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"Engolimos de uma vez a mentira que nos adula e bebemos gota a gota a verdade que nos amarga." Denis Diderot

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Raul revisitado

"Fruto do mundo, somos os homens
pequenos girassóis
dos que mostram a cara...
Enorme as montanhas
que não dizem nada.
Incapaces los hombres
Que hablam de todo
Y sufrem callados
"
(Réquiem para uma flor 
- Raul Seixas / Oscar Rasmussen)

A “mosca” que pousou em Ceará-Mirim

Eu sou a mosca que pousou em sua sopa. Eu sou a mosca que pintou pra lhe abusar...”
Esse ano, ainda contrariando muita gente, pela 23ª vez estaremos homenageando o nosso maluco beleza aqui em Ceará-Mirim, neste sábado, dia 18 de agosto, no pátio da Estação Cultural. Todo ano Erivan Lima, fã número um do trabalho do Raul, faz um tributo a essa figura singular na história do rock brasileiro.
Ele nasceu em Salvador no dia 28 de junho de 1945. Cresceu ouvindo Luiz Gonzaga, Elvis Presley e Jerry Lee Lewis. Assim como Erasmo, Roberto, Wanderléa, Martinha, Vanusa e tantos outros ícones da Jovem Guarda, é bom lembrar que Raulzito de certa forma contribuiu para a perpetuação desse movimento, seja como produtor de discos de algumas figuras como Jerry Adriani e a dupla Deny & Dino, como compositor de canções desse estilo para tantos outros jovem-guardistas, e até como músico (embora que por uma festa apenas) do rei Roberto Carlos, quando tocou para ele com sua banda Raulzito e Os Panteras em 1965 num show em Salvador. São muitos os motivos que nos faz sentir essa vontade de homenagear esse cara. Por isso é que desde 1990 estamos nessa jornada com o Erivan Seixas, presidente do Raul Seixas Club – único fã clube oficial do cantor aqui no Rio Grande do Norte.
Numa sociedade hostil e cheia de convenções, onde muitos procuram atribuir para si valores que não possuem, vivendo um eterno faroeste caboclo numa vidinha de aparências, que só julgam politicamente correto aquilo que bem lhes convém e condenam o resto da humanidade, não foi fácil seguir em frente com o projeto. No início sofremos muita discriminação por parte da nata purista e carola da cidade. Diziam as más línguas que rolava muita droga no evento. Hoje se sabe que a coisa não é bem assim! E qualquer fumacinha que teimar em rolar nessa festa não é nada se comparada com a droga que rola no nosso dia-a-dia: o quadro político atual do país, os baixos salários, a violência, o descaso com a saúde e a educação, religião que as vezes tanto aliena, música de má qualidade, imprensa que às vezes destoa... Quer droga pior que isso?! Sendo assim, parece que estamos todos correndo um grande risco de sofrer uma overdose, pois diariamente todo mundo vive chapado. Sem querer fazer apologia ao absurdo, mas me conforta fazer parte dessa legião de fãs desse maluco sincero, que viveu intensamente aquilo que cantava. Sua ira, sua alegria, seus medos e incertezas. E eu fico com a sua ironia afiada, “não bulo com governo, com polícia nem censura. É tudo gente fina. Meu advogado jura!... Quando acabar o maluco sou eu!” Pois é! Roqueiro é gente que também ama, sim senhor! E tem mulher e filhos que vão à escola. Que paga suas contas no fim do mês e luta pela sobrevivência.

Cartaz do 23 Tributo a Raul Seixas


A bem da verdade, o Tributo a Raul Seixas, queiram ou não, já se tornou um evento de tradição em nossa cidade. Mesmo num tempo em que não existem mais aquelas festas tradicionais de outrora, onde tudo foi suprimido a festas arranjadas, programadas por pura conveniência, onde não se vê o menor respeito com a população (mas que mesmo assim essa gente gosta tanto!). E esse ritmo indigente que a mídia nos empurra a todo instante. Sem querer ser saudosista, mas salve os velhos bardos do passado, que ora completam seus setenta anos! Já que eles não podem mais vir até nós, de uma certa forma vamos a eles! E como diria o Belchior: “agora eu quero tudo, tudo outra vez!”
Raul Seixas não teve a mesma sorte do seu antigo parceiro Paulo Coelho. Avesso a modismos ele foi tão sincero em sua obra que não aguentou o tranco e sucumbiu no dia 21 de agosto de 1989, vítima de pancreatite. De lá para cá ficou essa lacuna na vida artística do país. Mas a voz da sua profecia ainda faz se ouvir, “e não adianta vir me dedetizar, pois nem o D.D.T. pode assim me exterminar. Porque você mata uma e vem outra em meu lugar!”Não veio ninguém, Raul. Mas você continua aqui entre nós! E viva a Jovem Guarda! Viva o rock brasileiro! Viva a sociedade alternativa! Toca Raul!


Estação Cultural Prefeito Roberto Pereira Varela
- nas imediações desse local acontecerá o evento


Texto: Eliel Silva
Foto: Internet

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