“Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, que ocultaste estas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim te aprouve.” Matheus 11:25-26
No início daquela manhã, dia de São Francisco de Assis, eu acompanhei a Caminhada Penitencial até a antiga usina. Foi o segundo ano que participei. E eu gosto desse tipo de manifestação, longe dos templos suntuosos e fora da cidade, de preferência, por lugares mais ermos. Deparar-me com aquele cenário de abandono não deixou de causar um certo impacto em mim. E me passou um filme na mente. Lembrei que por três anos eu trabalhei naquela indústria açucareira. Não era funcionário dela, mas da Associação dos Plantadores de Cana do RN. E a minha função era a de fiscalizar o serviço de laboratório de analise da cana de açúcar. E eu seguia aquele vai e vem, dia e noite, noite e dia. Foram momentos bons e outros nem tanto. E tudo serviu de aprendizado. Foi bom conviver com aquela “gente humilde”, batalhadora, consciente da missão lhe confiada. Mas foi duro ter que engolir alguns sapos vez em quando, isso por parte dos “poderosos”. Como aconteceu, certa vez, em que eu tive que solicitar um ajuste no proceder da equipe no trabalho do laboratório. Um encarregado, do tipo pau mandado, bajulador, levou o caso ao poderoso chefão, o filho do dono. Resultado: fui chamado de imediato ao laboratório central para dar explicações cabíveis para a minha solicitação. De cara, me vi diante de um tribunal da inquisição. O chefão, de baixa estatura, com aquela pose de rato pequeno, ao lado do seu (iludido) fiel escudeiro, começou a me fazer perguntas técnicas, tentando me embaraçar. Eu, humildemente falei o pouco que tinha aprendido no treinamento que tive. Vendo o meu despojamento, sem nenhuma vontade de causar constrangimento no proceder, apenas querendo fazer cumprir o que me era de direito, me dispensaram. Sabe Deus o que ficaram pensando e comentando a meu respeito. De volta ao laboratório em que eu trabalhava, como é de praxe, registrei no livro de ocorrência o acontecido. Soube depois que o livro foi levado a eles, que ficaram caçoando do que escrevi no meu relato.
Passado tanto tempo, hoje o que sei é que o “chefinho” já partiu para outro plano. Do poderoso chefão eu não tenho notícia, a não ser do seu pai que também já viajou no espaço. Mas sei do seu patrimônio, hoje reduzido a um monte de ferro velho. Aliás, como diz o disco do cantor canadense Neil Young: “a ferrugem nunca dorme”. E eu acrescento: a justiça de Deus muito menos!
No caminho de volta pra casa, me deparei com uma simples flor da salsa, que brotou em meio a ferrugem de uma peça de ferro. Sozinho e a indagar do universo sobre toda essa reviravolta, tive dele a resposta: o tempo e eu somos parceiros, seguimos juntos. Eu sugiro as coisas e ele, no seu tempo, faz acontecer!
E foi aí que eu percebi que todo tempo eu também fiz parte dessa conexão, só que não me dei conta disso. Hoje eu vejo como algo surreal alguém ter tanto amor e proteção para com um miserável feito eu. E o Pai agiu assim para comigo. Deus seja louvado!

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