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"Engolimos de uma vez a mentira que nos adula e bebemos gota a gota a verdade que nos amarga." Denis Diderot

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Diário de bordo

“Há muitos planetas habitados
E o vazio da imensidão do céu
Bem e mal e boca e mel
E essa voz que Deus me deu
Mas nada é igual a ela e eu.”
(Ela e Eu – Caetano Veloso)
Ela e eu

Ora, há bastante tempo eu não tomava um vinho. Mas esse domingo era especial. Dia dos Pais. E eu que também há muito tempo não tinha um final de semana vadio – no bom sentido, claro –, quis festejar do meu jeito essa doce sensação de abandono. E começou com a atualização do blog. Depois o abraço dos filhos, enquanto ouvia pelo rádio aquelas canções do Roberto. Mas eu queria mais. E assim, quis beber. Depois de conversar com um amigo que esteve de passagem por aqui, então fui ver meu velho pai. Sem presentes pra lhe oferecer, o que, no seu momento atual não faz nenhuma diferença, o presenteei com a minha presença. De quebra, aproveitei a hora oportuna e lhe dei o seu costumeiro banho, coisa que também eu não lhe proporcionava há algum tempo, quando uma pessoa próxima se encarregou dessa tarefa. Tem sido assim desde aquela sua fratura de fêmur.
Mas de volta pra casa eu também quis agradar a família e levei um frango assado (e cheio de colesterol!). A meninada fez a festa. Peguei um litro de vinho como quem abraça um troféu. Fui pro meu quintal, passei a tarde por lá. Sozinho. “A solidão também é uma morada”, já dizia Exupéry. Botei pra tocar alguns discos clássicos da MPB. Viajei explorando aqueles lançamentos de 1979. Belchior, Fagner, Zé Ramalho, Chico... Evitei tocar Roberto. Aquele seu disco de 79 é muito forte. Tem Desabafo; Abandono; Meu Querido, Meu Velho, Meu Amigo... E por ai vai. Passei assim toda a tarde. O silêncio na vizinhança estava excelente, um convite à meditação. Até que observei uma borboleta, também solitária, que voava por todo o quintal. Vendo aquele ser tão pequeno, tão frágil e tão belo tecendo um caminho imaginário, não é que me bateu uma esperança danada! Pois é. Uma esperança de uma nova manhã. Pode ter sido um sonho apenas, mas nada era igual a ela e eu, ali tão a sós e ainda assim confiantes no futuro.

Texto e foto: Eliel Silva

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