ESCAVAÇÕES
E de repente me vi obrigado a fazer um reparo numa tubulação, no
quintal da casa da minha mãe. Peguei as ferramentas necessárias e comecei a
escavar aquele chão, tão conhecido meu de tempos atrás. É incrível como, em
situações assim, coisas remotas costumam vir à tona. Cada pá de terra que eu
tirava, lá vinha um pedacinho de recordação. Encontrei uma pequena peça dos
meus acessórios do meu tempo de hippie, utensílios simples das lutas diárias do
meu pai e da minha mãe também apareceram. Vestígios da nossa pobreza de
então. Fósseis da nossa labuta, a partir do ano de 1973, quando chegamos
naquela casa. Coisas que retratam a nossa vivência humilde naquele torrão,
herança que foi se revezando entre pais, filhos e netos. Sim, de repente, feito
uma máquina que nos devolve o tempo, pude ver tudo outra vez bem diante de mim,
em cada grão de areia. E assim, tendo o passado novamente sob os meus pés, me
questionei sobre o futuro. Sim, o que será que será? A resposta talvez estivesse
ali, mas eu não consegui decifrar mais esse enigma, por mais que as possíveis
pistas estivessem tão à flor da terra. (Eliel Silva - abril/2015)