“Ao pé de uma praça
Chamada alegria
Havia uma rua
Que responderia
O porquê dessa chuva
Sem filosofia,
A grande verdade
É que a chuva chovia.”
(Loa de Lisboa – Alceu Valença)
CANTANDO NA CHUVA
Dr. Paulo Roberto Gomes de França
(colaborador)
Tenho a estranha mania de comprar filmes em DVD e só assisti-los muito tempo depois. Pois bem, vasculhando esses arquivos inéditos para mim, achei o clássico do cinema, cujo título dá nome a esta escrita. Caro Leitor, mesmo com as técnicas da época, a produção é muito boa e, apesar do enredo açucarado, os grandes atores dão um show de sapateado. Recomendo. Sou adepto de curtir chuva, mesmo que de longe. A chuva tem um “quê” de especial que me seduz. A cena do referido filme em que o protagonista sai cantando e dançando debaixo de um temporal só porque teve um sinal positivo de que conquistara o coração da mocinha é simplesmente antológica. Diante disto tudo lá foi este escriba viajando no tempo e no pensamento e relembrando uma cena vivida em 1984. Estava apaixonado e namorando uma menina diferente de mim nas idéias que eu tinha um pouco conservadoras. Leia-se e entenda-se aqui como conservador uma cara de vinte e poucos anos que já pensava ter quarenta e acreditava que esta dita idade do lobo era só de caretice. (hoje, com mais de quarenta as vezes me sinto o menino que não fui naqueles vinte e poucos). Ela, a menina, que me apaixonara vivia importunando com minhas roupas de homem casado. Pedia que vestisse algo mais “transado”. Ai, diante daqueles apelos e seguindo o instinto dos que amam, lá fui eu para boutique de Salete Moreira e comprei as tais roupas mais modernas. Era uma calça de tecido meio mole e camisa de gola diferente e um tênis legal. Tudo em tonalidade azul. Tava bem transado. Uma curtição, segundo os termos da época ditos da boca da amada. Fiquei feliz por ela. Estava pronto esperando para que em recompensa, aquele meu vestuário fosse devidamente amassado no portão, mas eis que ao pressentir uma forte chuva se aproximava, ela me puxou pelo braço a ficamos no meio da rua deserta, abraçados, esperando o temporal nos deixar totalmente molhados. Quis até fugir daquela situação para mim constrangedora, mas já que havia atendido a mudança de hábito, por que não se render também aquela loucura molhada. Foi ótimo e inesquecível. Nós ali molhados, sozinhos. Lembro de um carro que passou ao nosso lado bem devagar. O motorista parecia nos observar e, se não fosse um romântico, deveria pensar que éramos dois doidos. Talvez fossemos. Não lembro como cheguei em casa e que desculpa inventei como também se peguei uma gripe. Só sei que foi inesquecível. Senti-me o Gene Kelly do filme que só agora vi. Coisas daquela juventude ainda com requintes da pureza que os jovens de hoje não cultivam mais. Ouvíamos Paula Toller e o Kid Abelha cantar “Como Eu Quero’ que diz o oposto do que eu estava vivendo afinal eu havia tirado as roupas sérias. Coisas daquela juventude sem requintes das malícias de agora. São lembranças recheadas de simplicidade de um coroa que hoje pensa em tomar outro banho de chuva ao lado dos filhos e da amada. A mesma daquele dia distante de um janeiro de 84, a mesma daquela rua ,a quem agora chamo de mulher. Leitor amigo, diante dessas loucuras atuais, experimente um belo banho de chuva , se não for possível, convide sua amada(o) para ver o filme que me inspirou aqui. Se não fizer uma coisa nem outra, pelo menos encontre tempo para ouvir Alceu Valença cantando “Loa de Lisboa’. Tudo a ver com chuva. Um barato, como se dizia em 1984.
Foto: internet
2 comentários:
Esse clássico do cinema me lembro que assisti ainda pequeno, em uma das madrugadas que acordei sem sono e liguei a TV para assistir ao Corujão. Lembro-me que o filme me prendeu bastante a atenção e que só consegui dormir de novo quando terminou.
Hoje não me lembro muita coisa dele, a não ser a antológica cena do "artista" agarrado num poste Cantando na Chuva!
Vou seguir a recomendação do Dr. Paulo e tentar ver mais uma vez essa obra-prima.
Além do ótimo texto, uma boa dica aos cinéfilos de plantão. Valeu, Dr.Paulo.
Edvaldo Morais.
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