Foi num dia comum. Já
haviam se passado todas aquelas datas comemorativas. E então eu resolvi fazer
uma visita ao túmulo do meu pai. No cemitério, aquele império do silêncio onde
todos se igualam, diante da sua sepultura, me pus a meditar. E uma paz me invadiu
quando senti a sua presença ali. Meu velho pai passeava todo faceiro por entre
tantos túmulos suntuosos e outros nem tanto. Fiquei admirado de vê-lo sorridente,
e de cabeça erguida, passar e cumprimentar, sem nenhum acanhamento, pessoas
que, outrora, ele temia até mesmo dirigir-se a elas. Estavam todos ali, numa
verdadeira galeria de ex tudo: políticos, bacharéis, militares com as suas
fardas; mas também o seu Zezinho da mercearia, aquele pipoqueiro de todos os
eventos e dos domingos de missa. Era uma verdadeira procissão dos que já se
foram e que, de igual maneira ali foram parar. “Plebeus e reis, fariseus e
gays, índios, amarelos, brancos, negros, moicanos, pardos, mulatos, mestiços,
malucos, mendigos, palhaços, guerreiros de todas as tribos...” Recordei as
lutas do meu pai e as suas conquistas, as decepções e perseguições pelas quais
ele passou, até se cumprir a sua missão por aqui. E percebi então que ele
estava em paz. Fiz uma oração bem simples pra ele e saí dali aliviado. Corri e
fui contar o ocorrido para a minha mãe, que quase já não consegue mais absorver
o que se diz pra ela. O tempo parece ser mesmo um moto-contínuo. (Eliel
Silva – 26 de fevereiro de 2016)
domingo, 20 de março de 2016
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