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"Engolimos de uma vez a mentira que nos adula e bebemos gota a gota a verdade que nos amarga." Denis Diderot

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Nossa homenagem

Nos 152 anos de emancipação política da cidade de Ceará-Mirim, a nossa homenagem nesse belíssimo texto da professora Francisca Lopes e na poesia singela da poetisa Anete Varela. Parabéns a todos nós!

CEARÁ-MIRIM, CIDADE ACOLHEDORA

O que se pode dizer sobre uma cidade depois de – vinte e três anos – ter sido acolhida por ela? Isto é um grande desafio. Compete, neste momento inicial, rememorar uma manhã chuvosa do mês de julho de 1987. O primeiro desembarque. Rodoviária da Cidade do Sol. Este, porém, decidiu brincar de esconde-esconde. Não apareceu. Fazia frio. Muito frio. Eu e as crianças atravessamos o saguão da rodoviária em Natal, rumo a plataforma nº 1 onde deveríamos esperar o transporte que nos levaria ao nosso destino. Coube a empresa de transportes “Unidos” nos conduzir, pela primeira vez, até a encantadora Ceará-Mirim. Da janela do ônibus pude contemplar e aplaudir, durante todo o percurso da estrada, pela primeira vez, os canaviais que dançavam sob a chuva numa postura elegante e majestosa quais bailarinos ao executar a famosa peça: “A dança dos Cisnes”. Foram eles que algum tempo depois inspiraram-me a escrever o poema “Os Canaviais”.
Apesar das gotas d’água que bordavam os vidros das janelas, ao adentrar na cidade, meus olhos pousaram sobre a copa das árvores, tão bem podadas que pareciam seres caprichosamente organizados para vigiar o município a exemplo dos guardas de palácio imperial. Estáticas. Mas, atentas. Lia-se, em cada uma delas: imponência e decisão.
Sentada nas primeiras poltronas de passageiros, tanto eu quanto meus filhos vislumbramos ao longe, num instante mágico e sedutor, um verde e aveludado tapete, até onde a vista podia alcançar. Aí, minha mente absorvia e contemplava euforicamente o VALE. E, novamente, feito criança ao entoar os parabéns numa festa de aniversário, ressoou em meus ouvidos novos aplausos. Muito mais que uma obra de arte estava lá.
Divino, Pintura natural. Suprarreal que o tempo nem o homem, ainda, não conseguiram apagar. Continua enchendo os olhos de muitos até hoje.
Para deliciar-se com essa paisagem, não precisa de muito. Um dos pontos estratégicos para tal vislumbre é a calçada da Igreja Matriz que qual mirante o expande na amplidão do espaço revestido de toda beleza que converge para a criação divina, simbolizando a própria fertilidade do solo local.
Não vi o sol nascer por mais dois dias seguidos. Foi um período de antítese em que o sol abrasador da minha terra se unia ao mesmo tempo com um frio estranho à minha pele acostumada ao calor de Mossoró.
Todavia, se fez dia quando parecia ser noite e, verão mesmo sabendo ser inverno. Por quê? Simples. Foi amor a primeira vista, este comprovado pelos anos de permanência aqui, neste solo abençoado, onde se aplaude a Virgem Santa nos dias de festa a ela dedicados.
O nascimento da minha filha caçula, aqui, tornou mais forte este elo de amor. E, vibramos juntas numa celebração materno-filial. Enquanto comemorávamos a chegada da cearamirinense na família ecoavam no céu a explosão dos fogos de artifícios nos festejos à Virgem da Conceição.
Estes são alguns motivos, dentre tantos outros, que me induz a aplaudir solenemente Ceará-Mirim, em especial nesta data do seu 152º aniversário de emancipação política.
Francisca Maria Bezerra Lopes
Professora

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CEARÁ-MIRIM
Memórias de Edgar Varela

Ceará-Mirim tem um vale
tão verde e grande, sem fim!
As pracinhas tão bonitas
e bem cuidadas. Enfim,

a Igreja majestosa
contempla o vale infinito!
Os jardins cheios de rosas
não sei qual o mais bonito!

Foi dona de três usinas,
vários engenhos bangüês.
Ah, se o passado voltasse
a ser presente outra vez!

Dentre eles o Diamante,
o engenho da saudade.
Lá eu passei minha infância
e parte da mocidade.

Tempo bom, feliz, amigo,
de grata recordação.
Lá, num cantinho, escondido,
eu deixei meu coração!

Amo tanto a minha terra,
mas nela não tive sorte;
minha terra é a mais bonita
do Rio Grande do Norte!

Senhora da Conceição,
nossa excelsa Padroeira,
lembrai também que sou filha
desta terra brasileira!

Anete Varela
Outubro de 1983

Fotos: arquivo do R&C

Um comentário:

Unknown disse...

Grande Eliel, não seria: “lembranças de Anete Varela”, a grande poetisa? Que muitas vezes com a sua flanela nos aqueceu da frieza da vida, abrindo o coração e os livros da nossa amada biblioteca, tão ovacionada no passado, e hoje tão lacônica, carente de livros e de amor, pelo o seu povo e governantes.

Crésio Torres