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"Engolimos de uma vez a mentira que nos adula e bebemos gota a gota a verdade que nos amarga." Denis Diderot

quinta-feira, 31 de março de 2011

Fechando o verão


Sob a luz da emoção

De que é feita a vida senão de retalhos de emoção costurados com o fio da racionalidade? Quando há um trabalho harmonioso e integrado entre racionalidade e emoção o resultado é uma colcha de retalhos perfeita. Faz-se necessário olhar a vida com olhos perspicazes de um fotógrafo profissional. O que faz aquele que fotografa senão capturar momentos? Um olhar atento. Ver os acontecimentos sob uma perspectiva singular. Um “click”... E o instante foi aprisionado para em seguida ser liberado em belas imagens ou imagens chocantes, se pudermos escolher, escolhamos as primeiras. Nossos olhos capturam cenas. Nossa mente consciente se encarrega de fixá-las na mente subconsciente.
Muitas vezes nos achamos que é preciso estar em lugares exuberantes, (se tivermos a oportunidade de estar nesses lugares, tanto melhor), para que registremos cenas significativas, instantes significativos. Quanto engano! Essas coisas estão acontecendo a todo o momento ao nosso redor. Para enxergá-los faz-se necessário apenas abrir os olhos e enxergar a vida que passa diante de nós tal qual carrossel.
Aqui, vale lembrar um bate-papo descontraído, com Jairo Perin, Maestro do Coral do Regatas (Clube Campineiro de Regatas e Natação), antes do ensaio para uma de nossas apresentações. Dizia o Maestro: “As pessoas nos dias de hoje estão mais preocupadas em demonstrarem euforia do que em viverem momentos de felicidade. E há uma grande diferença entre euforia e alegria. Acho que não precisamos estar, o tempo todo, agitados e eufóricos para sermos felizes. Até porque quando a euforia acaba deixa uma sensação de vazio. A alegria, ao contrário, não preciso de estardalhaços para se fazer sentida. Eu, por exemplo, experimento felicidade ouvindo Miles Davis, e, tecnicamente, a música dele é linear, quase nada tem de movimento”.
Ouvindo estas reflexões me reportei ao domingo, dia 13 do corrente mês, na cidade de Campinas/SP. Era finzinho de tarde. Estávamos sentados em volta da mesa, à beira da churrasqueira, ouvindo boa música e saboreando uma deliciosa cerveja. No horizonte à nossa frente se descortinava um céu esplendoroso. Todinho pintado em cores fortes de laranja, com leves tons de cinza e tendo como fundo um azul magnífico. Uma verdadeira obra de arte que só mãos divinas poderiam idealizar. Era o sol descendo no horizonte deixando atrás de si um rastro de beleza incomparável. Ainda olhávamos embevecidos à cena quando um deles, o Walter, me perguntou: “Você não escreveu nenhum texto sobre a homenagem da Beija-Flor ao rei Roberto Carlos”? A pergunta em si não teve a intenção de ser provocante. Mas acabou se tornando exatamente isto: provocativa. Fiquei pensando: “O desfile da Beija-Flor foi tão belo, porque não escrevi nada a respeito?”
Mentalmente, fui fazendo uma espécie de regressão. Já em Janeiro deste ano cantarolava os versos: “Meu beija-flor chegou a hora de botar pra fora a felicidade, da alegria de falar do rei e mostrar pro mundo essa simplicidade”. Já sabia o samba de cor. À medida que se aproximava o carnaval aumentava em mim a expectativa pelo desfile das escolas de samba na TV. Enfim chegou o carnaval. Nunca fui de passar a noite em claro vendo os desfiles, mas quando soube que a Beija-Flor seria a última escola a entrar na avenida no segundo dia do desfile na Marquês de Sapucaí, logo me preparei para passar à noite acordado.
Já raiava o dia na terça-feira de carnaval quando um Beija-Flor verde e branco voou majestosamente pela Marquês de Sapucaí, trazendo em suas asas, ninguém menos que o grande Roberto Carlos. A escola veio bela como uma rainha que se prepara para receber o seu rei. O que o Brasil e o mundo viram foi um mar de emoções invadindo a avenida. Emoção que brotava dos integrantes da Escola, do publico presente à Marques de Sapucaí, dos jornalistas que transmitiam o evento, de quem assistia pela TV. Também o rei Roberto se emocionou.
O resultado, todos já sabem: a Escola de Samba Beija-Flor de Nilópolis vencedora do grupo especial do carnaval carioca de 2011. E a certeza de que entre nós existe um cara realmente iluminado.
Obrigado rei Roberto Carlos pela pessoa que você é e pelas canções que você fez pra nós.

José Flávio
Imagens: internet