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"Engolimos de uma vez a mentira que nos adula e bebemos gota a gota a verdade que nos amarga." Denis Diderot

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Na rua em que eu morava




Acabei de passar lá na rua em que eu morava, coisa que faço vez em quando, pois não dá para deixar tudo aquilo para trás. Excepcionalmente hoje, não me senti bem com o que presenciei: não mais encontrei aquela casa em frente a dos meus saudosos pais. Sim, estava faltando o lar de “Pai Minga” e dona “Santa”, do mestre Joaquim e dona Teresina. Aquela casa que me acolheu tantas vezes, para uma partida de futebol com caixas de fósforo, onde fazíamos do piso da sala o nosso estádio. Partidas memoráveis foram realizadas ali com os anfitriões Bão (que mais tarde veio a ser meu compadre), Doca e Jangada, além, claro, dos tantos outros meninos de então, vizinhos e amigos. Fiquei chocado e ao mesmo tempo com raiva daquela máquina que, pouco a pouco, demolia paredes e ia retirando os escombros e colocando numa caçamba, apagando assim muito das nossas lembranças. Nem mais sinal do forno de lenha, onde o casal e seus filhos assavam as deliciosas raivas. E aquela janela de frente, que me permitia apreciar, lá da minha calçada, aqueles velhinhos simpáticos numa cumplicidade de dar inveja: Pai Minga e Mãe Santa. É bem certo que faz muito tempo que nem moro mais naquela rua, mas nas vezes que passo ali, um filme volta a ser exibido na minha mente. Agora vou ter que puxar mais ainda pela memória para “rever” a nossa gente, já que parte do cenário foi retirada. É bem verdade que devemos estar abertos ao progresso, mas isso às vezes é um processo que dói demais. (Eliel Silva - 17.09.2017)

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