"E o dono foi perdendo a linha - que tinha
e foi perdendo a luz e além
E disse: Minha voz, se vós não sereis minha
Vós não sereis de mais ninguém."
("A Voz do Dono e o Dono da Voz"
- Chico Buarque)
RÉQUIEM
PARA UMA VOZ
As vezes
me batia um tédio, uma solidão,
Qualquer
coisa desse tipo.
E eu
corria para o meu quintal
Parecia
que ali eu tinha todo o espaço
Para
expandir meus pensamentos
Viajava
nas canções que tocava, às vezes no silêncio.
E
contemplava o azul do céu
O verde
daquelas árvores – algumas, que eu mesmo cultivei.
A rua é
uma daquelas meio esquecida
Não havia
folia por lá e até mesmo isso eu curtia.
Mas ouvia,
de vez em quando, um carro de som
passar
pelos arredores
Alguns
anúncios me despertavam, outros até me irritavam
Mas havia
uma locução diferente, superior, eu diria,
que me
chamava a atenção
Era uma
voz muito conhecida, familiar
Eu parava
para ouvir, fosse o que fosse que estivesse a dizer.
Porque não
era nem tanto o assunto em questão que me atraía
Mas a
maneira – sem nada de moderno, até se comentava –
como era
repassada a informação
Impossível
não identificar de imediato aquela voz
E ele era
o dono dela.
Voz que se
calou, num desses dias em que o céu também silenciou.
Não havia
ronco de trovão por lá, nem avião supersônico.
Pássaros
não arriscaram sair em revoada
Era
somente o silêncio
E eu já
nem mais estava naquele quintal
Estava de
volta a um refúgio só meu.
Foi quando
um amigo me ligou, já tarde da noite
E me deu a
notícia, me contou da sua triste partida
Cuidei em
ligar o rádio, era o assunto da vez
No outro
dia foi só silêncio também
Como vem
sendo até hoje
Alguém até
comentou recentemente
que se irá
sentir falta da sua locução nesse ano de eleição
Eu já nem
sei, porque tudo mudou, banalizou
Existem
tantos paredões por aí que assombram até furacão
Mas é um
som que agride, irrita e apavora
É muito
barulho por nada
O que só
aniquila a beleza dom som
O som que
era diferente
Quando
vindo da voz de Lúcio Som.
Eliel
Silva – julho/2012
Foto: Internet
(Blog do “Barão” Francisco Guia)
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