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"Engolimos de uma vez a mentira que nos adula e bebemos gota a gota a verdade que nos amarga." Denis Diderot

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Palavra de menino

“Ai, que saudades que eu tenho
Dos meus doze anos
Que saudade ingrata.”
(Doze Anos – Chico Buarque)
Diário de bicicleta

Eu era ainda um guri quando ganhei a minha primeira bicicleta. Uma Monareta, verdinha, até me lembro a cor, sensação daquele início de década de 1970, que nem era totalmente para criança nem para adulto. Ficava no intermediário. Com ela eu aprendi a pedalar. Um dia, passeando próximo à usina, sofri um acidente num barranco. Fiquei meio desgostoso com ela. Mais tarde “botei pra frente” aquele lançamento da Monark. Outras vieram depois, nunca uma Caloi, a Monark era o meu Chevrolet. E daquela primeira nunca me esqueci. Foi assim com vários objetos que conquistei ao longo da vida. Instrumentos musicais, por exemplo, tenho até hoje o meu velho violão.
Minha primeira guitarra eu “apanhei” sabe de quem?! Do amigo Gláucio Tavares. Houve um tempo em que, aos domingos, eu costumava ensaiar com uns amigos da banda Alma de Borracha. No final, corríamos para a mercearia de Dudu, para tomar umas. Sabendo ele das nossas inclinações musicais, e querendo, claro, nos prender por mais tempo ali, ia buscar a guitarra do seu filho Gláucio, ligava na caixa amplificada e deixava o som por nossa conta. Fui me apegando àquela Giannini a ponto de lhe propor uma troca. Eu havia adquirido um violão de doze cordas que estava me dando muito trabalho. Se as seis cordas já complicam, imagine doze. E o Gláucio acabou se interessando pelo instrumento. Fizemos então a transação. Passei pouco tempo com aquela guitarra, pois a deixei nas mãos de um colega de banda, para ele desenvolver melhor os seus exercícios de músico. Deu certo, hoje ele é um dos melhores. É que eu tenho mesmo um coração de Madre Teresa, apesar de às vezes parecer de leão. Depois passei a guitarra adiante. Hoje tenho apenas o velho violão. E nenhuma bicicleta.
Mas todo esse lero-lero foi só para mostrar que me apego muito a certas coisas e a algumas figuras. Outras não. Como todo mundo. Mas quase sempre é assim. E faço questão de ficar do lado de quem compõe a minha história. O resto são detalhes...

Texto e foto de Gláucio: Eliel Silva
Demais fotografias: internet

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