"Fruto do mundo, somos os homens
pequenos girassóis
dos que mostram a cara...
Enorme as montanhas
que não dizem nada.
Incapaces los hombres
Que hablam de todo
Y sufrem callados"
Incapaces los hombres
Que hablam de todo
Y sufrem callados"
(Réquiem para uma flor
- Raul Seixas / Oscar Rasmussen)
A
“mosca” que pousou em Ceará-Mirim
“Eu
sou a mosca que pousou em sua sopa. Eu sou a mosca que pintou pra lhe
abusar...”
Esse
ano, ainda contrariando muita gente, pela 23ª vez estaremos
homenageando o nosso maluco beleza aqui em Ceará-Mirim, neste
sábado, dia 18 de agosto, no pátio da Estação
Cultural. Todo ano Erivan Lima, fã número um do trabalho do Raul, faz um
tributo a essa figura singular na história do rock brasileiro.
Ele
nasceu em Salvador no dia 28 de junho de 1945. Cresceu ouvindo Luiz
Gonzaga, Elvis Presley e Jerry Lee Lewis. Assim como Erasmo, Roberto,
Wanderléa, Martinha, Vanusa e tantos outros ícones da
Jovem Guarda, é bom lembrar que Raulzito de certa forma
contribuiu para a perpetuação desse movimento, seja
como produtor de discos de algumas figuras como Jerry Adriani e a
dupla Deny & Dino, como compositor de canções desse
estilo para tantos outros jovem-guardistas, e até como músico
(embora que por uma festa apenas) do rei Roberto Carlos, quando tocou
para ele com sua banda Raulzito e Os Panteras em 1965 num show em
Salvador. São muitos os motivos que nos faz sentir essa
vontade de homenagear esse cara. Por isso é que desde 1990
estamos nessa jornada com o Erivan Seixas, presidente do Raul Seixas
Club – único fã clube oficial do cantor aqui no Rio
Grande do Norte.
Numa
sociedade hostil e cheia de convenções, onde muitos
procuram atribuir para si valores que não possuem, vivendo um
eterno faroeste caboclo numa vidinha de aparências, que só
julgam politicamente correto aquilo que bem lhes convém e
condenam o resto da humanidade, não foi fácil seguir em
frente com o projeto. No início sofremos muita discriminação
por parte da nata purista e carola da cidade. Diziam as más
línguas que rolava muita droga no evento. Hoje se sabe que a
coisa não é bem assim! E qualquer fumacinha que teimar
em rolar nessa festa não é nada se comparada com a
droga que rola no nosso dia-a-dia: o quadro político atual do
país, os baixos salários, a violência, o descaso
com a saúde e a educação, religião que as
vezes tanto aliena, música de má qualidade, imprensa
que às vezes destoa... Quer droga pior que isso?! Sendo assim,
parece que estamos todos correndo um grande risco de sofrer uma
overdose, pois diariamente todo mundo vive chapado. Sem querer fazer
apologia ao absurdo, mas me conforta fazer parte dessa legião
de fãs desse maluco sincero, que viveu intensamente aquilo que
cantava. Sua ira, sua alegria, seus medos e incertezas. E eu fico com
a sua ironia afiada, “não
bulo com governo, com polícia nem censura. É tudo gente
fina. Meu advogado jura!... Quando acabar o maluco sou eu!”
Pois é! Roqueiro é gente que também ama, sim
senhor! E tem mulher e filhos que vão à escola. Que
paga suas contas no fim do mês e luta pela sobrevivência.
Cartaz do 23 Tributo a Raul Seixas
A bem
da verdade, o Tributo a Raul Seixas, queiram ou não, já
se tornou um evento de tradição em nossa cidade. Mesmo
num tempo em que não existem mais aquelas festas tradicionais
de outrora, onde tudo foi suprimido a festas arranjadas, programadas
por pura conveniência, onde não se vê o menor
respeito com a população (mas que mesmo assim essa
gente gosta tanto!). E esse ritmo indigente que a mídia nos
empurra a todo instante. Sem querer ser saudosista, mas salve os
velhos bardos do passado, que ora completam seus setenta anos! Já
que eles não podem mais vir até nós, de uma
certa forma vamos a eles! E como diria o Belchior: “agora eu quero
tudo, tudo outra vez!”
Raul
Seixas não teve a mesma sorte do seu antigo parceiro Paulo
Coelho. Avesso a modismos ele foi tão sincero em sua obra que
não aguentou o tranco e sucumbiu no dia 21 de agosto de 1989,
vítima de pancreatite. De lá para cá ficou essa
lacuna na vida artística do país. Mas a voz da sua
profecia ainda faz se ouvir, “e
não adianta vir me dedetizar, pois nem o D.D.T. pode assim me
exterminar. Porque você mata uma e vem outra em meu lugar!”Não
veio ninguém, Raul. Mas você continua aqui entre nós!
E viva a Jovem Guarda! Viva o rock brasileiro! Viva a sociedade
alternativa! Toca Raul!
Estação Cultural Prefeito Roberto Pereira Varela
- nas imediações desse local acontecerá o evento
- nas imediações desse local acontecerá o evento
Texto:
Eliel Silva
Foto:
Internet
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