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"Engolimos de uma vez a mentira que nos adula e bebemos gota a gota a verdade que nos amarga." Denis Diderot

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Geléia geral

“Sua ilusão entra em campo no estádio vazio
Uma torcida de sonhos aplaude talvez...”
(Balada Nº 7 – Moacyr Franco)


Os jogos da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 2006 e o vendedor de geléia

Um fato que muito me intrigou naquela fracassada conquista para nós brasileiros, na Copa do Mundo de 2006, não foi nem mesmo a derrota da nossa Seleção para a França e conseqüentemente a volta pra casa sem o tão sonhado título. Isso acontece mesmo no mundo das competições. Ainda mais quando se joga com aquela disposição como foi o caso dos nossos “craques” naquele mundial. Outra coisa me deixava inquieto e curioso por aqueles dias. Era que, em pleno horário de jogo da Seleção Brasileira, enquanto a maioria dos meus compatriotas estava com a atenção voltada para o desenrolar dos fatos naqueles noventa minutos, todo mundo ligado na TV, eis que na minha rua, a Rio Água Azul, bem próximo a estação do trem, passava gritando um rapaz, vendedor de geléia. Era sempre alto e em bom som: “Geléééééééé!” E aquilo me deixava curioso. Será que esse cara não é brasileiro? Seria ele um argentino tentando ganhar a vida de qualquer jeito por aqui? Não sei. O que sei mesmo é que todo santo dia, àquela mesma hora, o nobre vendedor passava na minha rua à gritar: “Gelééééééeé!” Nunca vi tamanha precisão com relação ao horário. Alheio àquela competição, talvez competisse consigo mesmo. Com certeza, com mulher e filhos sob sua responsabilidade, não pudesse se dar ao luxo de parar suas atividades para assistir aos jogos de uma Seleção que estava fadada a voltar mais cedo pra casa.

O resultado daqueles jogos todos nós sabemos. Hoje eu até já aceito aquele insucesso. Quase já nem lembro da cena de Roberto Carlos arrumando o meião enquanto a França avançava e eliminava a nossa Seleção. O tempo se encarrega de apagar (ou pelo menos amenizar) essas lembranças. Mas uma coisa ainda me intriga. É que aquele rapaz do “gelé” desapareceu. Espero que tenha conquistado algo melhor em sua vida. Ele merecia, pois talvez tenha sido uma das únicas pessoas naquele momento a acreditar no seu trabalho, talvez até por necessidade, mas acreditou.
Nesse mundial eu também não estou na mesma rua. Me mudei. Estou agora na Dr. Virgílio Inácio Bandeira (rua de bastante barulho, por sinal). Por aqui costumam passar também alguns vendedores (e como): tem a jovem senhora da tapioca, o senhor do grude, tem o carro da macaxeira, um outro senhor que eu não entendo bulhufas do que ele diz (nunca me arrisquei a comprar o seu produto por não saber o que é, sei que é conduzido num carro de mão e coberto), e outros mais. Tem de tudo. Quero ver nos dias de jogos da nossa Seleção. Espero que todos eles estejam mais esperançosos que o misterioso da geléia. Espero também que Dunga, a exemplo daquele seu xará da estória infantil, quando com seus companheiros vier a cantar aquela musiquinha: “Eu vou, eu vou, pra casa agora eu vou...”, que seja com mais um título para o nosso país, pra alegria  dessa brava gente brasileira. Afinal, somos todos competidores. Vendedores de sonhos e de ilusões. Pra frente Brasil!
Eliel Silva
Crédito das ilustrações: internet

3 comentários:

adrianoisrael disse...

Pois é, Eliel! Que mistério é a Copa do Mundo de futebol no Brasil. Como que por magia, o país simplesmente pára para assistir aos jogos da seleção "canarinho". Bem que essa mesma motivação poderia ser utilizada para fins de exigir os direitos tão prometidos pelos poderes públicos.

Não sei se é porque estou sem tempo de acompanhar toda preparação para esse "mês de festa" ou porque já se passou o tempo em que me preocupava com resultados de jogos de futebol (afinal, me convenci de que realmente não ganho nada com as vitórias e também não perco com as derrotas)

Mas é isso mesmo! Que bom que de 4 em 4 anos, ao menos, o país enfim se une em prol de um único objetivo: continuarmos sendo a hegemonia do futebol mundial e a única seleção a participar de todas as Copas do Mundo (pelo menos até 2014)

Vamos lá, Brasil! Só faltam 7 jogos!!! >D

ELIEL SILVA disse...

Valeu, Adriano! Gostei das suas considerações. Obrigado pelo comentário e pelo acesso ao blog que eu pensei não haver tempo nem disponibilidade em você para fazê-lo. Fiquei surpreso. E feliz também!
Abraços!

Anônimo disse...

É meu amigo, o sonho acabou antes do esperado. Precisamos voltar a realidade. E o Dunga e seus comandados voltaram para casa cantando aquela musiquinha, eu vou, eu vou, pra casa agora eu vou, sem o título do exa tão esperado por milhões de brasileiros. Feliz aquele vendedor de gelé, pois indiferente a tudo continuava sua vida com a rotina que lhe era peculiar, que aprendamos dignamente com o mesmo o real significado da valorização da vida.
Um braço do amigo de sempre Moacir.