Inválido
Por Ilton Soares (colaborador)
Outro dia estava em um bar com um velho amigo de longa data, quando este me falou que em um dado documento ele estava classificado como inválido. Confesso que fiquei abobalhado. Como uma pessoa como aquela, um exemplo de vida para mim poderia ser tida como “inválida”?
Aí, desconfiei do meu português e decidi consultar o dicionário ao chegar em casa. Pasmem, segundo o Aurélio, inválido é aquele “que não vale; que perdeu o vigor; mutilado ou paralítico.” Fiquei sem entender o motivo de tal classificação, pois o meu amigo não se encaixava em nenhum dos termos citados pelo dicionário. Então por que tal denominação?
Como alguém que consegue fazer uma graduação e mestrado em universidade pública, enfrentando dificuldades e pessimismos alheios, pode ser chamada de inválida? Como uma pessoa que, muitas vezes doa a si mesmo para ajudar os mais próximos, num altruísmo que às vezes não entendo, mas respeito, pode ser tachada de inválida?
Cheguei à conclusão de que a invalidez está no preconceito ou mente limitada de alguns, e na fraqueza de outros tantos, que desistem diante do primeiro obstáculo, da primeira pedra em seu caminho. Concordo que o meu amigo tem certa limitação, mas daí a chamá-lo de inválido já é uma insanidade. A invalidez está na nossa fraqueza de espírito, na falta de fé em nós mesmos, isto sim, nos tornam seres inertes, perdidos no vácuo da curta existência terrena.
Caro amigo leitor, este texto foi escrito com a intenção de levar a uma reavaliação da impressão que temos das pessoas. As aparências realmente enganam, e cuidado, não julguem a capacidade de alguém sem a conhecê-la de verdade.
O personagem “inválido” deste texto atualmente é professor concursado de uma universidade pública. Ah! Esqueci de contar um pequeno detalhe: ele perdeu completamente a visão desde os oito anos de idade.
Ilton Soares (iltonet@yahoo.com.br)
Foto ilustrativa: internet
Crônica também publicada no Goto Seco (link ao lado)
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