Alô, mamãe!
Hoje eu estive no seu quintal. Ora, que bobagem! Na verdade tenho ido lá agora todos os dias, desde que o meu irmão partiu. Mas foi só por força de expressão que disse assim, porque também o dia de hoje tem um significado maior para nós. É o dia de São Francisco de Assis, e não há como esquecer daqueles tempos de tanta gente lá em casa, franciscanos de tudo quanto era canto. E você recebendo todos, com o maior prazer. E haja bolo, café, tapioca, pão... caramba! Era a mesa farta! Pois é. E sabe o que ando fazendo ultimamente por lá? Tentando restaurar o seu jardim. É bem verdade que vai ser diferente, porque o “concreto” tomou conta do ambiente. Vou ter que improvisar com vasos e criatividade. Mas vai dar certo. Quando o primeiro beija-flor ali voltar a frequentar, aí sim, vou ter certeza de que um pouco do que fomos começa a dar os seus sinais.
Olha, quando eu já estava indo embora, ainda na calçada, ao sabor do irmão vento e do irmão sol, eu fiquei a aguardar a passagem do leiturista da cosern, pois eu precisava me certificar de um procedimento. E qual não foi a minha surpresa quando recebi o papel da luz: ele veio em meu nome. É certo que eu já tinha providenciado essa mudança, e era de se esperar que fosse assim. Mas não deixa de ser uma grata surpresa, depois de quase 60 anos de tanta batalha, ver algo em meu nome, mesmo que em forma de fatura para se pagar. rsrs Mas isso de certa forma me aliviou daquela sensação de estar sempre perdido no espaço, sem eira nem beira, e a vida seguindo... E eu sonhando com um porto seguro. Agora sim, pareço poder ancorar meus pés no chão. Há um abrigo à minha espera! Claro que, até esse estágio, foi preciso navegar muitos anos. E tendo você por aqui é lógico que as coisas estariam em seu nome, você sempre fez questão disso. E assim foi acontecendo: do nome do Bob pai, passou para o seu nome, do seu, passou para o do meu irmão, e agora para o meu. Como você vê, e agora de onde está, até bem melhor que eu, tudo passa! Até os passarinhos. Pois bem. Estarei por aqui, com a minha gente. Farei o possível para trazer para aquela casa um pouco de todos vocês que já partiram. E assim, vou me preparar, mas sem nenhuma pressa, para o dia que eu também me for. E só espero que seja de muita leveza, em todos os sentidos. Nunca fui muito de lutar contra o vento. Um cheiro, mamãe! (Eliel Silva, 04 de outubro de 2022)
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