"Eu vou na fé
Sim, sim, sim, sim, eu vou na fé
Eu vou como eu puder
Seja o que Deus quiser
Eu vou mas nem que eu tenha que ir a pé."
(Santa Fe - Bob Dylan /
Vers: Maurício Baia e Guga Sibérius)
Teologia da Cultura ou Teologia da MPB
Você certamente já ouviu dizer que três coisas não se discutem: Política, Futebol e Religião. Esta última então é para provocar briga mesmo, isso porque há um pensamento que religião e igreja são a mesma coisa, o que não é verdade. Podemos ter o exemplo do Cristianismo, só para citar a mais comum, dentro dela há inúmeras igrejas, mas com a mesma base filosófica: Aristotélica-Tomista ou Platônica-Agostiniana, o que não é o caso explicar aqui. Contudo, basta saber que o que vai diferenciar são as doutrinas, ou melhor, a maneira como cada igreja interpreta a mensagem do Cristo. Isto posto, nosso artigo tem como finalidade de contribuir de alguma forma para que o leitor saiba como a música e a cultura influenciam e são influenciadas pela Religião.
Com certeza você já deve ter sintonizado numa rádio católica e de repente, ouve a melodia da música “Como é grande meu amor por você” de Roberto e Erasmo, sendo interpretada por Padre Antonio Maria, e como não poderia ser diferente também já ouviu um dos padres cantores nos programas da TV que não pertencem a nenhuma denominação religiosa, isso se dá por que o fio entre o sagrado e o profano é muito tênue. Existem teólogos como Paul Tillich, que estudou a influencia da cultura na religião e vice-versa. Para melhor entender o estudo de Tillich, é necessário entender o que é cultura.
O conceito de cultura (Kultur) adquiriu presença significativa em muitos idiomas, já no período moderno. Inicialmente, havia uma ligação muito íntima com a sua raiz latina – cultivo, aquilo que é cultivado, em sentido agrícola. Porém no inicio do sec. XVI, o sentido foi estendido para designar o cultivo das capacidades intelectuais e espirituais do ser humano. Os franceses também utilizavam a palavra Civilisation, na tentativa de abarcar tanto as conquistas espirituais como materiais da humanidade, mas o termo foi visto com burguês e um grupo de intelectuais alemães, não viam com bons olhos esse status que o termo conotava, assim a palavra Kultur nasceu, então com um conceito de fundo nacionalista e também como crítica a aristocracia, tornando-se mais usado pela plebe. Então, a cultura passa a pertencer ao povo e com tal tem função de perpetuar seus costumes e tradições.
A música há muito é utilizada como forma de chegar ao transcendente, haja vista os ritos das tribos africanas e indígenas, o cristianismo não foi diferente, utilizou, muito tardiamente é verdade, a música como forma de expressão lúdica nas suas celebrações, tanto com a introdução do canto litúrgico com o papa Gregório, e o conhecido “canto Gregoriano”, como também os protestantes no EUA, nas igrejas do Mississipi, de onde, aliás, saíram grande nomes da música internacional com Ray Charles, Aretha Franklin que influenciaram também o Rei do Rock Elvis Presley, que no final de sua vida cantou “hits” gospel como “Amazing Grace” entre outros.
Aqui no Brasil não é diferente, temos grandes cantores gospels e também católico com o mesmo padrão da musica popular. O mercado vem sendo explorado com afinco pelas gravadoras, pois é um publico fiel e com exigente padrão de qualidade. Bandas como Catedral que eram o eixo gospel e tornou-se secular são casos cada vez mais comuns com é o caso da banda católica Rosa de Sarom que está cada vez mais parecida com as banda tidas com “Emo”.
Mas a MPB também tem suas jóias preciosas que não precisam mudar o estilo para serem ouvidas pelos fiéis católicos e protestantes, é caso do Rei Roberto Carlos que com suas músicas mensagem agrada a ambos, pois já teve suas músicas gravadas pelo cantor gospel Jota Neto, este, aliás não só pela voz mas pelo estilo de vestir imita muito o Rei popular, e como não falar dos católicos que vez por outra cantam suas músicas nas celebrações eucarísticas, especialmente as músicas marianas como “Nossa Senhora “ entre outras.
Mas nem sempre foi assim, a música popular nem se quer era para passar perto de alguma igreja, pois “era coisa do mundo” como ainda dizem alguns religiosos, o que é necessário entender é que música é mensagem, e nesse contexto ela penetra no ser humano de tal forma que ao ouvir aquela música que lhe marcou em determinada época ele se transporta para ela num piscar de olhos, e viaja nas notas musicais. Certamente nos dias de hoje onde os letristas então cada vez mais escassos, e que impera é a futilidade e sexualidade, fica cada vez mais difícil falar de música como mensagem. Mas é em defesa dessa boa música que iremos defender aqui. No próximo artigo vamos falar de como a MPB participa do campo da teologia e vice-versa.
Do blog: Caro Washington, é com muita satisfação que recebo o seu texto para publicação aqui no R&C. Agradeço pela nossa amizade e aproveito para parabenizá-lo pela passagem do seu aniversário nesse dia 30 de junho.
Um comentário:
Renovo felicitações ao grande Washington, embaixador de Ceará-Mirim na capital; filho dos saudosos Zé Pereira/Professora Lúcia. Parabéns pelo ótimo artigo.
Edvaldo Morais
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