“Fique
assim, meu amor, sem crescer,
Porque
o mundo é ruim, é ruim, e você
Vai
sofrer de repente uma desilusão
Porque
a vida somente é seu bicho-papão.”
(“Valsa
Para Uma Menininha” - Toquinho)
O
bicho papão
Na
minha infância, ele era uma persona non grata que "aparecia"
quase sempre nos meus melhores momentos. E ainda ouvia alguém
dizer, quando queria me por quieto ou de certa forma me punir de
alguma travessura: “o bicho papão vem lhe pegar!” Na
adolescência não dei muita bola para esse personagem. Eu
tinha testosterona de sobra que me mantinha aceso, e afugentava
qualquer monstrinho que aparecesse em meu caminho. A vida seguiu.
Cresci, amadureci (quase envelheço). E não é que
o tão bicho papão resolveu aparecer. E o danado veio
mais feroz, aterrador, querendo me devorar. Nas noites sozinho, nos
dias frios, na solidão, eis que ele me aparece. Me busca a
alma, machuca, judia. E é como aquela ferida “que dói
e não se sente”, dor que “nem todos os unguentos vão
aliviar”. Já o batizaram de vários nomes. Ele causa
arrepios no corpo e na alma, deixa o sujeito cabisbaixo, sem
motivação. Dizem que há tratamento que ajuda a
enfrentar o bicho, mas que é preciso muita força de
vontade por parte da vítima desse monstro. Tenho lutado contra
ele, as vezes até me faço de bobo, fingindo não
estar nem aí. Mas ele agora é tão real (mesmo
sem enxergá-lo), tão presente (até onipresente,
as vezes!), mais apavorante. Mesmo sem ninguém para me
ameaçar, dizendo que ele vem me pegar, sempre o imagino
chegando. Também, aquela testosterona ficou mirrada, foi se
desgastando com o tempo. Bom, se bem que, para ele atacar, não
importa mais idade nenhuma, não importa o tempo de vida do
sujeito. Conviver com esse monstrinho agora é minha sina. Se
tomo um vinho, porque ora estou alegre, ele me avisa: te encontro
amanhã, quando a euforia passar. Sinto saudade dos tempos em
que o tal bicho papão era apenas um fruto da imaginação
coletiva de um povo.
Créditos:
Texto: Eliel Silva
Imagem: Internet
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