“É triste ver que tudo isso é real
Porque assim como os poetas
Todos temos que sonhar.”
(“Movido a Álcool” –
Raul Seixas / Oscar
Rasmussen)
Parem o
carrossel!
Naqueles
tempos eu torcia para ir à capital. Sonhava com esse dia. Carros de passeio
eram poucos por aqui. Apenas duas empresas de ônibus faziam a linha
Ceará-Mirim/Natal/Ceará-Mirim. E eu queria saber qual era o horário do “magirus”.
Aquilo sim é que era ônibus. Com aquele motor na traseira, superpotente, o seu
ronco era o máximo. Eu ficava admirado como um homem tão magrinho conseguia
conduzir aquela máquina. Raimundo era um motorista e tanto. Acontecia de
algumas vezes ter que encarar o 21, aquele famoso (que era como se fosse a
moedinha número 1 do Patinhas), e que já era a cara de Chicó, o seu cobrador.
Vivi assim as minhas emoções de idas e vindas naquela estrada de
paralelepípedos. Na capital o clima era bem mais ameno, não tinha tanto
asfalto, o trânsito fluía naturalmente. Eu era um pré-adolescente sonhador!
Tinha também alguns famosos daquela outra empresa. Um deles, por dentro, até
parecia um avião. Mas tinha também uns caras chatos trabalhando ali, e eu
achava melhor esperar outro horário. Um dia, e eu me lembro bem, peguei um
daqueles, lotado, em que as pessoas que ficam em pé preferem todas a dianteira
do veículo, e fica então aquele inchaço. Mas logo o daquele motorista abusado,
que parecia estar sempre de mau humor. Chegando já na saída da cidade, o cara
parou, desceu do carro, sentou-se no banco de uma daquelas paradas e falou que
só entraria no ônibus quando “ajeitassem a carga”. Era só o que faltava, éramos
ali uma carga para ele. E pelo jeito uma carga não tão preciosa assim. Os
passageiros se “acovardaram” diante daquele veredicto. Ajeitaram-se como
puderam e o valentão resolveu partir. O tempo passou, assim como o vento, assim
como a vida, assim como tudo passa. As
coisas mudaram, mas não tanto pra melhor. Ainda sofremos as consequências de
uma cidade desorganizada e mal servida no tocante ao transporte de pessoas. Se
você não tiver um carango (hoje quase todo mundo tem!) e precisa se aventurar
nessas bestinhas ou micro ônibus para viajar, com certeza passa por poucas e
boas. Eu que o diga. As vezes pego aqueles pequenos ônibus, na parada do antigo
cinema, na capital. Quando consigo um lugarzinho até que é bom. O motorista dá
partida e eu fico feliz. Nada melhor que voltar pra casa, depois de tantas
andanças pela cidade grande. Mas a minha alegria dura pouco. Percebo que o
carro em pouco tempo volta ao mesmo local que eu estava. É que eles, os
motoristas, não sei se para cumprir horário ou para pegar mais passageiros -
como se no trajeto os que com certeza vão aparecer já não fosse o suficiente
para lotar aquela latinha -, ficam dando volta feito carrossel. Não tem jeito,
seja no passado ou no presente, a gente parece que vai ter que conviver com
esses abusos. Vou sonhar um pouco com a melhora em todo o trânsito. A copa de
2014 vem aí. E eu quero ver tudo fluir de forma brilhante, como nas grandes
capitais de países de primeiro mundo. Quero ouvir bem próximo daqui o som dos
grandes aviões trazendo seleções de países estrangeiros para jogar pertinho da
gente. Quero ver o progresso acontecendo por aqui e sendo mostrado para o
mundo. Eu ali, diante da minha TV, grande e bem fininha, vou me sentir um
sujeito moderno. Adeus 21, adeus magirus, adeus bestinhas. O futuro já chegou
aqui também. E por favor, não me acordem!
Eliel
Silva – julho/2012
Imagem: Internet
“A minha
alucinação
É suportar o dia a dia
E meu delírio
É a experiência
Com coisas reais...”
É suportar o dia a dia
E meu delírio
É a experiência
Com coisas reais...”
(“Alucinação” – Belchior)
Nenhum comentário:
Postar um comentário