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"Engolimos de uma vez a mentira que nos adula e bebemos gota a gota a verdade que nos amarga." Denis Diderot

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Quase ficção



 
Festa modesta
 
Fui somente para cumprir o prometido. Na verdade, um programa bem melhor seria ficar em casa ouvindo os meus rocks, os meus blues. Mas àquela festa, já tradicional na cidade, eu havia faltado talvez as duas últimas. Dessa vez não tive como fugir. Diz o ditado que “de graça, até injeção na testa”. Pois então! O músico amador se esforçava para fazer o povo dançar. Não é tão fácil assim, logo no início do baile. A não ser que um casal mais afoito, e sempre aparece um, se atreva, tome a iniciativa. E não é que apareceram uns dois ou três. Mas interessante mesmo foi quando, numa sessão de samba, uma morena, bem “apanhada”, se levantou e começou a mostrar os seus dotes de sambista. Ele, meio tímida, dentro de uma saia bem curtinha, ficou por ali, perto da sua mesa. Até que uma colega, a feia, e sempre aparece uma, também entrou no clima, e convenceu a rainha a ir para o salão de dança. Ai foi desconcertante. A morena ficou mais estonteante, mais solta, dançava com uma sensualidade que chamava a atenção. A moça feia se batia, remexia, mas jamais superaria aquela deusa. Falando em feia, dizem que o céu está cheio delas. Imagine só o plantel! As boazudas, as carnudas, estão é mais para o inferno. Elas já infernizam a vida de qualquer um aqui nesse chão. Demorei pouco naquela festa modesta. Mas foi o suficiente para me encantar com aquela dançarina. A morena. E sentir pena, mas muita pena mesmo, da outra  moça. A feia. Ela que também tanto sambou, rodopiou, se esforçou, mas não convenceu. E pelo jeito, somente eu lhe prestei atenção. De tão observador que sou.
Eliel Silva / dezembro.2013

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