a gravação do single We Are The World, com o objetivo de arrecadar fundos para combater a fome na África. Gesto tão nobre havia acontecido em agosto de 1971, quando o ex-beatle George Harrison, atendendo ao chamado do músico indiano Ravi Shankar, realizou no Madison Square Garden, em Nova Iorque, o Concerto para Bangladesh para ajudar a população daquele país.
USA for Africa, projeto idealizado por Harry Belafonte talvez tenha sido mais audacioso no sentido de convencer tantas celebridades para um encontro em prol de uma causa que não fosse o trabalho individual de cada um. Por via das dúvidas, na porta do estúdio havia um aviso: “Favor deixar seus egos pendurados antes de entrar.” Propício para aquele momento. O que não impediu que lá dentro, dois artistas quase se desentendessem por conta de um verso da canção que um deles sugeria mudar. Mas o bom foi ver aqueles monstros sagrados da música tão indecisos e indefesos diante da genialidade do maestro Quincy Jones responsável pela regência do grupo e arranjos da música.
Algum tempo depois consegui assistir numa fita VHS o processo de gravação (exaustivo ao extremo!). Foi engraçado ver a Cynd Lauper ser advertida pelo maestro sobre os seus colares pendurados no pescoço que, chacoalhados quando ela se aproximava do microfone, emitiam um barulho que era captado no estúdio e sairia na gravação. E o que não dizer de Bob Dylan, inseguro como um aprendiz, após conseguir encaixar, a seu modo, a frase que lhe foi entregue, naquele pequeno espaço da melodia, o astro se ajoelha diante de Quincy Jones em sinal de agradecimento e respeito. Assisti a tudo isso naquele documentário importado, sem legenda. Quando o DVD saiu, tudo bonitinho, eu dei bobeira e deixei passar. Hoje não consigo mais encontrar. Mas independente disso, ninguém me tirou a emoção de assistir ao clip da canção por incontáveis vezes naquele ano de 1985. Até mesmo na televisão lá de casa que na época era em preto e branco eu via aquele acontecimento da música internacional como num sonho todo azul.
O disco USA for Africa rendeu 50 milhões de dólares que foi usado para ajudar as vítimas da fome e de doenças na África.
E vocês acreditam que também aqui em Ceará-Mirim foi tirado proveito desse lançamento? Foi sim. Eu explico... É que naquele mesmo ano, aproveitando a carona do sucesso de We Are The World, o músico Alexandre Lacerda (aqui de Ceará-Mirim), o cantor Getúlio Marques (de Natal), e eu (também daqui da cidade), fizemos uma versão da música para ser cantada na caminhada da paz, naquele ano de 1985, onde se celebrava o ano mundial da juventude. Sinceramente, eu não me lembro mais a letra, mas há uma parte do refrão que diz assim: “A juventude é a esperança de um novo mundo onde as pessoas saibam ser irmãs...” Essa nossa versão se transformou em hino dos encontros de grupos de jovens e pastorais. Ficou tão popular que um amigo nosso, tendo a brilhante idéia de se candidatar à vereador, quis “empurrar” a música como seu hino de campanha, mas nós o convencemos a mudar o jingle. Graças a Deus!
Para celebrar os 25 anos da sua primeira gravação, artistas se reuniram para regravar We Are The World. No time, quase ninguém daquele primeiro encontro, exceto o próprio maestro, Lionel Richie e Michael Jackson, autores da música. Michael terá a sua voz também presente nessa nova gravação. O dinheiro arrecadado dessa vez será para ajuda ao Haiti. Os tempos são outros, as necessidades as mesmas.
Seja em que tempo for e onde estivermos, sempre a história mostrará que nós somos o mundo.
Crédito das Fotografias: Internet e arquivo de Eliel Silva
2 comentários:
Parabéns pelo artigo. Gostaria de ouvir a versão que vocês fizeram. Acredito que tenha ficado porreta, pela criatividade dos autores da façanha.
Um abraço.
Grande Lúcio Som, você fala façanha, eu diria que foi ousadia da nossa parte. Mas fizemos. Quanto a você ouvir a versão acho meio difícil pois nunca a gravamos e a letra, como já falei, eu esqueci. Mas me lembro muito bem de você, na calçada da prefeitura pedindo ao público presente naquela caminhada, palmas para os autores da versão, e pronunciava os nomes: Alexandre, Getúlio e Eliel. E eu alí, todo orgulhoso. Obrigado por estar presente em nossa história. Obrigado mesmo... pelo ontem e pelo hoje.
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