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"Engolimos de uma vez a mentira que nos adula e bebemos gota a gota a verdade que nos amarga." Denis Diderot

terça-feira, 3 de julho de 2012

Depois de algum tempo...

"E o dono foi perdendo a linha - que tinha
e foi perdendo a luz e além
E disse: Minha voz, se vós não sereis minha
Vós não sereis de mais ninguém."
("A Voz do Dono e o Dono da Voz" 
- Chico Buarque)


RÉQUIEM PARA UMA VOZ

As vezes me batia um tédio, uma solidão,
Qualquer coisa desse tipo.
E eu corria para o meu quintal
Parecia que ali eu tinha todo o espaço
Para expandir meus pensamentos
Viajava nas canções que tocava, às vezes no silêncio.
E contemplava o azul do céu
O verde daquelas árvores – algumas, que eu mesmo cultivei.
A rua é uma daquelas meio esquecida
Não havia folia por lá e até mesmo isso eu curtia.
Mas ouvia, de vez em quando, um carro de som
passar pelos arredores
Alguns anúncios me despertavam, outros até me irritavam
Mas havia uma locução diferente, superior, eu diria,
que me chamava a atenção
Era uma voz muito conhecida, familiar
Eu parava para ouvir, fosse o que fosse que estivesse a dizer.
Porque não era nem tanto o assunto em questão que me atraía
Mas a maneira – sem nada de moderno, até se comentava –
como era repassada a informação
Impossível não identificar de imediato aquela voz
E ele era o dono dela.
Voz que se calou, num desses dias em que o céu também silenciou.
Não havia ronco de trovão por lá, nem avião supersônico.
Pássaros não arriscaram sair em revoada
Era somente o silêncio
E eu já nem mais estava naquele quintal
Estava de volta a um refúgio só meu.
Foi quando um amigo me ligou, já tarde da noite
E me deu a notícia, me contou da sua triste partida
Cuidei em ligar o rádio, era o assunto da vez
No outro dia foi só silêncio também
Como vem sendo até hoje
Alguém até comentou recentemente
que se irá sentir falta da sua locução nesse ano de eleição
Eu já nem sei, porque tudo mudou, banalizou
Existem tantos paredões por aí que assombram até furacão
Mas é um som que agride, irrita e apavora
É muito barulho por nada
O que só aniquila a beleza dom som
O som que era diferente
Quando vindo da voz de Lúcio Som.

Eliel Silva – julho/2012

Foto: Internet (Blog do “Barão” Francisco Guia)

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